Por que onças e outros felinos estão se aproximando das cidades no Pantanal?
O fenômeno que intriga moradores e especialistas
O aumento no número de avistamentos de felinos selvagens em regiões urbanas do Pantanal, principalmente no Mato Grosso do Sul, tem levantado preocupações e questionamentos entre moradores e estudiosos. Casos envolvendo animais como onça-pintada, jaguatirica e puma têm se tornado mais frequentes em municípios próximos à zona rural, às margens de rodovias e até em bairros de cidades como Aquidauana, Miranda e Corumbá.
O que estaria motivando esses animais a se aproximarem tanto dos seres humanos? O fenômeno não é exatamente novo, mas tem ocorrido com mais frequência, trazendo à tona debates sobre desequilíbrios ambientais, mudanças no habitat natural e falta de políticas públicas eficazes.
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A escassez de alimentos na natureza
Especialistas apontam que o principal fator que tem feito felinos se aproximarem das cidades é a redução na oferta de presas naturais. Com o avanço do desmatamento e das queimadas — comuns nas estações secas — os animais silvestres que compõem a cadeia alimentar desses predadores se tornam mais escassos. Isso obriga os felinos a buscar outras fontes de alimento, muitas vezes encontradas em áreas com presença humana, como criações de galinhas, cães e até lixo urbano.
Perda e fragmentação do habitat
A expansão da agricultura, pecuária e da urbanização têm transformado rapidamente o cenário pantaneiro. A construção de rodovias e o uso do solo para lavouras têm fragmentado ecossistemas inteiros, empurrando os felinos para territórios onde antes não circulavam. Com menos floresta e áreas naturais contínuas, os animais ficam mais expostos e têm maior probabilidade de cruzar com humanos.
O impacto das queimadas
As queimadas no Pantanal, que nos últimos anos atingiram proporções alarmantes, destruíram grandes áreas de vegetação e deixaram centenas de animais mortos ou sem abrigo. Sem espaço e sem alimentos, muitos felinos têm sido forçados a migrar para regiões mais povoadas em busca de abrigo e caça, colocando-os em risco e gerando medo entre moradores.
Monitoramento e tecnologia facilitam registros
Com a popularização de câmeras de segurança, smartphones e redes sociais, os registros de felinos nas cidades aumentaram. Ainda que esses encontros já ocorressem esporadicamente no passado, hoje a exposição é maior, o que pode passar a sensação de que o fenômeno é mais recente ou mais grave do que realmente é.
Casos que chamaram atenção

O ataque fatal em Aquidauana
Um dos episódios mais marcantes ocorreu no começo de 2025, quando um caseiro foi morto por uma onça-pintada nas proximidades de Aquidauana. O caso ganhou repercussão nacional e evidenciou o risco de convivência forçada entre animais selvagens e comunidades humanas.
Felinos filmados em bairros residenciais
Moradores de Corumbá e Ladário já compartilharam nas redes sociais vídeos de onças-pardas atravessando ruas tranquilas durante a madrugada. Outros relataram encontros em chácaras e fazendas próximas às áreas urbanas. A presença dos animais levanta discussões sobre segurança e proteção à fauna.
A resposta dos especialistas
Opinião de biólogos e conservacionistas
O biólogo Gustavo Figueirôa, ligado à ONG SOS Pantanal, explica que a presença mais constante dos felinos nas cidades está ligada à pressão ambiental causada por ações humanas. Segundo ele, “quando o habitat deixa de oferecer o mínimo necessário, os animais não têm alternativa a não ser se aproximar de onde existem recursos”.
Figueirôa também destaca a importância de ampliar o monitoramento da fauna e de investir em estudos sobre rotas de deslocamento e comportamento dos felinos em áreas alteradas.
O papel das políticas públicas
Especialistas defendem que, além de combater queimadas e desmatamentos, é fundamental que o poder público implemente planos de manejo da fauna em áreas de transição entre rural e urbano. Isso inclui campanhas de conscientização, ações de prevenção a ataques e criação de corredores ecológicos.
Como prevenir conflitos entre felinos e humanos
Dicas de segurança para moradores
- Evite deixar lixo exposto ou restos de comida ao ar livre.
- Mantenha animais domésticos protegidos durante a noite.
- Instale cercas em propriedades rurais e evite trilhas sozinho em áreas de mata.
- Comunique imediatamente autoridades ambientais ao avistar grandes felinos em zonas urbanas.
Educação ambiental nas escolas
A longo prazo, a educação é um dos principais caminhos para melhorar a convivência entre humanos e animais silvestres. Iniciativas que levam informações às escolas e comunidades ajudam a reduzir o medo e a aumentar o respeito à fauna.
Proteção dos felinos
Apesar de causarem medo em algumas situações, as onças-pintadas e outros grandes felinos são essenciais para o equilíbrio ecológico do Pantanal. Eles regulam populações de presas e mantêm a biodiversidade. Proteger esses animais também é proteger o ecossistema como um todo.
O que pode ser feito no futuro?
Criação de zonas de amortecimento
É possível estabelecer áreas intermediárias entre a mata e as cidades que sirvam como zonas de amortecimento, com vegetação nativa, corredores ecológicos e áreas de reintrodução de presas naturais.
Investimento em tecnologia de rastreamento
Projetos de monitoramento com coleiras GPS e armadilhas fotográficas permitem acompanhar os deslocamentos dos felinos e identificar padrões que possam orientar estratégias de proteção e prevenção.
Integração entre órgãos públicos, ONGs e comunidades
A atuação conjunta de secretarias ambientais, polícias florestais, instituições de pesquisa e organizações civis é essencial para um plano de ação eficiente. Somente com esforço coletivo é possível reduzir os riscos e preservar a fauna pantaneira.
Considerações finais
A aproximação de felinos do Pantanal às áreas urbanas do Mato Grosso do Sul não é um evento isolado, mas o reflexo direto de uma série de pressões ambientais causadas pela atividade humana. Desmatamento, queimadas, fragmentação de habitats e mudanças no clima estão alterando os hábitos desses animais, que agora dividem espaço com o ser humano.
Diante disso, é urgente repensar a forma como ocupamos e exploramos o território pantaneiro. Garantir a conservação da fauna exige não apenas proteção dos biomas, mas também empatia, informação e políticas públicas que promovam uma convivência segura e sustentável.

