A falta de profissionais disponíveis para vagas em supermercados brasileiros tem provocado mudanças significativas na forma de recrutamento no setor. Com cerca de 350 mil vagas abertas em todo o país, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) anunciou uma parceria inédita com o Exército Brasileiro para tentar suprir a demanda por mão de obra.
A iniciativa, que pretende aproveitar o perfil disciplinado e jovem dos ex-militares que concluem o serviço obrigatório, surge como resposta a uma tendência crescente: o desinteresse dos brasileiros, especialmente os mais jovens, por empregos formais e com horários fixos, como os oferecidos no varejo alimentar.
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Queda no interesse por empregos com carteira assinada
Embora o Brasil tenha registrado uma taxa de desemprego abaixo de 7% no primeiro semestre de 2025, muitos setores — principalmente o comércio — relatam dificuldade em atrair trabalhadores. A preferência de parte da população, sobretudo dos mais jovens, por formas de trabalho mais flexíveis, como autônomos e temporários, impacta diretamente o preenchimento de vagas com jornada fixa.
Setor supermercadista sofre com alta rotatividade
Segundo a Abras, um dos maiores desafios enfrentados atualmente é a baixa retenção de colaboradores. Muitos trabalhadores deixam o emprego em poucas semanas ou meses, em busca de alternativas mais livres, mesmo com menor estabilidade. Esse cenário pressiona redes de supermercados a inovarem no recrutamento.
Como funciona a parceria com o Exército?
Seleção de jovens recém-egressos do serviço militar
O projeto visa aproveitar os jovens que acabam de deixar o Exército, após o cumprimento do serviço militar obrigatório. Esses profissionais, com idades entre 18 e 21 anos, são vistos como perfis promissores para atuação no varejo por apresentarem características como pontualidade, disciplina e disposição física.
A proposta é simples: as redes supermercadistas, com apoio do Exército, vão mapear os perfis desses jovens e oferecer oportunidades de emprego diretamente a eles, muitas vezes com possibilidade de treinamento inicial já em ambiente militar.
Plataforma digital para facilitar o recrutamento
A Abras está desenvolvendo uma plataforma online voltada exclusivamente para a contratação desses ex-recrutas. O ambiente reunirá currículos, vagas disponíveis e informações sobre carreiras, conectando automaticamente supermercados de todo o país aos perfis militares liberados para o mercado de trabalho.
Parcerias podem se estender a outras forças armadas
Além do Exército, o projeto pode alcançar Marinha e Aeronáutica. Em estados como Rio de Janeiro e Espírito Santo, iniciativas locais já integraram militares à rotina de redes varejistas com bons resultados. A ideia é expandir o modelo para todas as regiões, aproveitando o fluxo anual de jovens que deixam as Forças Armadas.
Abras também quer atrair idosos e flexibilizar jornadas

Inclusão de trabalhadores com mais de 60 anos
A entidade também aposta na contratação de pessoas idosas, como forma de diversificar sua força de trabalho e melhorar o atendimento ao público. A maturidade, a experiência e a estabilidade desse grupo são considerados diferenciais importantes para postos de trabalho como recepcionistas, operadores de caixa e estoquistas.
Mudança no modelo de trabalho para atrair novos perfis
Outro movimento em curso é a negociação com o Ministério do Trabalho para permitir jornadas mais flexíveis no varejo. O objetivo é tornar as condições de trabalho mais atraentes para quem busca conciliar outras atividades, como estudos ou trabalho por conta própria, com o emprego formal em supermercados.
Obstáculos enfrentados pelas redes de supermercados
Salários pouco competitivos
Mesmo com carteira assinada, os salários oferecidos no setor ainda são considerados baixos. De acordo com o IBGE, a média salarial dos trabalhadores no comércio gira em torno de R$ 2.400, um dos menores entre os setores formais da economia. Isso reduz o apelo das vagas, especialmente em comparação com a possibilidade de ganhos variáveis em atividades autônomas.
Exigência de horários fixos
As escalas de trabalho tradicionais no varejo — incluindo turnos noturnos e finais de semana — representam um desafio à atratividade das vagas. Muitos jovens preferem modelos mais livres, o que tem forçado redes a repensarem a forma como organizam o trabalho interno.
Exemplos regionais: o que já está funcionando?
No Rio de Janeiro, parceria com Fuzileiros Navais
A Associação de Supermercados do Rio de Janeiro (Asserj) firmou parceria com o Corpo de Fuzileiros Navais, o que resultou na contratação de mais de 500 jovens militares nos últimos meses. Esses profissionais foram integrados a diversas funções, com alta taxa de permanência após o período de experiência.
Espírito Santo: capacitação ainda durante o serviço militar
No Espírito Santo, tramita uma proposta que visa permitir que os militares recebam formação profissional dentro dos quartéis, facilitando a transição para o setor privado ao fim do serviço. O projeto piloto prevê parcerias com instituições de ensino técnico e empresas locais.
Vantagens para os supermercados e para os jovens
Para os empregadores
Redução da rotatividade
Maior engajamento e responsabilidade
Possibilidade de formar talentos internamente
Para os jovens ex-militares
Primeira experiência profissional formal
Oportunidade de construir carreira em empresas sólidas
Possibilidade de promoção em curto prazo
O que esperar dessa estratégia?
A parceria entre supermercados e o Exército Brasileiro representa uma resposta direta à dificuldade de contratação em um momento de mercado de trabalho aquecido. Se bem implementada, pode beneficiar milhares de jovens que buscam inserção no mercado, além de resolver gargalos estruturais do setor supermercadista.
Para isso, será necessário:
Garantir capacitação básica para os novos contratados
Oferecer planos de crescimento interno
Estimular programas de incentivo à permanência no emprego
Considerações finais
A união entre o setor supermercadista e as Forças Armadas sinaliza uma mudança importante na forma como empresas estão lidando com os desafios da contratação formal no Brasil. O uso da estrutura militar para formar e direcionar jovens ao mercado pode não apenas preencher vagas em aberto, mas também criar um novo modelo de integração entre o serviço público e a iniciativa privada.
Com a evolução do projeto, outras categorias e setores podem adotar caminhos semelhantes, promovendo soluções criativas para uma realidade que exige flexibilidade, inclusão e inovação constante.













