Crise global da água: 1 em cada 4 habitantes do planeta não tem acesso seguro à água potável
O alerta das Nações Unidas
Um relatório recente da Organização das Nações Unidas expôs uma realidade alarmante: cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo ainda não contam com acesso considerado seguro à água potável. Isso significa que uma em cada quatro pessoas precisa recorrer a fontes que não garantem qualidade ou segurança mínima para o consumo diário.
De acordo com os dados, o cenário representa um obstáculo grave para o cumprimento da meta estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que prevê a universalização do acesso à água até 2030.
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O que caracteriza “acesso seguro” à água
Definição segundo a ONU
A ONU considera acesso seguro quando a água é obtida de fontes tratadas e confiáveis, distribuída próxima às residências, disponível em quantidade suficiente e protegida contra agentes contaminantes, tanto químicos quanto biológicos.
Diferentes níveis de acesso
- Gestão segura: padrão ideal, com tratamento e distribuição adequada.
- Serviço básico: quando existe acesso, mas distante da residência ou sujeito a interrupções.
- Serviço limitado: uso de poços ou bicas sem garantia plena de segurança.
- Fonte não tratada: consumo direto de poços artesianos, riachos ou cisternas.
- Água de superfície: retirada de rios e lagos, geralmente sem qualquer tratamento.
Atualmente, mais de 100 milhões de pessoas no planeta dependem exclusivamente de água de superfície, o nível mais precário e perigoso de abastecimento.
Avanços conquistados, mas insuficientes

Melhora desde 2015
Houve progresso nos últimos anos. Estima-se que quase 1 bilhão de pessoas conseguiram acesso mais seguro à água potável desde 2015, o que elevou a cobertura global de 68% para aproximadamente 74%.
Persistência do déficit
Apesar do avanço, a desigualdade permanece gritante. Cerca de 2,1 bilhões de habitantes ainda vivem sem garantia de abastecimento adequado, sendo que a maioria está concentrada em países da África Subsaariana e em regiões rurais da Ásia.
A água como direito humano
Reconhecimento internacional
Em 2010, a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução que reconhece o acesso à água e ao saneamento como um direito humano essencial. A medida definiu parâmetros de qualidade, disponibilidade e acessibilidade que devem ser assegurados por todos os países.
O papel do ODS 6
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 6 é específico: garantir água potável e saneamento seguro para toda a população mundial até 2030. Isso inclui investimentos em infraestrutura, tecnologias de tratamento, preservação de mananciais e políticas de gestão sustentável.
Impactos sociais e sanitários da falta de água
Doenças relacionadas
O consumo de água contaminada é uma das principais causas de diarreia infantil e de surtos de cólera, hepatite A, febre tifoide e parasitoses. Estima-se que centenas de milhares de mortes anuais poderiam ser evitadas apenas com acesso seguro e tratamento adequado da água.
Desigualdade de gênero e idade
Mulheres e meninas são as mais afetadas pela falta de água tratada. Em muitas comunidades, são elas as responsáveis por buscar água em longas distâncias, o que compromete tempo de estudo e de trabalho. Crianças, por sua vez, estão mais expostas a infecções que afetam diretamente o desenvolvimento físico e cognitivo.
O caso do Brasil
Avanços registrados
No Brasil, mais de 80% da população tem acesso regular à água tratada. No entanto, cerca de 30 milhões de brasileiros ainda não contam com fornecimento seguro, principalmente em áreas rurais, comunidades ribeirinhas e periferias urbanas.
Saneamento como desafio paralelo
Além da água, outro gargalo é o saneamento básico. Mais de 100 milhões de pessoas vivem sem coleta adequada de esgoto, o que compromete diretamente a qualidade da água disponível. O país ainda precisa investir de forma massiva para atingir as metas previstas no Marco Legal do Saneamento, que estipula universalização até 2033.
Barreiras para o acesso universal
Infraestrutura deficiente
Faltam sistemas de captação, tratamento e distribuição modernos em diversos países de baixa renda. Muitas redes são antigas, sofrem com vazamentos e não conseguem atender à demanda crescente.
Escassez agravada pelas mudanças climáticas
Secas prolongadas, desertificação e alterações no regime de chuvas aumentam a pressão sobre os reservatórios. Eventos extremos, como enchentes, também contaminam mananciais e ampliam o risco de doenças.
Gestão e financiamento
Em muitos locais, a ausência de investimentos públicos e a má gestão dificultam a expansão do acesso. Especialistas defendem parcerias entre governos, setor privado e organismos internacionais para ampliar a infraestrutura hídrica.
Caminhos possíveis para superar a crise
Mais investimentos e inovação
Ampliar o tratamento de água, modernizar redes de distribuição e incentivar soluções como dessalinização e reúso de água são alternativas já utilizadas com sucesso em algumas regiões.
Educação e conscientização
Campanhas de uso racional da água, redução de desperdícios e valorização dos recursos hídricos ajudam a criar uma cultura de preservação, fundamental para o futuro.
Cooperação internacional
A crise da água é global e exige esforços conjuntos. Compartilhar tecnologias, experiências e recursos financeiros pode acelerar a universalização do acesso.
Considerações finais: a urgência do tema
O alerta da ONU é contundente: um quarto da população mundial ainda não tem acesso seguro à água potável, recurso essencial para a vida, a saúde e o desenvolvimento econômico. Embora os avanços dos últimos anos sejam significativos, a meta de universalização até 2030 parece distante sem mudanças profundas em investimentos, gestão e comprometimento político.
Garantir água limpa e segura não é apenas uma questão de saúde pública, mas também de dignidade humana e de justiça social. A luta contra a crise hídrica precisa ser prioridade global, pois sem água potável não há desenvolvimento sustentável possível.

