Globo prepara adaptações de novelas para a TV americana: entenda a estratégia por trás de “Império”, “Belíssima”, “O Outro Lado do Paraíso” e “Todas as Flores”
A Globo anunciou que quatro de suas novelas mais conhecidas ganharão versões para o público dos Estados Unidos. A iniciativa marca um novo passo na internacionalização da teledramaturgia brasileira e será realizada em parceria com a produtora MFF & Co, que possui equipes no Brasil e em Los Angeles. A ideia é transformar os folhetins em séries no formato americano, com temporadas mais curtas e roteiros adaptados para a linguagem e o estilo de consumo do mercado norte-americano.
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Por que esse movimento é importante
A notícia, divulgada em agosto de 2025, coloca em evidência um objetivo antigo da Globo: expandir sua presença no mercado global de entretenimento, não apenas vendendo novelas já prontas, mas também criando adaptações que dialoguem com os padrões internacionais.
O papel da MFF & Co
A MFF & Co, responsável pela adaptação, vai atuar como ponte entre a narrativa original e o modelo americano. O estúdio vai desenvolver as histórias com salas de roteiristas locais, ajustando diálogos, referências culturais e ritmo narrativo. O formato de temporadas múltiplas permitirá reorganizar tramas e subtramas, além de manter a essência do melodrama, que é a marca registrada das novelas brasileiras.
Contexto da estratégia
A parceria surge meses depois de outro acordo importante: a coprodução firmada com a Telemundo Studios, que mira tanto o público brasileiro quanto o latino residente nos EUA. Essa combinação de esforços mostra como a Globo tem buscado se posicionar como criadora de propriedades intelectuais capazes de render adaptações, spin-offs e novos produtos.
As novelas escolhidas
Império: a força de um Emmy Internacional
Escrita por Aguinaldo Silva, “Império” venceu o Emmy Internacional de Melhor Telenovela em 2015. Com uma trama sobre disputas familiares e o império de um empresário do ramo da joalheria, a produção é facilmente transportada para outro cenário cultural. O enredo gira em torno de ambição, poder e decadência, temas universais que funcionam em qualquer idioma.
Belíssima: moda, poder e intrigas
“Belíssima” se passa no universo da moda e dos negócios, explorando disputas familiares e empresariais. A série é considerada altamente adaptável porque pode ser ambientada em grandes centros urbanos, como Nova York ou Los Angeles, sem perder relevância. A história mistura glamour, traições e segredos, características que conversam bem com o público norte-americano acostumado a dramas corporativos.
O Outro Lado do Paraíso: vingança e justiça
O melodrama de “O Outro Lado do Paraíso” combina vingança, trauma e superação, além de apresentar vilões marcantes e viradas surpreendentes. Esse tipo de narrativa dialoga diretamente com os thrillers psicológicos e séries de vingança que fazem sucesso nos EUA, garantindo boas possibilidades de adaptação.
Todas as Flores: narrativa pensada para o streaming
Lançada originalmente no Globoplay, “Todas as Flores” já nasceu em um formato mais ágil, próximo das séries de streaming. Com conflitos urbanos e uma protagonista complexa, a obra tem ritmo cinematográfico e linguagem contemporânea, o que facilita a migração para o mercado americano.
Como serão as versões americanas

Da novela diária para temporadas seriadas
As adaptações vão abandonar o modelo de capítulos diários, substituindo-o por temporadas de 8 a 12 episódios. Isso exige condensar tramas paralelas e ajustar os ganchos de forma a se adequar ao estilo de “mid-season” e “season finale”, comuns nas produções norte-americanas.
A presença de roteiristas locais
A participação de profissionais dos EUA no processo criativo garante que os diálogos, piadas e referências culturais tenham naturalidade para o público americano. Ao mesmo tempo, a Globo e a MFF & Co prometem preservar o DNA das histórias originais, mantendo o tom emocional característico das novelas.
Planejamento de longo prazo
As produções estão sendo pensadas para múltiplas temporadas, com a criação de bíblias de personagens e mapas de tramas que permitam expansões. Isso abre espaço para spin-offs, produtos derivados e até conteúdos digitais paralelos.
Impacto no mercado
Nova fonte de receita e reposicionamento
A Globo passa a atuar não só como exportadora de novelas, mas também como desenvolvedora de conteúdos originais para o mercado internacional. A expectativa é gerar receitas com coproduções, royalties e licenciamento de formatos, além de reposicionar a marca como criadora de propriedades intelectuais de valor global.
Soft power cultural
Levar tramas brasileiras para a TV americana amplia o alcance da teledramaturgia nacional e funciona como ferramenta de soft power. Cultura, música, moda e turismo também podem ser beneficiados pela visibilidade.
Sinergia com acordos já firmados
O aprendizado com a parceria da Telemundo pode facilitar a integração com o mercado americano. A experiência adquirida ajuda a Globo a construir pontes mais sólidas entre Rio de Janeiro, Miami e Los Angeles.
Desafios da adaptação
Tradução cultural
Certos aspectos precisam ser ajustados ao contexto dos EUA, como legislação societária, sistemas jurídicos e dinâmica corporativa. O desafio é manter a essência dos conflitos sem perder autenticidade.
Orçamento e qualidade técnica
As séries americanas exigem padrões elevados de fotografia, direção de arte e produção. Isso significa que cada episódio terá custo maior, mas também potencial de retorno global.
Elenco e diversidade
As versões precisarão refletir a diversidade cultural dos EUA. Essa adaptação pode abrir portas para atores brasileiros em participações especiais, conectando a versão original com a releitura.
Considerações finais
A decisão da Globo de adaptar “Império”, “Belíssima”, “O Outro Lado do Paraíso” e “Todas as Flores” para o mercado norte-americano marca uma mudança de patamar para a teledramaturgia brasileira. Em vez de apenas exportar novelas, a emissora assume o papel de produtora de conteúdo global, ajustando narrativas para um dos mercados mais competitivos do mundo. Se bem-sucedida, a iniciativa pode abrir caminho para outras produções brasileiras ganharem vida em formatos internacionais, consolidando o país como fornecedor relevante de histórias para o cenário audiovisual global.


