Eliza Samudio. Quem não ouviu este nome, não se assustou com sua história que a levou a ser morta de uma maneira totalmente brutal? Seu corpo acabou sendo entregue aos cães por ordem do goleiro do flamengo, Bruno, com quem manteve um relacionamento alguns anos antes de seu desaparecimento e, por fim, assassinato.
Isso com certeza mexeu com todos, mas só uma pessoa sabe como o caso a afetou e a afeta a cada dia. Sim, estamos falando da mãe de Eliza, Sônia Samudio. Para ela, a dor de perder a filha e de saber que a probabilidade de um dia poder enterrar seus restos mortais é praticamente nula é simplesmente indescritível.
O que mais dói é saber de todo o ocorrido anteriormente e que existia uma pequena chance de Eliza simplesmente conseguir criar seu filho normalmente, como seria o desejado. Isso porque a mulher já havia registrado um boletim de ocorrência dizendo ter sofrido ameaças, confinamento e agressão. Além disso, ele a teria forçado ingerir medicamentos para que ela conseguisse abortar. Temendo por sua vida, a vítima chegou a pedir medida preventiva tanto para ela como para sua família e amigos.


Porém, as coisas começaram a dar errado quando o pedido da medida cautelar foi negado. Aparentemente por Eliza não manter nenhuma relação afetiva, familiar ou doméstica com o jogador o que não poderia trazer benefícios das medidas preventivas à ela ou mesmo algum tipo de punição a ele, já que isso poderia banalizar a Lei Maria da Penha.
Isso sem falar das respostas absurdas que Bruno teria dado à vítima após a ação de alimentos movida por ela:
“A autora já vinha tentando manter relações com atletas de futebol profissionais há muito tempo provavelmente com objetivos financeiros”; “a autora manteve relação sexual com o réu na primeira vez em que se conheceram […], o que pode revelar sua conduta nada reservada. Se assim fez com o réu provavelmente faz e fazia com outros homens”; “na época dos fatos narrados na inicial, ao contrário do que expôs na inicial, a autora trabalhava em filmes pornográficos de baixíssimo nível”, segundo informações do A Publica.


Infelizmente, a Lei não ajudou nem um pouco esta mulher que foi jogada à própria sorte e, posteriormente, morta de forma completamente sanguinária. Por isso, você pode imaginar como é para Sônia ter que ver em meio aos noticiários, o tal goleiro Bruno, posando ao lado dos fãs e dando entrevistas para repórteres que nem se atreviam a falar sobre o caso de Eliza Samudio.
Para ele, a vida continua por fim. Mas e para esta mãe que tem perdido noites de sono, muitos e muitos quilos a cada dia, além da concentração para fazer o que sempre fez para complementar a renda familiar, seus doces e salgados? “Eu emagreci 27 quilos na época [desaparecimento e morte de Eliza], mas consegui recuperar 16 com tratamento. Essa semana emagreci mais três. Volta tudo, não estou conseguindo dormir nem trabalhar,” conta ela ao A Publica.
Como qualquer outra pessoa normal, a Sônia revive aqueles dias a todo momento e ainda teme por sua vida e a do neto, chamado também de Bruno. Na época, ela teria recebido ligações de estranhos dizendo que um rolo compressor passaria em cima de sua cabeça e que ela deveria simplesmente desistir do processo. “Mas minha maior preocupação hoje é com o Bruninho”, é o que afirma a mãe.

Desde que tudo começou, é ela que cuida do neto e seu grande foco é poder evitar qualquer exposição dele ao ocorrido. A ideia é protegê-lo o máximo possível da história que o amedrontará eternamente.
“Quando ele [Bruno] diz que 300 anos em prisão perpétua não vai trazer a vítima de volta, minha filha é essa vítima, assassinada, dada aos cães. Eu não pude enterrar seu corpo, não sei se isso vai me ser dado um dia, se a Justiça vai conseguir fazer eles falarem o que fizeram com o corpo da minha filha. Mas meu neto vai ter que viver com essa dúvida também?
Se pra mim é difícil, imagino pra ele. Porque na vida dele existe um peso a mais: foi o pai que matou a mãe. Eu tento proteger sua inocência e sua infância, mostro foto da mãe, digo que ela virou uma estrela no céu, em casa a gente não liga a televisão, ele tem contato com poucas pessoas. Mas em algum ponto ele vai saber o que aconteceu e eu temo por esse momento,” conta.

O mais triste de tudo isso é saber que Sônia poderia ter passado por algo parecido com seu ex-marido, Luiz Carlos Samudio, caso não tivesse conseguido fugir dele de Foz do Iguaçu para o Mato Grosso do Sul.
“A imprensa, as pessoas e até mesmo o próprio Bruno me julgam muito, dizendo que eu não criei a minha filha e que eu choro lágrimas de crocodilo na frente das câmeras, mas ninguém sabe da minha história, ninguém sabe o que eu passei. O pai da Eliza era violento, eu fugi dele pra não morrer”, é o que ela conta.
O homem em questão chegou até mesmo a pedir para que ela abortasse, mas decidida a ter a filha, Sônia continuou lutando e conseguiu realizar sua fuga. Assim que conseguiu se estabelecer, voltou para pegar Eliza, na época com quatro anos. “Quando eu já estava melhor, fui pegar a Eliza pra morar definitivamente comigo. O pai dela, então, me disse que me entregaria ela, mas me entregaria aos pedaços,” relembra. “Fugi e fiquei viva, minha filha enfrentou e morreu.”

Parece coincidência, não?! Mas está bem longe disso. Para muitas, essa é a realidade em que vivem diariamente. Estes homens, como bem explica a médica e professora do departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, Ana Flávia d’Oliveira, não são monstros ao contrário do que a maioria acredita.
”Acho que nesse caso da Eliza especialmente, ficam evidenciados questões de gênero e o controle da sexualidade feminina. Porque a sexualidade feminina continua sendo legitimada apenas dentro de um casamento monogâmico e todas as formas de expressão que saiam desse padrão ainda são estigmatizadas pela sociedade. Isso se expressa claramente quando a juíza não deu para ela a medida protetiva pelo fato de não ter uma relação estável com o pai do filho, por exemplo.
Uma mãe, por exemplo, que abandona um relacionamento abusivo e não consegue levar as crianças porque não é fácil, como foi o caso de Sônia, perde a legitimidade social sobre aquelas crianças. Um pai que abandona os filhos porque não quer mais é cobrado muito pouco ou nem é cobrado.

Eu acho que de fato tratar esse crime como exceção e tratar esse sujeito como um monstro é uma tentativa de tirá-lo fora da sociedade, desumanizá-lo e não perceber que ele faz parte de nós e que, em graus maiores ou menores, essa violência acontece cotidianamente em uma parte enorme das famílias. A morte da Eliza diz o que pode acontecer com as mulheres que correm atrás dos seus direitos”, é o que explica a mulher.
Por incrível que pareça, quando todo o caso veio a público, as opiniões simplesmente se divergiam. Alguns achavam que Eliza era simplesmente uma aproveitadora, atriz de filmes pornôs que havia se relacionado com um jogador de futebol por puro interesse. Assim, ela ter merecido a morte que teve.
Enquanto isso, outros tinham certeza absoluta de que Bruno só poderia ser um monstro assassino. Mas o verdadeiro nome para o que aconteceu é feminicídio que corresponde ao assassinato de mulheres ocorridos principalmente devido a desigualdade de gênero que é crime hediondo no Brasil já há dois anos.

E para você? Como é isso? Consegue imaginar a dor desta mãe, desta mulher, desta família inteira?
Lembre-se, violência contra a mulher é crime, denuncie: ligue 180. É possível denunciar pelo aplicativo Clique 180 também.
Fotos: José Cícero da Silva/Agência Pública, Agência Pública, Reprodução/Google.












