Marcelo Bahia Odebrecht é um dos nomes mais emblemáticos da história recente do Brasil. Por anos, comandou um dos maiores conglomerados de engenharia e construção da América Latina e se tornou símbolo de eficiência empresarial. No entanto, sua história também se entrelaça com escândalos de corrupção que chocaram o país e impactaram profundamente o setor privado nacional.
Neste artigo, você conhecerá os marcos da trajetória de Marcelo Odebrecht: da ascensão como CEO da Odebrecht à prisão na Operação Lava Jato, e o legado ambíguo de um empresário que viveu os extremos do poder e da queda.
Leia Mais:
Quem tem direito à gratuidade no transporte público e como solicitar o benefício
Herdeiro de um império empresarial
As origens familiares e a influência do pai
Marcelo é filho de Emílio Odebrecht, neto de Norberto Odebrecht, fundador do grupo que leva o nome da família. Nascido em Salvador, em 1968, Marcelo cresceu cercado pelo ambiente corporativo. Desde jovem, foi preparado para liderar o império da construção civil que se tornaria sinônimo de expansão global e obras monumentais.
Formação e início de carreira
Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Marcelo ingressou na Odebrecht nos anos 1990. Demonstrou agilidade estratégica, domínio técnico e carisma para liderar equipes, ascendendo rapidamente até assumir a presidência do grupo em 2008.
A ascensão de Marcelo na Odebrecht
Transformando a Odebrecht em potência mundial
Sob seu comando, o grupo Odebrecht atingiu seu auge. Com presença em mais de 20 países, 180 mil funcionários e contratos bilionários com governos e empresas privadas, a companhia passou a atuar não só em engenharia, mas também em setores como petroquímica, saneamento, energia e defesa.
Destaques de grandes obras
Durante sua gestão, a Odebrecht participou de obras icônicas, como a hidrelétrica de Belo Monte, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), o Porto de Mariel em Cuba, e infraestruturas ligadas à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016. A empresa tornou-se um símbolo da engenharia brasileira no mundo.
Modelo de gestão e cultura empresarial
Marcelo também fortaleceu o chamado “jeito Odebrecht de ser”, baseado na descentralização de decisões e forte valorização da meritocracia. Por muito tempo, o grupo foi considerado exemplo de governança empresarial e excelência em execução.
O colapso: prisão e denúncias da Lava Jato

O início da queda
Em 2015, Marcelo Odebrecht foi preso pela Polícia Federal na 14ª fase da Operação Lava Jato, acusado de comandar um dos maiores esquemas de corrupção e pagamento de propinas da história do país. A prisão causou abalo sísmico no meio empresarial, político e jurídico.
As acusações contra Marcelo
Ele foi acusado de liderar um complexo sistema de pagamento de propinas a políticos e executivos de estatais em troca de contratos públicos bilionários, especialmente com a Petrobras. Documentos revelaram planilhas codificadas, contas no exterior e uma estrutura profissionalizada para disfarçar os repasses ilegais.
Delação premiada e revelações bombásticas
Em 2016, Marcelo aceitou um acordo de delação premiada. Seu depoimento detalhou a participação de dezenas de políticos e empresas no esquema. A colaboração ajudou a esclarecer os mecanismos da corrupção sistêmica que envolvia o setor público e privado.
Condenação e prisão domiciliar
Marcelo foi condenado a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em 2017, teve a pena reduzida após acordo e passou a cumprir prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.
Impacto na Odebrecht e no Brasil
Colapso do grupo
A prisão do herdeiro e as revelações da Lava Jato mergulharam a Odebrecht em uma crise profunda. Contratos foram cancelados, a imagem institucional foi destruída e o grupo entrou em recuperação judicial em 2019, com dívidas superiores a R$ 98 bilhões.
Impacto na economia e no setor de engenharia
A queda da Odebrecht teve efeitos colaterais devastadores. Dezenas de milhares de demissões, paralisação de obras estratégicas e perda de confiança no setor de infraestrutura. O episódio também trouxe reflexões sobre o papel da governança corporativa e a ética empresarial.
A desconstrução de um símbolo
O nome Odebrecht, que por décadas foi associado à excelência em engenharia, tornou-se símbolo da corrupção sistêmica. Mesmo após a mudança de nome do grupo para Novonor, o estigma permanece e a recuperação da reputação ainda é um desafio em curso.
A transformação de Marcelo Odebrecht
Isolamento familiar e conflitos internos
Desde que firmou o acordo de delação, Marcelo entrou em conflito com o próprio pai, Emílio Odebrecht, e outros membros da família. As divergências públicas escancararam a ruptura interna entre os fundadores e os novos líderes. Marcelo se afastou das decisões da empresa e passou a viver em reclusão, evitando aparições públicas.
Reflexões e recomeço
Durante o cumprimento da pena domiciliar, Marcelo passou a escrever textos e manifestar arrependimentos pontuais. Ainda que sem atuação direta, mantém alguma influência em círculos empresariais e jurídicos, especialmente por seu conhecimento sobre os bastidores da relação entre o setor privado e o Estado.
Papel histórico como delator e protagonista
Mesmo tendo sido condenado, Marcelo Odebrecht é considerado uma figura-chave para o avanço das investigações da Lava Jato. Sua delação ajudou a desestruturar redes criminosas e a iniciar um debate profundo sobre integridade corporativa e compliance no Brasil.
O legado controverso de um líder
A dualidade de sua imagem
O legado de Marcelo é marcado por contrastes. Por um lado, foi um gestor visionário que levou a Odebrecht a patamares globais. Por outro, esteve no centro de um escândalo que revelou as fragilidades morais e institucionais do capitalismo de compadrio no Brasil.
A lição para futuras gerações de empresários
A história de Marcelo Odebrecht mostra que resultados impressionantes não podem ser desvinculados de ética e transparência. A nova geração de líderes empresariais tem buscado incorporar modelos mais sustentáveis de gestão, pautados pela responsabilidade social e pelo respeito às leis.
Repercussão internacional
A prisão e delação de Marcelo repercutiram em diversos países da América Latina e da África, onde a Odebrecht também mantinha negócios. Em muitos desses países, o escândalo impulsionou reformas anticorrupção e prisões de líderes políticos.
Considerações finais: entre o topo e o fundo, um nome que marcou a história
Marcelo Odebrecht simboliza uma era do Brasil: de crescimento econômico acelerado, obras faraônicas e relações promíscuas entre empresários e o poder público. Sua ascensão meteórica e queda igualmente dramática mostram como o sucesso empresarial sem limites éticos pode ter consequências irreversíveis.
Seu legado não é simples de classificar. Ao mesmo tempo em que contribuiu para o desenvolvimento de infraestrutura no Brasil e no exterior, também revelou a vulnerabilidade do sistema à corrupção institucionalizada.
A história de Marcelo é, acima de tudo, um alerta. Para que o Brasil avance rumo a um ambiente de negócios mais transparente, é necessário aprender com os erros do passado, construir bases sólidas de governança e garantir que o poder seja exercido com responsabilidade, mesmo no topo do mundo corporativo.













