Você provavelmente conhece a história de Marcelo Rezende. O apresentador descobriu um câncer no pâncreas, recebeu a notícia de que provavelmente morreria em alguns meses e por isso decidiu participar de um tratamento alternativo com o médico Lair Ribeiro, que também não teve sucesso e no dia 16 de setembro o apresentador faleceu.
Mas desta vez a notícia é outra, talvez um pouco reconfortante para todos que sentem falta deste grande jornalista. O filho de Marcelo Rezende, Diego Esteves, resolveu divulgar na Missa de Sétimo Dia uma carta deixada pelo pai. Em um post no Instagram, o filho colocou “Texto inédito do meu pai @marcelorezende.oficial que lemos com as minhas irmãs na Missa do Sétimo Dia”.
E o relato começa: “Quando pequeno meu sonho era comer ‘a comida do avião’. Morávamos – meus pais e meu irmão de criação – numa escola do antigo SAM – Serviço de Assistência ao Menor, a Febem da época. Meu pai Jaures conseguira um emprego. Finalmente. E nós ganhamos o direito de ocupar uma pequena casa dentro da Escola Granja, um reformatório para meninos endiabrados na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Eu incluído nessa leva. A escola ficava às margens do aeroporto internacional do Galeão, hoje Aeroporto Tom Jobim.”
Ele continua: “A cada instante aviões passavam sobre nossas cabeças – bem baixinho e com seu ronco assustador para um moleque de seis, sete anos. Minha mãe Áurea, por coincidência, trabalhava como funcionária administrativa da Aeronáutica em outro aeroporto, o até hoje Santos Dumont, no centro do Rio. Eu perguntava: “Mãe, no avião se come? Que que come lá?” Minha mãe não sabia responder – jamais subira num avião. Não havia dinheiro para isso. E inventava histórias. Até que um dia ela me trouxe uma bandeja com a “comida de avião”. Que decepção. A comida de minha mãe era milhões de vezes melhor. Mudei a pergunta: “Mãe, avião leva a gente prá onde?”. Você acabou de pensar que eu era abestalhado, certo? Eu tinha seis anos, mais de cinco décadas atrás. Deu para entender? Minha mãe sei lá o que disse. Mas a vida me traria a resposta. Doze anos depois eu começaria a ser jornalista e, rapidinho, rapidinho, entrei num avião. Para sempre. Num só ano fiz 54 viagens internacionais – uma por semana. Meu recorde. Mas só aos 30 e pouco anos de vida tive dinheiro para entrar num avião “à passeio”. Era minha nova moda. Já rodei todos os continentes – se bem que Argentina, Holanda e Franca são alguns dos roteiros que mais faço. Um filho em cada canto. E agora uma se foi para Nova Zelândia – dezesseis horas num avião. Perdi tempo com a tal pergunta para a minha mãe. E antes que você me faca alguma pergunta, vou dizer logo: nós – você e eu – vamos viajar muito a partir de agora.”
É muito triste lembrar que Marcelo Rezende morreu, mas podemos nos apoiar em pequenas coisas como essa carta para nos lembrarmos de alguém que fez o bem para tantas pessoas.
Fotos: Reprodução Internet











