Adriano de Souza é um verdadeiro ícone do esporte brasileiro. Campeão mundial de surf em 2015, o paulista que viveu em sua infância na favela de Santo Antonio, Guarujá, foi mais um dos grandes nomes do esporte nacional a escrever sobre sua vida no site “The Players Tribune” – Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho são exemplos.
Ah, talvez Adriano de Souza seja formal demais para o seguimento da matéria. Apresento-lhes, então, Mineirinho, uma das lendas brasileiras no mar.
Enquanto criança, o caminho de Mineirinho sempre passou muito longe do mar, apesar de morar no Guarujá (litoral de São Paulo). Tendo crescido sem ver a imensidão azul que estava a alguns quilômetros de sua casa, o surfista estava acostumado a outro cenário: o de crianças se entregando ao mundo do crime e da violência. Mas talvez a experiência mais marcante e dolorosa tenha acontecido dentro de seu lar.
“Mamãe tinha depressão. Quatro meses depois que eu nasci, ela aparentemente colocou fogo na casa e saiu… enquanto eu ainda estava dentro de casa. Foi um vizinho que salvou a minha vida”, comentou o surfista.
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Foto: GQ / Reprodução
O começo da mudança
O panorama turbulento da vida de Adriano começou a mudar graças à influência de seu irmão mais velho, Angelo, que o incentivou a entrar no esporte. A prancha na mão e as ondas no mar eram armas mais poderosas do que qualquer uma de fogo para que ele construísse seu futuro.
“Num fim de semana, a curiosidade pegou o melhor de mim. De casa, eu vi enquanto ele (Angelo) pegava sua prancha, subia na bicicleta e pedalava junto com seus amigos. Então, eu corri para fora para segui-lo. Eu nem mesmo consigo me lembrar das ruas porque eu estava muito assustado com a possibilidade de ele me ver. Eu mantinha distância, me escondendo atrás das árvores e da sinalização da estrada. Eu segui Angelo por 40 minutos, e não fazia ideia de onde estávamos indo, ou onde nós iríamos parar. E então eu vi. A estrada começou a quebrar e se abrir. Além do fim, eu pude ver as águas e as ondas colidindo ao longo da costa – e o mundo parecia se esticar para sempre”, relatou Mineirinho.
Conhecer o mar foi uma sensação mágica para o garoto humilde, que soube naquele instante que seu lugar era nas águas: “Não existe muita expectativa de vida dentro da favela. E nem muita felicidade, também. […] A felicidade parecia tão distante das favelas. Eu precisava saber onde encontrá-la. […] Não era da favela que queria escapar. Minha casa não era o lugar mais feliz, também”, escreveu.
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Foto: G1
A dor de estar em casa
Talvez nada tenha sido tão difícil quando encarar a própria realidade de frente. Ficar em casa exigia força e coragem para Adriano. A depressão da mãe, com ela chorando por dias e sem ter vontade de sair da cama mexeram profundamente com a cabeça do menino, que viu nas águas um refúgio para, pelo menos por instantes, esquecer os seus problemas.
“Nós nunca falamos sobre a depressão dela quando eu era pequeno, então eu não entendia muito bem o que estava acontecendo além do fato do meu pai ter que largar o emprego para cuidar dela o tempo inteiro. Ele abriu um barzinho em frente da nossa casa – onde ele somente vendia bebidas e outras coisas. Isso deixava ele perto de casa, mas não trazia dinheiro suficiente. Então, quando Angelo completou 18 anos, ele arrumou um emprego no exército como segurança nas docas como forma de ajudar a família. Eles gostavam dele na base militar porque ele era forte e tinha um corpo todo definido por causa de todo o surfe que ele tinha praticado”, lembrou o esportista.
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Foto: Ig Esporte
O recomeço moldado pelo surf
Dentre tantas memórias inesquecíveis, das mais tristes as mais felizes, não poderia faltar a da compra de sua primeira prancha, que foi dada de presente por Angelo e custou R$ 30. Os anos de ida à praia o motivaram a se tornar um profissional, tamanha a sua paixão por surfar. Determinado, Mineirinho se tornou um dos grandes nomes do esporte nacional ao ser o primeiro atleta brasileiro a liderar o ranking mundial da elite. E em 2015, veio a consagração maior: o título mundial da categoria mais alta de seus esporte.
Contudo, mais do que se considerar um herói do esporte, Adriano de Souza preferiu, em seu texto, enfatizar aqueles que foram os heróis de sua trajetória: “Conheço a bravura. Pois vi em meu pai, quando ele largou o trabalho para cuidar da minha mãe. Vi em minha mãe, que lutava contra uma tristeza diária que ninguém conseguiria entender. Vi isso em meu irmão, que virou chefe de família quando ele só tinha 18 anos. Eu queria ser bravo, como eles. Eu queria ser corajoso como eles. No surfe, eu senti que podia encontrar minha própria coragem”, concluiu.


Foto: GQ / Reprodução
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