O hipopótamo: o gigante enigmático dos rios africanos
Apesar de parecer um animal calmo, o hipopótamo é um dos seres mais fascinantes e complexos do mundo animal. Símbolo da fauna africana, ele mistura força, delicadeza e um papel vital nos ecossistemas onde vive. Mas, por trás de sua aparência robusta e temperamento imprevisível, há uma série de curiosidades que a maioria das pessoas desconhece.
Entre características anatômicas únicas, comportamentos inesperados e até mitos culturais, esse gigante semi-aquático revela um universo de surpresas. A seguir, conheça sete curiosidades sobre o hipopótamo que mostram por que ele é muito mais do que apenas um animal de grande porte.
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1. Duas espécies convivem na atualidade
Pouca gente sabe que existem duas espécies de hipopótamos vivas atualmente: o hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius) e o hipopótamo-pigmeu (Choeropsis liberiensis).
O primeiro habita grandes rios e lagos em países da África Oriental e Austral. Já o segundo, muito menor, vive em florestas úmidas da África Ocidental, principalmente na Libéria e em Serra Leoa. Enquanto o hipopótamo-comum pode ultrapassar três toneladas, o pigmeu pesa pouco mais de 200 quilos — uma diferença impressionante.
O hipopótamo-pigmeu é extremamente discreto, passa boa parte do dia escondido entre plantas e é raramente visto em seu ambiente natural. Isso faz com que seja um dos mamíferos mais difíceis de estudar.
2. O terceiro maior mamífero terrestre
Em peso e tamanho, o hipopótamo perde apenas para elefantes e rinocerontes. Os machos adultos podem atingir até 3,5 metros de comprimento, 1,5 metro de altura e pesar mais de 3 mil quilos.
Apesar do corpo pesado e das pernas curtas, o hipopótamo é surpreendentemente ágil: pode correr a 30 km/h em terra firme e nadar com facilidade. Essa habilidade o torna um animal imponente e perigoso quando se sente ameaçado.
3. O “suor vermelho” que protege a pele
A pele do hipopótamo é grossa, mas sensível ao sol e ao ressecamento. Para se proteger, ele secreta uma substância oleosa avermelhada conhecida popularmente como “suor de sangue”, embora não seja sangue de verdade.
Essa secreção, chamada ácido hiposudórico, funciona como um protetor solar natural e antibiótico, evitando queimaduras e infecções. Por isso, os hipopótamos passam o dia quase sempre dentro d’água, emergindo apenas ao entardecer para se alimentar.
4. Um gigante que respira debaixo d’água — mas só por alguns minutos

Embora passem boa parte do tempo submersos, os hipopótamos não são animais aquáticos de fato. Eles conseguem segurar a respiração por cerca de cinco minutos, o que permite caminhar pelo fundo dos rios e lagos.
Os olhos, ouvidos e narinas ficam posicionados na parte superior da cabeça, o que facilita a observação do ambiente enquanto o corpo permanece oculto. Essa adaptação é fundamental para que possam descansar e se proteger do calor africano.
5. Herbívoro noturno e dono de um apetite voraz
Ao contrário do que muitos imaginam, o hipopótamo não come dentro da água. À noite, ele sai dos rios e caminha quilômetros em busca de pastagens. Alimenta-se principalmente de gramas curtas e úmidas, podendo ingerir até 40 quilos de vegetação por noite.
Sua rotina alimentar é metódica: ele segue trilhas fixas, abertas por seu próprio corpo ao longo do tempo. Essas “estradas” de hipopótamos conectam lagoas e planícies, tornando-se rotas usadas também por outros animais.
6. Um dos animais mais perigosos da África
Apesar do ar tranquilo, o hipopótamo é altamente territorial e agressivo. Quando se sente ameaçado, pode atacar com extrema violência — inclusive embarcações. Estima-se que os hipopótamos estejam entre os animais que mais causam mortes humanas no continente africano.
Sua mordida é uma das mais poderosas do reino animal, com força capaz de esmagar ossos e romper pequenas embarcações. A maioria dos ataques ocorre quando pessoas invadem, sem saber, áreas de reprodução ou de descanso desses gigantes.
7. Papel essencial na natureza
Além de sua imponência, o hipopótamo é fundamental para o equilíbrio ecológico. Ao transitar entre terra e água, ele transporta nutrientes essenciais para os ecossistemas. As fezes desses animais fertilizam os rios, alimentando microrganismos e plantas aquáticas.
Essa troca de matéria entre ambientes terrestres e aquáticos contribui para a manutenção de cadeias alimentares inteiras. Em muitos locais, o desaparecimento dos hipopótamos já causou desequilíbrio em lagoas e pântanos.
Outros fatos que surpreendem sobre os hipopótamos
A gestação e o nascimento de um hipopótamo
A gestação dura cerca de oito meses, e o parto acontece dentro d’água. O filhote nasce já sabendo nadar e pesa entre 13 e 25 quilos. Ele passa os primeiros meses protegido pela mãe e, ao longo do crescimento, aprende a se integrar ao grupo.
Comunicação e comportamento social
Os hipopótamos vivem em grupos dominados por um macho adulto. Eles se comunicam com sons graves — grunhidos, bufos e rugidos — que podem ser ouvidos a longas distâncias. Curiosamente, cada hipopótamo reconhece a “voz” dos membros do próprio grupo, uma forma de manter a coesão social.
Um mito famoso: “o hipopótamo comeu o anão”
Entre as histórias mais conhecidas envolvendo hipopótamos está a lenda urbana de que um anão teria sido engolido por um deles durante um número de circo. A anedota, que surgiu na década de 1990, é totalmente falsa, mas se tornou uma das fake news mais reproduzidas sobre o animal.
Hipopótamos no Egito Antigo
Na cultura egípcia, o hipopótamo era símbolo de fertilidade e poder. Estatuetas azuis de faiança, como a famosa peça “William”, encontrada em tumbas reais, representavam a força vital do Nilo. Curiosamente, apesar de ser admirado, o animal também era temido pelos danos que causava às plantações.
O hipopótamo-pigmeu: o primo tímido e ameaçado
Enquanto o hipopótamo-comum chama atenção pelo tamanho, seu “primo” pigmeu é um mistério. Habitante de florestas úmidas da África Ocidental, ele mede pouco mais de 1,5 metro e pesa até 250 quilos.
Por ser mais discreto e viver em áreas de difícil acesso, o hipopótamo-pigmeu está em risco de extinção, principalmente por causa do desmatamento e da caça ilegal. Organizações ambientais lutam para preservar a espécie, que desempenha papel ecológico relevante ao manter o equilíbrio dos cursos d’água florestais.
O hipopótamo e o homem: uma relação de respeito e desafio
A convivência entre humanos e hipopótamos é tensa em várias regiões da África. O avanço das populações humanas sobre os rios e a escassez de recursos aumentam os conflitos. Em algumas comunidades, esses animais são vistos como pragas agrícolas; em outras, como símbolos de força e resistência.
Em um episódio curioso, hipopótamos introduzidos na Colômbia após a morte do traficante Pablo Escobar se multiplicaram fora de controle, tornando-se uma espécie invasora. Cientistas estudam hoje como manejar essa população sem causar danos ambientais maiores.
Conservação e futuro da espécie
O hipopótamo-comum é classificado como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A caça ilegal — motivada pelo marfim dos dentes — e a perda de habitat são as maiores ameaças.
Já o hipopótamo-pigmeu enfrenta situação mais grave, com número estimado em menos de 2 mil indivíduos na natureza. Programas de reprodução em cativeiro e reservas ambientais são fundamentais para garantir sua sobrevivência.
Considerações finais
O hipopótamo é uma das criaturas mais fascinantes da Terra — um ser que combina poder físico, importância ecológica e um comportamento social complexo. Suas curiosidades revelam não apenas a força da natureza, mas também a necessidade urgente de proteger esses gigantes.
Mais do que um símbolo da África selvagem, o hipopótamo é um lembrete vivo de que o equilíbrio ambiental depende da coexistência entre espécies e do respeito ao ritmo natural da vida.


