País vive seu momento mais crítico diante do avanço do crime organizado e da ausência do governo
O Haiti atravessa uma de suas piores crises nas últimas décadas. De acordo com um novo alerta da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 90% da capital Porto Príncipe está sob domínio de gangues armadas, que impõem seu próprio sistema de controle, restringem a circulação da população e desafiam a soberania do governo central. O cenário descrito por autoridades internacionais é de possível colapso total da estrutura estatal caso a comunidade internacional não reforce seu apoio imediato.
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Expansão acelerada do domínio criminoso
Gangues tomam áreas antes consideradas seguras
O avanço das gangues em Porto Príncipe tem ocorrido de forma contínua desde o início de 2024. Inicialmente concentradas em bairros periféricos, essas facções agora estendem sua presença até áreas centrais e estratégicas da capital. Regiões antes administradas por forças do governo agora estão sob influência de criminosos, que impõem regras próprias, cobram pedágios informais e desafiam qualquer tentativa de retomar o controle.
Relatório da ONU revela a gravidade
Segundo a diretora do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Ghada Waly, o Haiti vive uma situação de “colapso institucional iminente”. O mais recente relatório do organismo destaca que 90% da capital está ocupada por grupos armados, um número superior aos 85% registrados no início deste ano. Além disso, há registros de expansão das gangues para outras cidades do país, agravando o risco de desintegração nacional.
População refém da violência
Moradores impedidos de circular livremente
Com a presença das facções criminosas em praticamente todos os pontos da capital, os haitianos enfrentam limitações severas para se deslocar, inclusive para acessar serviços básicos como hospitais, mercados e escolas. Em muitos bairros, o controle de entrada e saída é feito por milicianos armados, que autorizam ou proíbem a passagem com base em critérios arbitrários.
Explosão de deslocamentos forçados
A violência desenfreada já forçou mais de 1,3 milhão de pessoas a deixarem suas casas, segundo estimativas de agências humanitárias. Muitas famílias vivem em abrigos improvisados ou estão acampadas em locais públicos, sem acesso a saneamento, água potável ou atendimento médico. A crise humanitária se aprofunda a cada dia, com crianças, mulheres e idosos entre os mais afetados.
Estrutura do crime se fortalece
Facções operam como governos paralelos
As gangues haitianas se organizam de maneira complexa, com divisões internas, lideranças consolidadas e regras próprias. Em diversas áreas de Porto Príncipe, essas facções assumiram funções que deveriam ser do Estado, como distribuição de alimentos, mediação de conflitos e até prestação de “justiça” à margem da legalidade. Esse poder paralelo enfraquece ainda mais a confiança da população nas instituições formais.
Armas e financiamento externo
Apesar do embargo internacional de armamentos, as gangues continuam fortemente armadas. Investigações apontam que parte do armamento vem de desvios de arsenais policiais e do tráfico ilegal com países vizinhos. Além disso, o financiamento dessas organizações é sustentado por sequestros, extorsões, tráfico de drogas e controle de mercadorias nas zonas portuárias.
ONU alerta: colapso institucional pode ser irreversível

Estado quase sem presença na capital
Representantes das Nações Unidas descreveram a situação do Haiti como um “vazio de governança”. Com a polícia nacional fragilizada, a ausência de forças armadas e um governo com atuação limitada, o país está à beira de perder completamente sua capacidade de gerir o território. A ONU considera que o risco de colapso total da presença estatal em Porto Príncipe é real e pode se concretizar ainda em 2025.
Milícias e execuções extrajudiciais
Além do controle exercido pelas gangues, há denúncias de atuação de milícias ligadas a ex-policiais e agentes do Estado, responsáveis por execuções sumárias, perseguições e atos de tortura. Organizações de direitos humanos documentaram centenas de casos de violência sexual, desaparecimentos forçados e homicídios cometidos sem qualquer processo legal.
Missão internacional enfrenta dificuldades
Presença estrangeira ainda é insuficiente
Desde o fim de 2023, uma missão internacional liderada pelo Quênia foi autorizada pela ONU para ajudar na estabilização do Haiti. No entanto, a presença da força de apoio ainda é muito menor do que o necessário. Apenas cerca de 1.000 agentes chegaram ao país até o meio de 2025, número considerado insuficiente diante da dimensão do desafio.
Falta de recursos e equipamentos
Além do contingente reduzido, a missão sofre com falta de veículos, armamentos, helicópteros e drones de vigilância. Isso limita a capacidade operacional e dificulta o avanço sobre áreas controladas pelos criminosos. Sem apoio logístico robusto e financiamento adequado, o esforço internacional corre o risco de ser ineficaz.
Governo haitiano recorre a drones
Estratégia polêmica no combate às gangues
Diante da ausência de recursos humanos e militares, o governo do Haiti tem apostado em uma estratégia inédita: o uso de drones armados para atacar lideranças criminosas e bases das facções. Segundo autoridades locais, esses dispositivos já teriam eliminado centenas de membros de grupos armados desde o início das operações.
Comunidade internacional expressa preocupações
Embora os drones tenham surtido algum efeito imediato, organizações internacionais questionam a legalidade, precisão e consequências colaterais do uso dessas tecnologias em áreas densamente povoadas. Há riscos de atingir civis, aumentar o ressentimento da população local e estimular uma nova escalada de violência por retaliação.
Alternativas para evitar a implosão do país
Reforço da missão internacional é urgente
Especialistas em segurança defendem que a única solução possível para conter o avanço das gangues passa pelo envio de uma força multinacional bem equipada, com autorização para ações ofensivas e apoio aéreo. Sem isso, será impossível retomar o controle de áreas dominadas e reestabelecer a presença do Estado.
Reconstrução institucional e eleições
A médio e longo prazo, o Haiti precisará de investimentos massivos em reconstrução institucional, especialmente na polícia, no judiciário e nos serviços públicos. A realização de eleições livres e transparentes, prevista para 2026, também é vista como essencial para restaurar a legitimidade do governo perante a população.
Apoio humanitário e atenção às vítimas
Paralelamente às ações de segurança, é indispensável ampliar os esforços humanitários para atender os milhões de haitianos em situação de vulnerabilidade. Isso inclui fornecimento de alimentos, água, medicamentos, abrigos e apoio psicológico às vítimas da violência.
Considerações finais: o tempo está se esgotando
O alerta da ONU sobre o controle de 90% da capital haitiana por gangues é um chamado à ação para a comunidade internacional. O Haiti vive um momento de urgência absoluta, em que a ausência de decisões rápidas e eficazes pode significar o colapso definitivo de um Estado já fragilizado. O drama haitiano é profundo, complexo e exige responsabilidade global — não apenas em discursos, mas em ações concretas.













