Brasil terá a maior fazenda de cacau do mundo com investimento bilionário na Bahia
O Brasil mira o topo do setor cacaueiro global
Com um investimento estimado em 300 milhões de dólares, o Brasil avança para se tornar líder na produção mundial de cacau. A iniciativa é liderada pelo empresário Moisés Schmidt e promete instalar a maior fazenda de cacau já registrada no planeta. Localizada na cidade de Riachão das Neves, no oeste baiano, a propriedade será um marco para o agronegócio e coloca o país na rota de protagonismo no mercado de chocolates e derivados.
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Um projeto de proporções inéditas
Área cultivada e tecnologia envolvida
O empreendimento prevê o cultivo de cacau em uma área de 10 mil hectares, o equivalente a cerca de 14 mil campos de futebol. Em comparação com métodos tradicionais, que costumam plantar cerca de 300 árvores por hectare, o projeto inova ao prever até 1.600 mudas por hectare, utilizando tecnologias de ponta em irrigação e cultivo mecanizado.
A densidade elevada e o uso de maquinário especializado prometem otimizar a produtividade e reduzir os custos operacionais, criando um modelo escalável e altamente eficiente.
Biofábrica de mudas e inovação no plantio
Além do campo, o projeto inclui a criação de uma biofábrica com capacidade para gerar até 10 milhões de mudas por ano. O sistema de produção utiliza tecnologia europeia de ponta, que acelera o desenvolvimento das plantas e garante padrão genético uniforme.
Essa estrutura será essencial para suprir as necessidades do plantio e permitir futuras expansões em outras áreas do Brasil.
Oportunidade surge em meio à crise global do cacau
Redução na produção africana
Atualmente, mais de 60% da produção de cacau global vem de países da África Ocidental, como Gana e Costa do Marfim. No entanto, esses países têm enfrentado sucessivos anos de queda na produção, motivada por pragas, envelhecimento das plantações, mudança climática e problemas sociais relacionados ao trabalho no campo.
Essa crise abre uma janela estratégica para outros países assumirem protagonismo no mercado, e o Brasil está pronto para ocupar esse espaço.
Potencial produtivo brasileiro
Estima-se que o Brasil poderia cultivar até 500 mil hectares de cacau de alta produtividade nos próximos dez anos. Isso colocaria o país como um dos principais fornecedores globais, com produção estimada em 1,6 milhão de toneladas por ano, abastecendo tanto o mercado interno quanto grandes indústrias internacionais.
Parcerias com gigantes do setor
Empresas já envolvidas na fase inicial
Grandes multinacionais já demonstraram interesse e participação no projeto. Uma delas é a Cargill, referência no comércio de alimentos, que participa da implantação inicial em 400 hectares.
A Barry Callebaut, gigante suíça do setor de chocolate, também negocia a criação de uma fazenda própria de 5.000 hectares na Bahia, seguindo o mesmo modelo tecnológico.
Testes e apoio técnico de outras companhias
A Mars, fabricante de chocolates como M&M’s e Snickers, mantém um campo experimental na mesma região. A empresa estuda o desempenho do cacau cultivado a céu aberto e considera a região baiana promissora graças ao solo fértil, topografia plana e disponibilidade de água.
Desafios do modelo produtivo

Riscos relacionados à monocultura
Especialistas apontam que a plantação em larga escala de uma única cultura pode aumentar a vulnerabilidade a pragas e doenças. Por isso, o projeto adota mudas híbridas desenvolvidas para resistir a fatores ambientais adversos, com suporte técnico da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
A diversificação genética é uma das estratégias que deve ser adotada para evitar episódios semelhantes à vassoura-de-bruxa, que devastou a cacauicultura baiana nas décadas de 1980 e 1990.
Qualidade do cacau sem sombra
Outra dúvida entre os especialistas é quanto à qualidade do cacau produzido em ambientes abertos, sem o tradicional sombreamento natural. A resposta inicial, no entanto, é positiva: desde que o processo de fermentação e secagem seja corretamente executado, a qualidade dos grãos é comparável à dos melhores do mundo.
Impactos econômicos e sociais
Geração de empregos e renda
O projeto deve criar milhares de oportunidades de trabalho diretas e indiretas, impactando positivamente a economia de Riachão das Neves e municípios vizinhos. As contratações envolvem desde o cultivo até logística, tecnologia agrícola, manutenção e gestão.
Além disso, a estrutura de biofábricas, armazéns e processadores atrai empresas e serviços para a região, movimentando o comércio e contribuindo para a arrecadação fiscal local.
Desenvolvimento regional e educação
Com a instalação da fazenda, há expectativa de investimento em qualificação da mão de obra local, programas sociais, cursos técnicos e parcerias com universidades e centros de pesquisa. A longo prazo, a presença da fazenda pode estimular a criação de polos tecnológicos e agroindustriais voltados para a cacauicultura.
Perspectiva ambiental e de sustentabilidade
Uso responsável dos recursos naturais
A fazenda será instalada em áreas já abertas, com baixo impacto ambiental. O projeto prevê a implantação de sistemas de irrigação por gotejamento e aproveitamento de recursos hídricos locais com responsabilidade.
Além disso, medidas de conservação do solo, rotação de culturas e manejo ecológico de pragas estão sendo considerados para reduzir a pegada ambiental.
Certificações e comércio ético
O cacau produzido será voltado para o mercado premium e deve seguir padrões internacionais de sustentabilidade. O objetivo é obter certificações como Rainforest Alliance e UTZ, que garantem rastreabilidade, boas práticas agrícolas e respeito aos direitos humanos nas fazendas.
A Bahia volta a ser protagonista na produção de cacau
Retomada do protagonismo perdido
Durante décadas, a Bahia foi o maior produtor nacional de cacau, mas perdeu espaço após a crise da vassoura-de-bruxa. Este novo investimento marca um retorno triunfante, agora com tecnologia, controle de qualidade e conexão com grandes indústrias globais.
Referência para o país
O modelo de produção baiano poderá ser replicado em outras regiões brasileiras, especialmente na Amazônia Legal, onde há potencial para o cultivo sustentável de cacau em áreas já degradadas, evitando novos desmatamentos.
Considerações finais
A construção da maior fazenda de cacau do mundo em solo brasileiro é mais do que um marco para a agricultura — é um movimento estratégico que pode alterar o equilíbrio global do setor. Com investimento robusto, parcerias internacionais e um modelo inovador de produção, o Brasil mostra que tem potencial não só para ser competitivo, mas também para liderar.
Se o projeto alcançar os resultados esperados, o país poderá voltar ao topo da cacauicultura mundial, exportando tecnologia, grãos de qualidade e um novo modelo de desenvolvimento sustentável. O mundo do chocolate, ao que tudo indica, poderá ter um novo epicentro: a Bahia.

