A conexão entre mente e corpo nunca foi tão evidente. Uma pesquisa recente reforça essa relação ao indicar que a prática regular de exercícios físicos pode ter efeitos comparáveis ao uso de medicamentos antidepressivos no tratamento de quadros leves a moderados de ansiedade e depressão. A descoberta reacende o debate sobre alternativas complementares à medicação tradicional para melhorar a saúde mental.
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O experimento que comparou corrida com antidepressivo
Divisão dos participantes
A pesquisa incluiu 141 pessoas com diagnóstico clínico de transtornos de humor. Esses indivíduos foram divididos aleatoriamente em dois grupos:
- Grupo da corrida: participaram de sessões de corrida estruturadas ao ar livre, realizadas duas a três vezes por semana durante quatro meses.
- Grupo do antidepressivo: seguiram o tratamento convencional com medicamentos prescritos por psiquiatras.
Os dois grupos foram acompanhados ao longo de 16 semanas, período em que os pesquisadores mediram variáveis como melhora nos sintomas, efeitos adversos, capacidade física e bem-estar geral.
Resultados reveladores
Após quatro meses de acompanhamento, os dois grupos mostraram redução semelhante nos sintomas de ansiedade e depressão. Cerca de 44% dos participantes — tanto os que correram quanto os que tomaram medicação — apresentaram melhora significativa no estado emocional.
Entretanto, os efeitos colaterais foram bem diferentes:
- No grupo medicado, mais da metade relatou efeitos adversos como náuseas, tontura, fadiga, aumento de peso e alterações na pressão arterial.
- No grupo da corrida, a maioria dos participantes relatou ganhos na saúde física, como melhora da capacidade cardiorrespiratória, pressão arterial mais estável e mais energia no dia a dia.
O poder terapêutico da atividade física

Por que o exercício ajuda na saúde mental?
A prática regular de atividades físicas, como a corrida, está diretamente associada à liberação de endorfinas e serotonina — neurotransmissores que promovem sensação de prazer, alívio da dor e redução do estresse. Além disso, o exercício físico melhora a qualidade do sono, ajuda no controle da ansiedade e aumenta a autoestima.
Para pessoas com depressão leve a moderada, os exercícios podem ter efeitos semelhantes ao uso de antidepressivos, mas com a vantagem de atuar também na saúde física.
Exercício pode ser alternativa segura
Apesar de os medicamentos serem importantes e muitas vezes indispensáveis em casos graves, os resultados do estudo sugerem que, quando possível, o exercício físico pode ser considerado uma alternativa viável e segura, principalmente para quem deseja evitar os efeitos colaterais dos remédios ou busca uma abordagem mais natural.
É importante destacar, porém, que qualquer mudança no tratamento deve ser feita com acompanhamento profissional. A substituição de medicamentos por atividade física sem orientação adequada pode gerar riscos.
Desafios e obstáculos na adoção da corrida como tratamento
Adesão à atividade física é menor
Mesmo diante dos benefícios comprovados, o estudo mostrou que nem todos os participantes conseguiram manter a rotina de corrida. Enquanto 82% do grupo medicado seguiu corretamente o tratamento, apenas 52% dos que deveriam correr mantiveram o plano até o fim do experimento.
Entre os principais motivos para a desistência, estavam a falta de tempo, dificuldades de locomoção, dores físicas e desmotivação. Isso demonstra que, embora eficaz, a prática da corrida exige comprometimento, estrutura e apoio — fatores que, muitas vezes, não estão disponíveis para todos os pacientes.
O papel dos médicos e profissionais de saúde
Médicos, psicólogos e profissionais de educação física têm papel essencial na promoção do exercício como ferramenta terapêutica. Quando bem orientado, o paciente tem mais chances de aderir ao plano de atividades, percebendo os benefícios tanto físicos quanto emocionais.
Prescrever atividade física exige personalização. É necessário levar em conta o histórico do paciente, suas limitações, preferências e o contexto de vida. Correr pode ser eficaz para muitos, mas outras modalidades — como caminhada, natação, dança ou musculação — também demonstram efeitos positivos para a saúde mental.
Corrida: um remédio sem bula?
Correr regularmente transforma o corpo e a mente. A elevação do humor, o alívio de tensões e a melhora no condicionamento físico formam um ciclo de bem-estar que, segundo o estudo holandês, pode ser tão potente quanto uma prescrição médica. Para parte da população, a corrida pode representar uma rota viável, acessível e eficiente no combate à depressão.
Mas é fundamental lembrar: nem toda depressão é igual. Casos severos, com histórico de ideação suicida ou comorbidades graves, exigem intervenções mais intensas e integradas. A corrida não substitui o papel da psiquiatria — mas pode ser aliada.
Considerações finais
A pesquisa realizada pela Vrije Universiteit Amsterdam reforça o que outros estudos anteriores já indicavam: o exercício físico regular pode ser uma ferramenta poderosa no combate aos transtornos mentais. Em especial, a corrida se mostra promissora, tanto pela acessibilidade quanto pelos impactos globais sobre o corpo e a mente.
Para uma sociedade cada vez mais medicalizada, considerar soluções complementares e não farmacológicas é um passo importante. Não se trata de substituir o que funciona, mas de ampliar as possibilidades — e permitir que cada paciente encontre o caminho mais eficaz e sustentável para sua própria saúde mental.













