Uma infância conturbada. Infelizmente, foi assim a do cineasta Alexandre Mortagua, filho do ex-jogador Edmundo, o ‘Animal’ e da modelo Cristina Mortagua.
Pelo menos é isso que ele planeja contar em seu novo filme: sua história e, principalmente o momento em que a mãe descobriu sobre sua sexualidade. Já adianto: não foi nada fácil. Ela chegou a iniciar um ritual evangélico para acabar com o que ela considerava ser uma ‘doença’.
“Foi muito cena de filme. Ela era megaevangélica, rolou um princípio de exorcismo. Quando eu cheguei em casa, já tava tocando um gospel estilo Ludmila Feber (cantora evangélica). Então, minha mãe quis ungir minha testa com óleo, sabe?, essas palhaçadas que esses pastores inventam pra ganhar dinheiro”, revela Alexandre ao site da UOL.
Isso tudo aconteceu quando ele estava com apenas 14 anos, o que acarretou em sua escapada de casa para ficar ao lado do namorado, que vivia em Petrópolis. Cristina não demorou para ir buscá-lo logo após a descoberta.
Não demorou para que então Alexandre decidisse se mudar da casa da mãe para morar com a avó em Vila Valqueire. Por lá, ele ficou até atingir seus 16 e atualmente vive em São Paulo.
“Minha mãe queria que tudo seguisse um padrão de perfeição absoluto, nossa casa era toda branca, tudo, tudo. Ela precisou abrir mão de uma porção de certezas para me aceitar e ser feliz. Eu dou graças a Deus de ter tido a oportunidade de me livrar cedo dessas certezas (assumindo a homossexualidade). É uma batalha grande contra o ego”, relata.
O cineasta também revela como foi viver ao lado da mãe que era um símbolo sexual na época. “Eu não sei como é ser filho de um símbolo sexual porque minha mãe… era minha mãe. Tipo superprotetora. Fazia festinha em bufê infantil no meu aniversário e guarda até hoje as fotos em álbuns com capa de couro.”
Apesar disso, ele comenta que gostava de andar ao lado da secretária da mãe para saber o que os outros falavam sobre ela. Os comentários eram coisas do tipo ”Aí Cristina Mortagua gostosa”, entre muitos outros. Mas nem para Alexandre e nem para ela, isso era um problema. A mãe, segundo ele, sempre se saía bem dessas situações, deixando os outros imensamente desconfortáveis.
Agora, a mulher que está com seus 40 e poucos anos acabou demorando para cair na real, segundo seu filho. “Até os 40, ainda dá para você fingir que tem 25. Depois, não. Esse rigor com a própria imagem às vezes não é bom.”
Hoje, segundo ele, ela se arrepende por toda aquela encenação do exorcismo para ”curá-lo” e os dois são realmente grudados atualmente.
Mas e o pai dentro desta história? Como Edmundo teria lidado com o fato do filho ser gay? Para falar a verdade, nem mesmo Alexandre sabe explicar. Aos quatro anos, ele simplesmente parou de vê-lo. “Só sei dele pela minha mãe. Ela conta que um dia entrou no quarto e meu pai estava assistindo ao vídeo do meu parto, comigo dormindo em cima da barriga dele.”
Fora isso, o cineasta não tem a menor ideia de como o pai lidaria com sua sexualidade. “Realmente, não tenho contato com ele. Sei que é meu pai. Mas quando penso nele, eu não ouço uma voz, não sinto um cheiro, nada. Não que ele não seja nada. É meu progenitor. Massa. Mas não me vem nada”, revelou. Inclusive, o ex-jogador já foi até preso por atrasar R$21 mil em pensão.
Agora, para falar sobre seu novo projeto, o cineasta simplesmente percebe a coincidência por conta do interesse neste tipo de assunto. “Entrevistei 26 pessoas, fiz três perguntas a cada uma, elas levaram duas horas e meia respondendo. Tenho muita curiosidade a respeito de qualquer pessoa.”Estranho que isso não se aplique ao próprio pai. “É, você tem razão”, disse.
O filme deve contar a história de uma mulher que engravida e acaba sendo abandonada pelo pai, que a manda embora de casa. O menino dela nasce, mas ela repete a ação do pai e o abandona. No fim, Alexandre acaba adquirindo uma úlcera devido ao descontrole com as bebidas, mas continua fumando um maço de cigarros por dia.
E aí? O que achou?
Fotos: Mel Coelho/Divulgação, Facebook/Reprodução/Cristina Mortagua.
