Um dos personagens mais enigmáticos da teledramaturgia brasileira surgiu discretamente na novela “A Viagem”, exibida originalmente em 1994. Sem dizer uma só palavra, com o rosto coberto por uma máscara branca e os gestos delicados de um artista, o personagem conhecido como Mascarado mexeu com o imaginário dos telespectadores.
Apesar de seu papel silencioso, ele teve uma função simbólica e emocional importante na narrativa espiritualista. Décadas depois, o público ainda se pergunta: quem era o Mascarado e o que aconteceu com o ator que o interpretou?
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O sucesso da novela “A Viagem”
A novela “A Viagem” foi uma adaptação da obra de mesmo nome escrita por Ivani Ribeiro, que tratava de temas como reencarnação, justiça espiritual e o plano astral. Produzida pela TV Globo, a novela conquistou altos índices de audiência e se tornou um marco por sua abordagem espiritualista, até então pouco comum em novelas de grande alcance.
Entre seus personagens principais estavam Alexandre (Guilherme Fontes), o espírito vingativo que atormentava os vivos após sua morte, e o Mascarado — um personagem que, apesar de coadjuvante, se tornou ícone da trama.
Quem era o Mascarado?
Um personagem que falava com os gestos
Na novela, o personagem aparece em silêncio, sempre com uma máscara branca cobrindo o rosto. Ele se comunica exclusivamente por meio de gestos, em estilo mímico, o que aguça a curiosidade do público e o torna um símbolo de mistério e humanidade.
Ao longo da trama, o público descobre que o nome do personagem é Adonay. Ele vive um drama pessoal após ter sofrido um acidente grave que desfigurou seu rosto. Movido pelo desejo de reencontrar seu grande amor do passado, Carmen, ele retorna usando a máscara como forma de proteção emocional e física.
A história de Adonay e Carmen
Adonay foi, no passado, noivo de Carmen (Suzy Rêgo), mas um acidente de carro o afasta de tudo. Desfigurado e traumatizado, ele decide se esconder atrás da máscara e se comunicar por gestos, temendo o preconceito e o impacto de seu novo rosto.
Aos poucos, o público acompanha seu reencontro com Carmen e o processo de reconstrução emocional dos dois. A sensibilidade do personagem, mesmo sem palavras, emocionou os telespectadores e tornou sua presença marcante na narrativa.
Breno Moroni: o ator por trás da máscara
Formação e trajetória artística
O responsável por dar vida ao Mascarado foi o ator e mímico Breno Moroni, nascido no Rio de Janeiro. Com uma carreira ligada às artes cênicas e ao teatro gestual, Breno tem formação internacional — estudou teatro e técnicas de mímica na Inglaterra e na França.
Sua atuação como Adonay foi marcada justamente pelo domínio da linguagem corporal, que exigia expressar emoções intensas sem recorrer à fala. A performance foi elogiada tanto por críticos quanto pelo público, que o enxergava como uma figura angelical, quase espiritual.
Outras participações na TV e no teatro

Embora o papel em “A Viagem” tenha sido seu mais lembrado, Breno Moroni participou de outras produções na televisão, como “Kubanacan”, “O Clone” e “Vira-Lata”. Também teve passagem pelo cinema e sempre manteve vínculos fortes com o teatro, especialmente com espetáculos voltados à linguagem gestual e circense.
Moroni também atuou como professor e diretor de peças voltadas ao público infantil e a projetos culturais com viés educativo.
Por onde anda o ator hoje?
Nova fase de vida no Mato Grosso do Sul
Atualmente, Breno Moroni está com 71 anos e vive em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Distante da grande mídia, o ator optou por uma vida mais reservada, mas segue ativo no meio artístico.
Ele tem trabalhado em projetos teatrais locais e participou recentemente da produção de um filme rodado na região. Também integrou o elenco de um documentário ao lado de artistas indígenas, mostrando seu compromisso com a valorização da arte e da cultura regional.
Participação em documentários e novas obras
Além de continuar envolvido com o teatro e o audiovisual, Moroni também tem se engajado em atividades que unem arte e educação. Sua figura é respeitada em círculos culturais do estado, onde ele compartilha seu conhecimento com jovens atores e artistas.
Apesar de manter-se longe das grandes produções da TV, sua contribuição artística é reconhecida e celebrada por aqueles que acompanharam seu trabalho.
O impacto do personagem Mascarado
Um símbolo de sensibilidade e aceitação
O personagem Adonay não apenas cumpriu uma função dramática dentro da novela, mas também representou uma metáfora sobre aceitação, superação de traumas e amor incondicional. Sua jornada tocou o público e contribuiu para ampliar discussões sobre deficiência, estética e a verdadeira beleza interior.
Na época da exibição da novela, muitos telespectadores enviaram cartas e mensagens para a emissora elogiando o personagem e o trabalho de Breno Moroni. A abordagem silenciosa, mas expressiva, conquistou especialmente crianças e pessoas com deficiência auditiva, que se viam representadas naquela linguagem visual tão única.
Presença nas reprises
“A Viagem” foi reprisada diversas vezes na televisão brasileira, especialmente no canal Viva, reacendendo a memória afetiva do público com a figura do Mascarado. A cada reprise, novos fãs se somam aos antigos, mantendo o personagem vivo na cultura popular brasileira.
O personagem também se tornou tema de memes, fan arts e homenagens nas redes sociais, especialmente entre os entusiastas das novelas clássicas dos anos 90.
Curiosidades sobre Breno Moroni e o personagem
Uma máscara que marcou época
A máscara branca usada por Adonay se tornou um símbolo tão forte que até hoje é associada à novela. Ela simboliza não apenas o segredo do personagem, mas também sua fragilidade, pureza e desejo de aceitação.
Breno Moroni como mímico profissional
Antes mesmo de atuar em “A Viagem”, Moroni já era um mímico respeitado. Ele chegou a se apresentar em diversos países e trouxe essa experiência internacional para o personagem, elevando o nível de expressão corporal exigido pelo papel.
Envolvimento com comunidades locais
Após se mudar para o Mato Grosso do Sul, Moroni passou a atuar em projetos com populações ribeirinhas e indígenas. Seu envolvimento em documentários com foco social é uma das formas que encontrou de continuar impactando positivamente através da arte.
Considerações finais
O Mascarado de “A Viagem” é um dos personagens mais lembrados da teledramaturgia brasileira não por suas falas, mas pelo silêncio eloquente que emocionou o público. Interpretado com maestria por Breno Moroni, Adonay se transformou em símbolo de superação, amor e sensibilidade.
Hoje, o ator segue sua jornada artística longe dos holofotes, mas com a mesma dedicação à arte que encantou o país nos anos 90. E para quem assistiu à novela, o Mascarado permanecerá sempre como um dos rostos mais inesquecíveis — mesmo coberto por uma máscara.