Você já deve ter lido muitas histórias com reviravoltas. Aquelas que revelam a superação, o amor e a vontade de viver das pessoas.
Este é o caso de um torcedor do Paysandu. Mas antes de tudo isso, a história começa em 2013, quando ele trabalhava em uma boa empresa, iria se casa e seu time de coração subiu para a segunda divisão do futebol brasileiro. Mas sua vida seria afetada de uma forma como como nunca foi antes.
Ele contou tudo em uma carta para o UOL: “Comecei a sentir dores pelo corpo, falta de ar, vômitos. Surgiram manchas na minha pele e fui me consultar. Fiz exames. A médica chamou minha noiva em particular e falou sobre sua suspeita, mas minha noiva não me contou. Voamos a Belém para fazer outros exames específicos que confirmaram: eu tinha câncer nas células do sangue, leucemia mieloide aguda (LMA). A palavra câncer soou como uma sentença de morte: a primeira vez que eu ouvi tive certeza que eu já era. Daí veio a depressão, e da depressão veio a pneumonia que atacou forte meus pulmões.”

Neste momento ele foi parar na UTI e perdeu a estreia de seu time do coração na Série B do campeonato brasileiro, como ele continua no relato: “Para mim foi como estar dormindo, fechar os olhos num dia e acordar no outro, mas ao todo estive na corda bamba por três semanas, 22 dias de coma. Minha noiva e familiares disseram que foram os piores. Cada dia que eu amanhecia vivo era um milagre. Tive parada cardíaca, contrai bactérias, estive muito perto de cruzar a linha vermelha.
Durante esse tempo, perdi a estreia do Paysandu, e meu casamento teve que ser desmarcado, já com convites impressos e distribuídos, buffet e decoração pagos. Minha noiva, que andava afastada da Igreja, firmou um propósito com Deus, reuniu a família em orações durante os dias em que eu estava dormindo. Minha mãe e meu pai aceitaram Jesus como salvador. E Deus me trouxe de volta.”
Ele se casou com sua esposa no cartório e, apesar do seu time cair para a série C no ano seguinte, ele sabia que já estava bem melhor e esperava um 2014 feliz.

O ano de 2014 prometia muito, como ele mesmo dizia: “Mas 2014 prometia dias melhores. Eu sou um cara otimista. Eu já tinha começado a fazer a quimioterapia. Precisava trocar minha medula óssea, esse órgão que na verdade é a fábrica de sangue do corpo humano. Se você tem algum problema grave no sangue, você troca sua medula por uma saudável, e ela vai começar a produzir sangue bom para substituir o seu ruim. Simples assim. Parece mágica, mas é ciência!
Fiz exames de compatibilidade e descobri que uma das minhas irmãs, Alice, era 100% compatível! Ela poderia me doar uma parte da medula, e eu poderia me curar. Na verdade, não é tão simples assim, claro. Fui transferido para Belo Horizonte e lá, no dia 1º de setembro, fiz o transplante. No final de outubro o Paysandu foi jogar as quartas de final da Série C. Precisava de um empate para conseguir o acesso.”
E para a surpresa dele, o time dele disputaria o jogo decisivo na própria cidade em que ele estava, no Rio de Janeiro. Ele não conseguiu ir ao jogo porque os médicos não o liberaram, mas ele conseguiu ver tudo pela televisão.

A história poderia acabar por aqui, mas a vida não é tão fácil assim, como ele mesmo conta: “2014 tinha sido o ano da reviravolta, mais uma. Eu achava que podia estar curado, mas o câncer, assim como o futebol, é um negócio muito imprevisível.”
Chegamos em 2017 e a doença dele retorna, só que desta vez mais agressiva. Ele não tinha mais cabelo por causa dos remédios.
Com a piora do quadro, ele teve que voltar para Belo Horizonte e isso seria um pouco menos triste do que ele imaginava. “Quase caí pra trás quando a garçonete contou sobre o time que estava vindo se hospedar no mesmo hotel onde estamos em BH, “um time chamado Paysandu”, foi o que ela disse. Fiquei maluco. Liguei para família inteira. O Paysandu chegou e eu não conseguia acreditar que eu estava ali para recebê-los. Porque de todos os hotéis de Belo Horizonte, o Paysandu tinha que escolher justo o meu, certo?
Tomei café ao lado da comissão técnica, falei com os jogadores, tirei foto com eles. Percebi que esse grupo está focado no campeonato, tem tudo para fazer a gente muito feliz esse ano. Ganhamos eu e minha mulher ingressos para o jogo contra o América”, disse.
O momento mais emocionante ainda viria. Neste jogo, ele e sua esposa levantaram uma placa pedindo uma doação:
“Levamos uma faixa bem simples convidando as pessoas a doarem medula óssea. É meio que uma tentativa de encontrar uma salvação. Encontrar um doador compatível fora da família é quase como brincar de “Onde Está o Wally?”. É difícil, mas eu acredito que tem alguma coisa conspirando a meu favor. Se depender de mim, eu vou encontrar.”

“Minha irmã pode ser minha doadora novamente, mas os médicos disseram que ficaria ainda melhor se eu tivesse outra pessoa. É como se eu estivesse em uma luta de boxe contra o câncer, e um doador diferente me faria entrar mais forte no segundo round dessa batalha.”
O fim da carta deste homem é ainda mais emocionante do que você já leu até aqui:
“Quando puderem, não se esqueçam de me fazer um favor: doem medula! É rápido, fácil, não dói. Você pode salvar uma vida. Quem sabe não salva a minha?”
Desejamos sorte para este homem e que ele consiga superar esta terrível doença.
Fotos: Arquivo Pessoal












