Golpe do Enem 2025: estudantes perdem milhões com sites falsos de inscrição
Milhares de jovens que buscavam um futuro melhor através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foram surpreendidos por uma fraude digital que causou prejuízos financeiros e emocionais. Um esquema de criação de sites falsos de inscrição enganou mais de 35 mil estudantes em todo o país e desviou cerca de R$ 3 milhões, pagos indevidamente via Pix. A situação acendeu um alerta sobre os riscos virtuais que cercam processos oficiais de avaliação educacional.
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Como o golpe foi arquitetado
O golpe começou a circular durante o período oficial de inscrições para o Enem 2025, entre 27 de maio e 14 de junho. Criminosos criaram páginas falsas que imitavam o site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova. O visual das páginas era cuidadosamente elaborado para passar credibilidade, com uso de cores, logotipos e linguagem parecida com a institucional.
Além da aparência profissional, os golpistas utilizaram anúncios patrocinados no Google e em redes sociais, o que aumentou ainda mais a exposição dos sites falsos. Quando os estudantes acessavam essas páginas, eram induzidos a preencher seus dados pessoais e realizar o pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 85 por meio de um código Pix.
Contudo, ao contrário do procedimento legítimo, os recursos eram direcionados a contas bancárias de pessoas físicas ou de empresas fantasmas, sem qualquer vínculo com o governo. Muitos estudantes só descobriram que haviam sido enganados quando tentaram acessar o comprovante oficial de inscrição no portal verdadeiro do Enem.
O impacto do golpe para os estudantes
Prejuízo financeiro e psicológico
Os danos causados pelo golpe vão além do aspecto financeiro. Para muitos jovens e famílias de baixa renda, o valor da taxa de inscrição representa um sacrifício significativo. A perda de R$ 85 pode comprometer o orçamento de quem já enfrenta dificuldades para se preparar para a prova.
Além disso, o choque emocional de ser vítima de um golpe em um momento decisivo da trajetória estudantil provocou ansiedade, frustração e, em alguns casos, desistência da prova. Muitos relataram se sentirem envergonhados ou desestimulados a continuar os estudos após perceberem que haviam sido enganados.
Exclusão do processo seletivo
Como os pagamentos foram feitos fora do sistema oficial, esses candidatos não tiveram suas inscrições processadas. Ou seja, apesar de acreditarem que estavam regulares, ficaram de fora do Enem 2025. Para quem sonhava com uma vaga no ensino superior público, essa frustração pode representar o adiamento de um ano inteiro de planos.
A investigação e a operação da Polícia Federal
Diante da repercussão e do número elevado de vítimas, a Polícia Federal iniciou uma investigação e deflagrou a Operação Só Oficial. A ação teve como objetivo desarticular a quadrilha responsável pelos sites fraudulentos.
Durante a operação, agentes cumpriram mandados de busca e apreensão na cidade de Praia Grande (SP). Também foi determinado o bloqueio de bens dos suspeitos, que, segundo as investigações, atuavam com estrutura profissional e conhecimento técnico para enganar o público-alvo.
A PF identificou os responsáveis por operar as contas que recebiam os pagamentos via Pix, além de rastrear os valores movimentados. O montante total desviado gira em torno de R$ 3 milhões, sendo parte desse valor sacado ou transferido rapidamente após os depósitos.
Como os criminosos se aproveitaram do ambiente digital
Uso de anúncios pagos
Uma das táticas mais eficazes dos golpistas foi o uso de anúncios patrocinados no Google. Os sites falsos apareciam nas primeiras posições das buscas por termos como “inscrição Enem 2025”, “pagar Enem”, entre outros. Muitos estudantes, apressados e confiando na interface do buscador, clicavam nesses links sem perceber que se tratava de uma fraude.
Réplicas perfeitas dos sites oficiais
Os domínios utilizados pelas quadrilhas eram criados com pequenas variações nos nomes reais, como trocas de letras ou uso de sufixos como “.org” ou “.net” em vez do oficial “.gov.br”. As páginas reproduziam elementos visuais idênticos aos do Inep, confundindo até mesmo usuários experientes.
Uso do Pix como armadilha
A escolha do Pix como forma de pagamento também foi estratégica. Como o sistema permite transferências instantâneas e irreversíveis, os golpistas conseguiam rapidamente sacar ou redistribuir o dinheiro, dificultando o rastreamento pelas autoridades.
O que dizem o Inep e o MEC

O Inep e o Ministério da Educação divulgaram comunicados alertando a população para o uso exclusivo do portal oficial do Enem. Segundo as instituições, as inscrições devem ser feitas apenas por meio do endereço: enem.inep.gov.br/participante. Além disso, o pagamento deve ser feito apenas por boleto bancário emitido no sistema, em nome do Banco do Brasil.
As autoridades reforçaram que nenhum site de terceiros está autorizado a intermediar a inscrição, e que os estudantes devem ficar atentos a páginas que solicitam Pix, cartão de crédito ou qualquer outra forma de pagamento fora do padrão.
Como se proteger de golpes semelhantes
Verifique o endereço do site
Sempre que for acessar uma página de serviços públicos, confira se o endereço termina em “.gov.br” e se há um cadeado ao lado da URL. Desconfie de sites com nomes estranhos, erros de ortografia ou variações incomuns.
Evite clicar em anúncios
Prefira digitar o endereço do site diretamente na barra do navegador ou buscar links em canais oficiais. Os anúncios patrocinados nem sempre indicam páginas confiáveis, mesmo aparecendo no topo do Google.
Nunca pague via Pix
O Enem nunca solicita pagamentos por Pix. Se encontrar um site que oferece essa opção, trata-se de uma fraude. O boleto bancário é a única forma reconhecida pelo Inep.
Desconfie de pressa ou urgência
Mensagens com tom alarmista ou que incentivam a “última chance” costumam ser armadilhas. A inscrição oficial do Enem respeita prazos amplamente divulgados pelo MEC.
Consequências jurídicas para os envolvidos
Os autores do golpe podem responder por estelionato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e crimes cibernéticos. As penas variam conforme a gravidade e o número de vítimas, podendo ultrapassar 10 anos de prisão.
Além das medidas penais, os responsáveis poderão ter que indenizar os prejudicados caso sejam identificados e condenados.
Reação da sociedade e o papel da educação digital
O caso levantou um debate sobre a necessidade de fortalecer a educação digital nas escolas e cursinhos. Muitos estudantes têm domínio sobre redes sociais e aplicativos, mas não sobre segurança cibernética e verificação de informações.
Especialistas apontam que o tema deve ser incluído nas diretrizes curriculares da educação básica, especialmente em um mundo onde serviços públicos, bancários e educacionais migraram para o ambiente virtual.
Considerações finais
O golpe que enganou mais de 35 mil estudantes no Enem 2025 é um retrato dos perigos que rondam o ambiente digital. Ao utilizar estratégias de marketing digital e engenharia social, os criminosos comprometeram o sonho de milhares de jovens e provocaram um prejuízo milionário.
A resposta das autoridades, embora ágil, revela que há uma lacuna de prevenção. A melhor defesa ainda é a informação. Cabe ao Estado, à sociedade e às instituições de ensino orientar os estudantes para que saibam identificar golpes, proteger seus dados e garantir que um clique errado não custe um ano inteiro de futuro.

