A nova regra de transição do Bolsa Família já está em vigor e altera de forma significativa o tempo de permanência no programa para famílias que apresentam aumento temporário de renda. A mudança foi anunciada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) e visa tornar a política pública mais alinhada com o foco de combate à pobreza extrema e à promoção da autonomia econômica.
Antes, as famílias podiam continuar no programa por até 24 meses mesmo se ultrapassassem o limite de renda estipulado, desde que não superassem o teto de transição. Agora, esse período foi reduzido para 12 meses, com regras mais rígidas para quem deseja permanecer.
A medida entra em vigor em um momento em que o governo intensifica o pente-fino no Cadastro Único (CadÚnico) e revisa as bases de dados para conter fraudes e direcionar melhor os recursos públicos.
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O que é a regra de transição do Bolsa Família?
Entendendo o mecanismo
A regra de transição, também conhecida como “regra de proteção”, foi criada para evitar que famílias saíssem bruscamente do programa ao conquistar um emprego ou receber aumento de renda. Ela funciona como um “colchão” temporário, permitindo que o beneficiário mantenha parte do valor do benefício enquanto se estabiliza economicamente.
Como funcionava antes
Até abril de 2025, a regra permitia que as famílias continuassem recebendo 50% do valor do Bolsa Família por até dois anos, desde que a renda per capita não ultrapassasse o dobro do limite máximo de entrada no programa (R$ 218 por pessoa). Ou seja, se a renda subisse até R$ 436 por pessoa, a família ainda podia contar com parte da ajuda do governo.
O que muda com a nova regra?
Redução do prazo para 12 meses
A principal mudança trazida pela nova regulamentação é a diminuição do período de permanência na regra de transição. Em vez de 24 meses, as famílias poderão permanecer por no máximo 12 meses com o pagamento de 50% do valor do benefício, desde que preencham os critérios de renda.
Novo teto de renda: R$ 706 por pessoa
Outro ponto alterado foi o limite de renda para que as famílias permaneçam na transição. Agora, mesmo durante o período de proteção, a renda per capita da família não poderá ultrapassar R$ 706 — o que representa 3,2 vezes o limite de entrada do programa. Caso o valor seja excedido, o benefício é imediatamente suspenso.
Quem será afetado pela nova regra?
Famílias que conseguiram emprego formal
A medida afeta principalmente as famílias que conseguiram recolocação no mercado de trabalho e passaram a receber salários registrados. Como consequência, a renda familiar aumenta, o que automaticamente seria um critério para saída do programa. Com a nova regra, a permanência é mais curta, exigindo uma adaptação mais rápida.
Beneficiários com aumento pontual de renda
Outro grupo impactado são os que recebem aumentos temporários, como pagamentos de horas extras, bicos ou contratos sazonais. A nova medida exige maior atenção desses beneficiários, que devem acompanhar de perto sua renda per capita para não ultrapassar o limite e perder o benefício de forma abrupta.
Justificativa do governo federal

Foco em quem mais precisa
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, a mudança busca garantir que os recursos do Bolsa Família sejam direcionados a quem realmente se encontra em situação de vulnerabilidade. Com o aumento do número de beneficiários após a reformulação do programa, o governo decidiu ajustar a política para preservar sua sustentabilidade fiscal e eficácia social.
Revisão constante do CadÚnico
O governo também reforçou a importância da atualização do Cadastro Único. Dados defasados ou incorretos podem levar à exclusão indevida de famílias que ainda se encaixam nos critérios. Desde o início de 2025, mais de 2 milhões de cadastros passaram por revisão e, em muitos casos, a transição estava sendo aplicada por mais tempo do que o necessário.
Quantas famílias estão na regra de transição?
Segundo dados oficiais, cerca de 2,18 milhões de famílias estavam sendo beneficiadas pela regra de transição até abril de 2025. Com a nova medida, boa parte desses núcleos poderá ter o benefício reduzido ou encerrado até o final do ano, caso não cumpram os novos requisitos.
A expectativa do MDS é de que cerca de 700 mil famílias deixem a regra de transição já nos próximos meses. Para essas famílias, haverá o redirecionamento para outros programas de inclusão produtiva, capacitação e acesso ao microcrédito.
O que fazer se perder o benefício?
Acompanhar a renda mensal
É essencial que os beneficiários acompanhem mês a mês sua renda per capita para entender se ainda se enquadram nos critérios do Bolsa Família. Caso a renda volte a cair abaixo de R$ 218 por pessoa, é possível solicitar o retorno imediato ao programa, sem passar por fila de espera.
Atualizar o CadÚnico
A atualização cadastral continua sendo a principal forma de garantir o acesso ao programa. Mudanças como nascimento de filhos, morte de membros da família, separações ou perda de emprego devem ser informadas ao CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) ou pelo aplicativo Meu CadÚnico.
Consultar a situação no aplicativo
O beneficiário pode acompanhar sua situação pelo aplicativo do Bolsa Família, disponível para Android e iOS. O sistema informa a composição do benefício, status do cadastro, motivo da exclusão (se aplicável) e prazos para contestação.
Especialistas comentam a medida
Críticas e apoio
Alguns especialistas em políticas públicas destacam que a redução no tempo de transição pode prejudicar famílias em situação instável, especialmente em regiões com alta rotatividade no mercado de trabalho informal. Por outro lado, defensores da medida apontam que a alteração é necessária para evitar o que chamam de “dependência crônica” do benefício.
Impacto na economia local
Estudos indicam que a retirada brusca de benefícios pode afetar o comércio em regiões mais vulneráveis, principalmente no Norte e Nordeste, onde o Bolsa Família representa uma parcela significativa da movimentação financeira local. A queda na renda dessas famílias pode gerar reflexos no consumo básico e na inadimplência.
O Bolsa Família continua com outros benefícios?
Sim. A estrutura do programa permanece a mesma nos demais critérios. O valor base continua sendo de R$ 600 por família, com adicionais de:
- R$ 150 por criança de até seis anos
- R$ 50 por gestante, nutriz (mãe que amamenta) e jovens entre 7 e 18 anos
A regra de transição afeta apenas o percentual do benefício concedido a quem tem renda per capita superior ao limite de entrada, mas que ainda não ultrapassa o teto de R$ 706 por pessoa.
Considerações finais
A mudança na regra de transição do Bolsa Família é uma tentativa do governo de garantir a eficiência do programa e sua sustentabilidade a longo prazo. Embora traga maior rigor na permanência de famílias com aumento de renda, também exige atenção redobrada dos beneficiários quanto à atualização cadastral e ao monitoramento da renda.
A nova regulamentação impõe desafios, mas também sinaliza um esforço por maior equilíbrio entre proteção social e responsabilidade fiscal. Famílias que ainda se encontram em situação de vulnerabilidade devem buscar os canais oficiais para entender seus direitos e garantir o acesso contínuo ao programa.