Da loja de balcão ao império digital: a mulher por trás do Magazine Luiza
Luiza Helena Trajano é um nome que se tornou sinônimo de liderança, coragem e inovação no Brasil. À frente da transformação do Magazine Luiza — uma pequena loja de Franca, no interior de São Paulo — em um dos maiores varejistas da América Latina, sua trajetória é marcada por decisões ousadas, gestão humanizada e forte presença no ativismo social.
Neste artigo, você conhecerá os bastidores da construção de um império empresarial passo a passo, revelando como Luiza superou barreiras e tornou-se referência para empreendedores, líderes e mulheres que sonham alto.
Leia Mais:
Ronaldo Caiado: A revolução trazida por sua liderança
Primeiros anos: raízes no interior e visão empreendedora
Origem e influência familiar
Luiza Helena nasceu em 1951, na cidade de Franca, em uma família que já atuava no comércio local. Sua tia, Luiza Trajano Donato, fundou uma loja chamada Magazine Luiza, em 1957, com foco em atendimento personalizado e preços acessíveis. Desde cedo, Luiza Helena acompanhava o funcionamento do negócio, observando o cuidado com os clientes e os desafios de empreender no interior do país.
Formação e primeiros passos profissionais
Formada em Direito, Luiza optou por trabalhar na empresa da família desde jovem. Começou como balconista, passou por diversos setores e aprendeu, na prática, o funcionamento completo do negócio. Essa vivência em todas as áreas operacionais seria essencial para sua liderança futura.
A transformação do Magazine Luiza em potência nacional

Profissionalização e expansão nos anos 1990
Nos anos 1990, Luiza assumiu o comando da empresa e iniciou um processo de profissionalização da gestão. Criou conselhos administrativos, investiu em treinamentos e reforçou a cultura organizacional centrada em pessoas — algo pouco comum no varejo brasileiro da época.
Além disso, liderou uma expansão regional estratégica, abrindo novas lojas em cidades médias e adotando o modelo de consórcio popular, que tornou o consumo mais acessível para milhões de brasileiros.
Inovação e tecnologia como motores de crescimento
Mesmo antes da popularização da internet, Luiza já apostava na tecnologia como diferencial. Em 1992, lançou as chamadas “lojas virtuais”, onde os produtos eram vendidos por meio de catálogos digitais em terminais multimídia, algo visionário para o período.
Em 2000, o Magazine Luiza criou seu site de comércio eletrônico, tornando-se um dos pioneiros do e-commerce no Brasil. A integração entre o digital e o físico sempre foi uma das marcas da atuação da empresa sob a liderança de Luiza.
O IPO e o crescimento exponencial
Em 2011, o Magazine Luiza abriu seu capital na bolsa de valores (B3). A empresa passou por uma reestruturação operacional e ganhou robustez financeira para crescer ainda mais. Com foco em transformação digital, aquisições estratégicas e uso intensivo de dados, o grupo tornou-se referência mundial em omnichannel (integração entre lojas físicas, e-commerce e aplicativos).
Luiza Helena foi peça-chave nesse processo, mesmo tendo se afastado da presidência executiva em 2016 para assumir o conselho de administração da companhia.
A liderança humanizada como diferencial competitivo
Gestão com propósito
Luiza sempre defendeu que empresas precisam ter lucro com responsabilidade social. A cultura da Magazine Luiza é voltada para inclusão, respeito e valorização do capital humano. Ela implantou programas de bem-estar, educação corporativa, participação nos lucros e comunicação transparente com os colaboradores.
Protagonismo feminino na liderança
Sob sua gestão, a empresa alcançou altos índices de liderança feminina, com políticas para formação de gestoras, combate ao assédio e valorização da equidade de gênero. Luiza se tornou um símbolo da luta por espaço para mulheres no topo do mercado corporativo.
Responsabilidade social em tempos de crise
Durante a pandemia de COVID-19, Luiza foi destaque por defender o papel social das empresas. A Magazine Luiza criou iniciativas como doações de cestas básicas, auxílio a pequenos comerciantes, proteção à saúde dos funcionários e apoio à vacinação pública.
Ela também esteve à frente da campanha #TemGenteComFome, que arrecadou milhões para famílias em situação de vulnerabilidade.
O Grupo Mulheres do Brasil e o ativismo cívico
Criação e objetivos do movimento
Em 2013, Luiza fundou o Grupo Mulheres do Brasil, ao lado de outras empresárias e executivas. O grupo reúne atualmente mais de 120 mil mulheres em diferentes regiões do país e do mundo, com o objetivo de atuar em causas sociais como educação, empreendedorismo, saúde, combate à violência doméstica e inclusão racial.
Influência política sem partido
Apesar de ser frequentemente cotada para cargos públicos, Luiza nunca se filiou a partidos. Ela usa sua influência para dialogar com o poder público, pressionar por políticas públicas e propor soluções técnicas para problemas estruturais do país — como desigualdade, racismo e evasão escolar.
Projetos e frentes de atuação
Entre os projetos mais impactantes liderados pelo Grupo Mulheres do Brasil estão:
- Plataformas de capacitação gratuita para mulheres empreendedoras
- Apoio jurídico para vítimas de violência doméstica
- Mobilizações pela equidade racial no mercado de trabalho
- Campanhas pela inclusão de meninas nas áreas de ciência e tecnologia
Reconhecimento nacional e internacional
Prêmios e homenagens
Luiza Helena já recebeu dezenas de prêmios, como:
- Melhor Empresária do Brasil pela revista Forbes
- Prêmio Claudia na categoria Negócios
- Personalidade do Ano pela Câmara de Comércio Brasil-EUA
- Medalha do Mérito da Educação pelo MEC
Ela também figura com frequência nas listas de líderes mais admiradas da América Latina e do mundo.
Presença global
Luiza foi convidada para palestrar em instituições como Harvard, ONU Mulheres, Fórum Econômico Mundial e B20 (grupo empresarial do G20). Sua atuação transcende o mercado e alcança o debate global sobre sustentabilidade, diversidade e o papel social das corporações.
Os desafios enfrentados no caminho
Machismo estrutural
Luiza sempre enfrentou resistência e subestimação no ambiente empresarial por ser mulher. Já contou publicamente que foi ignorada em reuniões, chamada de “louca” por inovar e desvalorizada em rodas de decisão. Mas ela respondeu com resultados e ética.
Críticas por posicionamento
Seus posicionamentos sociais — como a criação de programas de trainee voltados exclusivamente para negros — geraram críticas e até processos na Justiça. Ela, no entanto, sustentou sua decisão com base na desigualdade histórica e manteve as políticas de ação afirmativa.
Desafios do crescimento
O crescimento acelerado da empresa também trouxe desafios como concorrência agressiva, oscilação nas ações e pressão por resultados. Mesmo assim, a gestão de Luiza priorizou visão de longo prazo e inovação constante.
Considerações finais: um império que vai além dos números
Luiza Helena Trajano construiu, passo a passo, um dos maiores impérios do varejo brasileiro. Mas seu maior legado não está apenas nos lucros ou nas lojas. Está na forma como ela redefiniu o papel da liderança empresarial no Brasil — humana, inovadora, corajosa e comprometida com o país.
Sua história é a prova de que é possível ser grande e ser justa, ser líder e ser humana, ser empresária e ser ativista. Luiza continua inspirando não só mulheres, mas toda uma geração que acredita em um capitalismo mais inclusivo, sustentável e responsável.













