Você conseguiria imaginar como seria sua vida em uma prisão? A completa falta de liberdade de uma rotina em um cubículo deve ser um sentimento enlouquecedor, não é mesmo? Agora imagine se a tal prisão fosse o seu próprio corpo. Estranho pensar? Pois essa era a vida de um jovem chamado Juan Torres.
Tudo começou em 2013, quando Juan tinha 19 anos, quando após retornar de uma festa, o adolescente foi dormir. Parecia tudo normal e dentro dos conformes, mas mal sabia ele, que esta noite mudaria seu destino para sempre. Durante a noite, Torres sofreu uma grave parada respiratória e sua mãe, Margarita, precisou chamar uma ambulância às pressas para levá-lo ao hospital de Oakville, no Canadá.
No ambulatório, as notícias eram as piores possíveis. Margarita conta que os médicos pareciam não conseguir fazer nada por seu filho. Tudo parecia perdido. A mãe diz que em determinado momento, a equipe do hospital a preparava para dizer adeus. Era simplesmente devastador… e inexplicável.
Contudo, de maneira verdadeiramente inesperada, Juan teve forças para sobreviver. Mas ainda assim, seu quadro era dos piores. Segundo os médicos, o jovem permaneceria para sempre em estado vegetativo. Eis então que Juan Torres foi condenado à uma ‘prisão’, cuja pena seria cumprida dentro de seu próprio corpo.

Juan estava imóvel. Não era capaz de se mexer, de falar, de se expressar de nenhuma forma. Porém, ele estava consciente e era capaz de ouvir e enxergar tudo o que acontecia em seu redor. “Foi terrível. Nem sequer podia chorar. Suponho que meu cérebro ainda não tinha se reconectado aos dutos lacrimais”, disse o jovem à BBC.
O rapaz sofria com a síndrome de enclausuramento, mas com um adendo em relação aos outros pacientes da doença: ele não era capaz nem sequer de se comunicar com os olhos. E foram dois longos meses sob essas condições.

Margarita admite que conforme o tempo passava, era cada vez mais difícil manter o otimismo em relação a uma melhora de quadro do filho: “Se passaram muitos dias e horas sem que houvesse sinal algum”. Porém, certo dia, simplesmente sem que houvesse qualquer explicação, Juan começou a reagir. Era um dia de sol, quando Margarita e o marido levaram o filho para o lado de fora da casa, e quando a mãe fez um simples comentário como “você sempre será minha pequena Branca de Neve”, ele riu. Foi intenso.

De repente, Juan foi capaz de dar um sinal. Todos ficaram incrédulos em meio a uma alegria que não se continha na alma dos pais do jovem. E para os médicos, o fato do rapaz ter reagido também gerou enorme surpresa: “Como e por que isto ocorre com alguns pacientes, o que desencadeia a síndrome… São algumas das grandes interrogações da medicina”, disse a médica Gabriele Weston.
A história de Torres se torna ainda mais incomum considerando que são poucos os casos nos quais pacientes em estado vegetativo são capazes de estarem conscientes. De acordo com o neurocientista Adrian Owen, da Universidade de Ontario Ocidental, em apenas 20% dos casos os pacientes estão remetidos a tal circunstância.


E para ele, o caso em específico de Juan é de fundamental importância para que se busque tentar entender quando existe ou não a consciência no paciente: “Naquele momento (quando estava em aparente estado vegetativo), não havia absolutamente nenhuma resposta a estímulos. Seus olhos estavam abertos, mas não havia mais nada”, disse o neurocientista.
Hoje, quatro anos após o ocorrido traumático, Juan busca retomar sua vida normal. Aos poucos, ele está voltando a aprender a caminhar e já está cursando uma graduação, no curso de Ciências Naturais. “Lembro de repetir com frequência a mim mesmo: vou voltar a andar. Isto me motivou a seguir em frente. (…) Acho que daqui a um ano estarei caminhando de novo”, diz o jovem.

Para toda a família, a vida ganhou um novo significado. Por sorte, destino ou milagre, Juan saiu de sua prisão.
Fotos: BBC / Reprodução












