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Imagem inédita revela explosão dupla que destruiu estrela a 160 mil anos-luz

O registro inédito que marcou a astronomia

Uma equipe internacional de astrônomos conseguiu, pela primeira vez, capturar uma imagem clara dos restos de uma estrela que foi completamente destruída por duas explosões sucessivas. O fenômeno, até então apenas teorizado, foi observado com a ajuda do telescópio Very Large Telescope (VLT), instalado no Chile e operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO).

O objeto estudado, identificado como SNR 0509-67.5, está localizado na Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da Via Láctea, a cerca de 160 mil anos-luz da Terra. A estrutura visível é o que sobrou de uma supernova tipo Ia – um tipo de explosão estelar usada como referência para medir distâncias no universo.

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O que são supernovas do tipo Ia?

A importância dessas explosões cósmicas

As supernovas do tipo Ia ocorrem quando uma estrela anã branca, formada pelo colapso de uma estrela de tamanho médio, acumula matéria suficiente para atingir um ponto crítico, explodindo violentamente. Esse tipo de evento é especialmente importante porque libera grandes quantidades de elementos pesados como ferro, cálcio e níquel, essenciais para a formação de planetas, sistemas solares e, por consequência, a vida.

Como uma estrela explode duas vezes?

A grande novidade do registro é que ele confirma um modelo até então apenas sugerido: a dupla detonação. Nesse cenário, uma primeira explosão ocorre na camada de hélio acumulado na superfície da anã branca. Essa primeira detonação gera uma onda de choque que se propaga até o núcleo da estrela, provocando uma segunda explosão ainda mais intensa – destruindo completamente a anã branca.

A imagem captada pelo VLT

Como foi feita a observação

O registro foi possível graças ao instrumento MUSE (Multi-Unit Spectroscopic Explorer), acoplado ao VLT. Esse equipamento não apenas capta imagens, mas também permite analisar a composição química do objeto observado. Isso possibilitou aos cientistas identificar camadas distintas de elementos químicos nos restos da supernova.

O que a imagem mostra

A imagem revela uma bolha esférica colorida, com diferentes tons que indicam as diversas regiões químicas resultantes da explosão. Entre os destaques, estão duas camadas distintas de cálcio, que servem como uma espécie de “impressão digital” do processo de dupla detonação. A presença dessas duas conchas concêntricas reforça a teoria de que a estrela passou por duas explosões consecutivas em um intervalo extremamente curto de tempo.

Entendendo o fenômeno da dupla detonação

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Edição – @vecstock/Freepik

O papel da anã branca

A estrela que explodiu era uma anã branca em um sistema binário, ou seja, orbitava uma outra estrela. Com o tempo, ela atraiu para si o hélio de sua companheira. Quando essa camada se tornou suficientemente espessa, iniciou-se a primeira ignição. Essa explosão de superfície foi capaz de iniciar uma segunda detonação no núcleo da anã branca.

Por que isso é revolucionário?

Até agora, acreditava-se que as supernovas do tipo Ia ocorriam somente quando a anã branca atingia o chamado limite de Chandrasekhar, cerca de 1,4 vez a massa do Sol. Com a comprovação da dupla detonação, fica claro que o colapso estelar pode ocorrer antes de atingir essa massa, abrindo novos caminhos para compreender a diversidade dos eventos supernovas no cosmos.

Repercussões científicas da descoberta

Mudança nos modelos cosmológicos

Supernovas do tipo Ia são usadas como “velas padrão” na astronomia, já que sua luminosidade previsível permite calcular a distância de galáxias distantes. O uso desse tipo de supernova foi essencial para a descoberta da expansão acelerada do universo no fim dos anos 1990 – descoberta que rendeu o Prêmio Nobel de Física em 2011.

Com a confirmação da dupla detonação, os modelos teóricos poderão ser ajustados para considerar diferentes trajetórias de explosão, o que pode afetar o modo como essas medidas de distância são feitas.

Formação de elementos pesados

Outro impacto importante está na química galáctica. Eventos como este são responsáveis por lançar ao espaço elementos fundamentais para a formação de planetas e vida. Entender como esses elementos são formados – e em quais tipos de explosão – ajuda a explicar a composição química das galáxias.

O que dizem os cientistas

Priyam Das, autor principal do estudo

A pesquisadora Priyam Das, que liderou o estudo publicado na revista Nature Astronomy, destacou que essa é a primeira prova clara da existência da dupla detonação em uma supernova tipo Ia. “Essa descoberta fornece uma evidência forte de que essa classe de explosões pode realmente acontecer na natureza, e não apenas nas simulações computacionais.”

Ivo Seitenzahl, coautor da pesquisa

Já o cientista Ivo Seitenzahl afirmou que o intervalo entre as duas explosões foi extremamente curto – estimado em cerca de dois segundos. Segundo ele, “a estrela foi completamente destruída, não sobrou núcleo, não sobrou nada”.

A estrutura química como assinatura da explosão

O papel do cálcio

A identificação de duas camadas de cálcio é o ponto-chave que diferencia a dupla detonação de outros modelos. O cálcio externo teria se formado na primeira explosão superficial de hélio, enquanto o cálcio mais interno teria resultado da queima do núcleo da estrela.

A diferença para outras supernovas

Nas supernovas tipo Ia tradicionais, o cálcio e outros elementos pesados são distribuídos de forma homogênea. Nesse caso, a separação entre as camadas indica dois momentos distintos de liberação de energia, reforçando a hipótese da dupla detonação.

O futuro das pesquisas sobre supernovas

Novas observações em outros remanescentes

A partir de agora, astrônomos pretendem revisar outras supernovas do tipo Ia já observadas para verificar se esse padrão se repete. Isso permitirá saber se a dupla detonação é um fenômeno raro ou mais comum do que se imaginava.

Impacto na formação estelar e na química cósmica

Com a confirmação desse mecanismo, pesquisadores poderão recalibrar modelos de formação de galáxias, ciclos estelares e distribuição de elementos químicos. Isso pode afetar desde a cronologia da Via Láctea até hipóteses sobre sistemas planetários semelhantes ao nosso.

Considerações finais

A imagem registrada pelo VLT no deserto do Atacama representa um marco para a astronomia moderna. Pela primeira vez, a teoria da dupla detonação — até então considerada apenas uma possibilidade — foi confirmada visualmente e quimicamente. A anã branca SNR 0509-67.5, localizada a 160 mil anos-luz de distância, teve seu fim trágico transformado em conhecimento.

Esse achado não apenas muda nossa compreensão sobre como as estrelas morrem, mas também como os elementos que nos compõem foram espalhados pelo universo. Um feito que conecta o telescópio mais poderoso da Terra ao ciclo cósmico que nos originou.


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