O poder dos elogios na formação emocional
Os elogios têm um papel fundamental no desenvolvimento psicológico de uma criança. Quando um adulto reconhece o esforço, a coragem ou a criatividade de um pequeno, ele está enviando uma mensagem clara: “você é capaz e importante”. Esse tipo de validação ajuda a formar a base da autoestima e da autoconfiança que a acompanharão por toda a vida.
Mas o que acontece quando essa validação é escassa ou inexistente? Segundo psicólogos, a ausência de reconhecimento positivo pode deixar marcas profundas, ainda que invisíveis. Adultos que cresceram sem receber muitos elogios tendem a apresentar comportamentos específicos — e, em muitos casos, autossabotadores — como a busca constante por aprovação externa, medo de errar e dificuldade em reconhecer o próprio valor.
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A importância da validação emocional na infância
O elogio como espelho do valor pessoal
Na infância, as palavras dos pais e cuidadores funcionam como um espelho. É por meio delas que a criança começa a compreender quem é, o que faz bem e o que tem valor. Quando há elogios equilibrados — nem excessivos, nem ausentes — o indivíduo aprende a valorizar suas conquistas sem se tornar dependente da aprovação dos outros. Quando essa validação não acontece, cria-se uma lacuna emocional. A criança pode interpretar o silêncio como um sinal de que não é boa o suficiente, e esse pensamento se transforma em um padrão inconsciente que a acompanha até a vida adulta.
Quando o elogio vira dependência
Curiosamente, o oposto também pode ser prejudicial. Crianças que são elogiadas de forma exagerada ou apenas quando agradam podem desenvolver uma dependência emocional do reconhecimento alheio. Nesse caso, o elogio deixa de ser um reforço saudável e passa a ser uma necessidade. Assim, o adulto sente que precisa estar sempre “fazendo algo” para ser amado, o que leva à ansiedade, insegurança e medo de decepcionar.
Sinais de que a falta de elogios afetou sua vida adulta
Necessidade constante de aprovação
Um dos sinais mais comuns é a busca incessante por validação. Pessoas que não foram elogiadas na infância muitas vezes precisam ouvir de forma explícita que estão indo bem. Essa dependência pode se refletir no trabalho, nas amizades e até em relacionamentos amorosos.
Dificuldade em reconhecer o próprio valor
Quem não recebeu reconhecimento quando criança tende a minimizar suas conquistas. Mesmo quando realiza algo importante, sente que “não foi grande coisa”. Esse comportamento pode levar à autossabotagem e impedir o crescimento pessoal e profissional.
Medo de errar ou de ser criticado
A ausência de elogios também pode tornar a pessoa mais sensível a críticas. Como o cérebro associa o erro à rejeição, qualquer observação negativa pode ser interpretada como uma prova de fracasso. Isso faz com que o indivíduo evite desafios e fuja de situações que envolvem exposição.
Baixa autoestima e insegurança emocional
A autoestima é construída sobre o olhar positivo do outro. Quando isso falta, o adulto tende a duvidar de suas próprias capacidades, comparando-se constantemente com os outros e sentindo-se inferior, mesmo quando não há motivos reais.
Relações afetivas desequilibradas
Pessoas que cresceram sem receber elogios muitas vezes têm medo de perder o amor dos outros e acabam se esforçando demais para agradar. Essa necessidade de aceitação pode gerar relacionamentos abusivos, nos quais a pessoa se anula para manter o afeto do outro.
O impacto psicológico a longo prazo

A falta de validação positiva na infância não se limita a comportamentos isolados. Ela influencia profundamente a estrutura emocional do indivíduo, afetando a forma como ele se percebe e se relaciona com o mundo. Entre os efeitos mais comuns estão a dificuldade em lidar com frustrações, ansiedade e medo de rejeição, perfeccionismo exagerado, tendência ao isolamento e sensação de vazio emocional.
Em alguns casos, esse padrão pode levar ao desenvolvimento de transtornos como depressão e ansiedade generalizada, especialmente quando associado a outros fatores de negligência afetiva.
Por que alguns pais não elogiam?
Nem sempre a ausência de elogios é intencional. Muitos pais acreditam que “excesso de elogios estraga” ou que o reconhecimento pode tornar a criança mimada. Outros simplesmente repetem padrões aprendidos de suas próprias infâncias, nas quais a expressão de afeto era limitada ou inexistente. Em famílias muito rígidas, o desempenho é visto como obrigação, e não como motivo de celebração.
Também há contextos culturais em que o elogio é confundido com fraqueza. Em algumas gerações, o amor era demonstrado por meio de atitudes práticas — oferecer comida, segurança, educação — e não por palavras de incentivo. No entanto, estudos mostram que o afeto verbal tem papel essencial na construção de uma personalidade emocionalmente estável.
Como reconstruir a autoestima na vida adulta
Reconheça o que faltou
O primeiro passo é admitir que a ausência de elogios gerou um vazio. Esse reconhecimento não é sobre culpar os pais, mas compreender como a falta de validação impactou sua autoestima. Entender a origem do problema é essencial para iniciar o processo de cura.
Elogie a si mesmo
Aprender a se elogiar é uma prática poderosa. Valorizar pequenas vitórias e reconhecer o próprio esforço ajuda o cérebro a criar novas conexões de autoconfiança. Um exercício simples é anotar, diariamente, três coisas boas que você fez — por menores que sejam.
Busque ambientes que reforcem o positivo
Cercar-se de pessoas que oferecem apoio e valorizam suas conquistas faz diferença. Relações saudáveis reforçam o sentimento de pertencimento e reduzem a necessidade de aprovação constante.
Invista em terapia
A psicoterapia é uma ferramenta eficaz para quem deseja ressignificar experiências passadas. O processo terapêutico ajuda o indivíduo a desenvolver autocompaixão, autonomia emocional e uma percepção mais realista de si mesmo.
Considerações finais
Crescer sem elogios não significa estar condenado à insegurança para sempre. A mente é plástica e capaz de aprender novas formas de enxergar o próprio valor. Ao reconhecer o impacto da infância, desenvolver autoconhecimento e cercar-se de relações saudáveis, é possível reconstruir uma base emocional sólida e equilibrada.
O afeto verbal é uma forma simples, mas poderosa, de moldar a autoestima. Se na infância ele faltou, na vida adulta é possível reaprender — e oferecer a si mesmo as palavras que um dia fez falta ouvir.













