A força criativa de Niki de Saint Phalle, uma das artistas mais ousadas do século 20, chega às telonas em uma cinebiografia que promete emocionar e provocar reflexões. Intitulado “Niki”, o longa dirigido por Céline Sallette estreou no prestigiado Festival de Cannes 2024, dentro da mostra Un Certain Regard, espaço dedicado a olhares autorais e novas perspectivas no cinema mundial.
A produção não busca apenas retratar a trajetória da artista franco-americana, mas também transmitir ao público a intensidade de sua vida, marcada por traumas, liberdade e uma obra que atravessou fronteiras. Com Charlotte Le Bon no papel principal, o filme já desperta grande expectativa no Brasil, onde deve ganhar lançamento nos próximos meses.
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Quem foi Niki de Saint Phalle
A trajetória de uma artista disruptiva
Nascida em 1930, em Neuilly-sur-Seine, França, mas criada em Nova York, Niki de Saint Phalle enfrentou uma juventude repleta de conflitos. Após um início como modelo e um casamento precoce, ela encontrou na arte uma forma de cura e de libertação.
Niki ficou conhecida pelos “Tirs”, performances em que atirava contra telas carregadas de tinta, criando obras a partir da destruição. Mais tarde, encantou o mundo com suas “Nanas”, esculturas femininas monumentais e coloridas que simbolizam força, fertilidade e alegria. Sua maior criação, o Jardim do Tarot, na Itália, sintetiza a dimensão monumental de sua obra.
Uma mulher à frente de seu tempo
Ao longo de sua vida, Niki enfrentou um meio artístico dominado por homens e se firmou como uma voz poderosa em defesa da liberdade feminina, do direito ao corpo e da arte como forma de resistência. O filme busca resgatar esse espírito de ruptura, mostrando como sua história pessoal e profissional se entrelaçam.
O filme Niki
Enredo e proposta narrativa
A produção acompanha a vida da artista desde os primeiros anos de casamento e maternidade até sua consagração como uma das figuras centrais da arte contemporânea. Diferente de biografias tradicionais, “Niki” não segue uma linha cronológica rígida. A narrativa é construída em fragmentos, recriando o processo artístico e emocional da protagonista.
Elenco e performances
Charlotte Le Bon entrega uma atuação visceral, retratando a fragilidade e a força de Niki em diferentes fases da vida. O elenco também inclui Damien Bonnard, como o escultor Jean Tinguely, parceiro artístico e amoroso da artista, além de Judith Chemla e Nora Arnezeder, que interpretam personagens que marcaram sua trajetória.
A química entre Le Bon e Bonnard dá corpo à relação intensa entre Niki e Tinguely, fundamental para compreender tanto sua vida pessoal quanto seu desenvolvimento criativo.
Direção e escolhas estéticas
Céline Sallette, em sua estreia como diretora de longa-metragem, aposta em uma abordagem intimista. Em vez de exibir diretamente as obras originais — cujos direitos de imagem são restritos —, a câmera cria uma atmosfera que remete às criações da artista por meio de cores, texturas e enquadramentos sugestivos. O resultado é uma estética que homenageia Niki sem se prender a um registro documental.
Cannes e a recepção crítica
Um palco para novos olhares
A estreia mundial de “Niki” em Cannes reforçou a relevância da produção. Exibido em 23 de maio de 2024, na mostra Un Certain Regard, o filme conquistou elogios por oferecer uma leitura ousada da trajetória da artista.
Críticas e análises
Críticos destacaram a entrega de Charlotte Le Bon, capaz de expressar a intensidade de Niki em gestos e silêncios, além da direção sensível de Sallette. A recepção foi marcada por comparações com outros filmes biográficos recentes, ressaltando que “Niki” foge do formato convencional ao privilegiar o processo criativo em vez de se ater a datas e fatos lineares.
Muitos elogiaram a decisão de transformar a ausência de imagens originais das obras em recurso estético, estimulando o espectador a imaginar a grandeza da produção da artista.
Estilo visual e trilha sonora
A linguagem da câmera
A fotografia aposta em closes de tecidos, cores vibrantes e enquadramentos fragmentados, evocando a sensação de estar diante de uma obra em construção. Essa estratégia cria uma ponte entre o público e a experiência artística de Niki.
A música como parte da narrativa
A trilha sonora, assinada por Para One, mescla batidas eletrônicas e sons orgânicos, intensificando os momentos de catarse e tensão. Os ruídos de ateliê, os disparos simbólicos e até o silêncio compõem um desenho sonoro que acompanha o espectador como se fosse uma extensão da própria arte da protagonista.
Temas centrais do longa
Arte como resposta ao trauma
O filme aborda como episódios traumáticos da juventude moldaram a visão de mundo de Niki e a levaram a usar a arte como forma de enfrentamento. Longe de reduzir sua obra à dor, a narrativa mostra como a artista transformou experiências pessoais em força coletiva.
O corpo como território político
As esculturas exuberantes das “Nanas” aparecem como metáfora do empoderamento feminino. O longa sublinha como Niki utilizou a arte para questionar padrões e reivindicar espaços para mulheres em museus, praças e na memória cultural.
A luta por reconhecimento
Mesmo com o sucesso internacional, a artista precisou driblar preconceitos e se impor em um meio resistente à presença feminina. O filme destaca essa batalha, conectando sua trajetória a debates atuais sobre representatividade e igualdade de gênero.
Expectativa de estreia no Brasil

Embora ainda não tenha data oficial confirmada, distribuidoras já trabalham para levar o longa ao circuito brasileiro. Pré-estreias em festivais de cinema no Rio de Janeiro e em São Paulo sinalizam que o lançamento pode ocorrer até o fim de 2025. A expectativa é de que “Niki” encontre espaço tanto em salas comerciais quanto em mostras de cinema de arte.
Considerações finais
“Niki” não é apenas uma cinebiografia: é uma obra que dialoga com o legado da artista e com as questões que ela levantou em sua trajetória. Ao transformar restrições em linguagem, o filme reafirma a atualidade de Niki de Saint Phalle e convida o público a refletir sobre arte, dor e liberdade.













