O debate sobre adoçantes e saúde mental
O consumo de adoçantes artificiais cresceu nas últimas décadas como alternativa ao açúcar, especialmente entre pessoas que buscam emagrecer ou controlar doenças como diabetes. No entanto, uma nova pesquisa realizada no Brasil reacende a discussão sobre os efeitos dessas substâncias na saúde do cérebro.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), trouxe evidências de que o uso frequente de adoçantes pode estar associado a um envelhecimento cerebral mais rápido e a um declínio cognitivo acelerado. Os resultados foram divulgados em uma importante revista científica e já estão provocando repercussão nacional e internacional.
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Como a pesquisa foi realizada
Base de dados utilizada
Os cientistas utilizaram informações do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil), um dos maiores projetos de acompanhamento de saúde já realizados no país. Esse levantamento segue milhares de voluntários há mais de uma década, registrando hábitos alimentares, condições médicas e desempenho cognitivo.
Quem participou
Mais de 12 mil pessoas, todas com idade a partir de 35 anos, foram acompanhadas. Elas responderam questionários detalhados sobre a alimentação, incluindo o uso de diferentes tipos de adoçantes artificiais, como aspartame, sacarina e xilitol.
Como o desempenho cerebral foi avaliado
Durante cerca de oito anos, os participantes passaram por testes que mediram funções como:
- memória de curto prazo
- fluência verbal
- velocidade de raciocínio
- capacidade de concentração
Com isso, os pesquisadores puderam observar a evolução cognitiva em paralelo ao nível de consumo dos adoçantes.
Principais achados da pesquisa
Acelerador do envelhecimento cerebral
Os dados mostraram que pessoas que consumiam grandes quantidades de adoçantes apresentaram um ritmo de envelhecimento do cérebro até 62% mais rápido em comparação com aqueles que usavam pouco ou nenhum.
Esse impacto foi traduzido em uma diferença equivalente a mais de um ano de envelhecimento cerebral adicional ao longo do período do estudo.
Áreas mais prejudicadas
As funções mais afetadas foram a fluência verbal — a capacidade de expressar ideias de forma rápida e organizada — e a memória. Em alguns casos, a deterioração foi mais do que o dobro da observada entre os que ingeriam pouco adoçante.
Diferenças entre grupos
- Indivíduos com menos de 60 anos já apresentaram sinais claros de queda cognitiva, sugerindo que o efeito não se restringe ao envelhecimento natural.
- Pessoas com diabetes, público que mais utiliza adoçantes, foram as mais impactadas, reforçando a necessidade de cautela.
Substâncias analisadas
Embora a maioria dos adoçantes tenha apresentado relação negativa, uma exceção foi a tagatose, que não demonstrou vínculo significativo com a perda cognitiva. Ainda assim, os cientistas alertam que isso não significa segurança absoluta.
Possíveis mecanismos explicativos
Alterações no metabolismo cerebral
Uma das hipóteses levantadas é que os adoçantes podem interferir no funcionamento de neurotransmissores, prejudicando áreas ligadas ao raciocínio e à linguagem.
Relação com a microbiota intestinal
Pesquisas anteriores já sugeriram que adoçantes artificiais alteram o equilíbrio da flora intestinal. Essa mudança pode gerar inflamações que atingem o sistema nervoso central, afetando diretamente a cognição.
Evidências em estudos com animais
Testes realizados com roedores também mostraram que altas doses de adoçantes provocam neuroinflamação e aumentam a vulnerabilidade a doenças neurodegenerativas.
Limitações do estudo
Apesar do impacto dos resultados, os próprios autores reconhecem limitações:
- Os dados foram obtidos por meio de questionários, sujeitos a falhas de memória dos participantes.
- Trata-se de um estudo observacional, ou seja, indica associação, mas não prova uma relação de causa e efeito.
- Nem todos os adoçantes atualmente populares, como a sucralose e a stévia, foram avaliados, pois ainda eram pouco usados no início da pesquisa.
Repercussões e alertas da comunidade científica
O posicionamento dos especialistas
Médicos e nutricionistas destacam que, embora o estudo não prove causalidade, os números são preocupantes e sugerem a necessidade de repensar o consumo diário de adoçantes.
A recomendação internacional
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia emitido orientações em 2023 pedindo cautela no uso de adoçantes artificiais como estratégia de emagrecimento. O estudo brasileiro reforça esse alerta, mas adiciona um novo ponto: o risco para a saúde do cérebro.
Discussão sobre políticas públicas
Com os novos dados, cresce a pressão para que fabricantes incluam informações mais claras nos rótulos e para que governos adotem campanhas educativas sobre os potenciais efeitos dessas substâncias.
O que o consumidor pode fazer
Moderação como palavra-chave
Os especialistas aconselham reduzir ao máximo o uso de adoçantes artificiais. Quando for necessário adoçar alimentos ou bebidas, priorizar opções naturais, como o mel, ou até mesmo reaprender a consumir com menos doçura.

Alternativas possíveis
- Frutas secas como passas ou tâmaras para adoçar preparos.
- Açúcares naturais em pequenas quantidades, como mascavo ou demerara.
- Adoçantes naturais como a stévia, que ainda precisa de mais estudos, mas é considerada menos agressiva.
Importância de um acompanhamento médico
Indivíduos que utilizam adoçantes diariamente, principalmente pessoas com diabetes, devem conversar com médicos e nutricionistas para avaliar alternativas seguras e personalizadas.
Considerações finais: repensar o hábito é essencial
O estudo conduzido pela USP lança luz sobre um tema que parecia inofensivo: o uso cotidiano de adoçantes artificiais. Os resultados indicam que essas substâncias, consumidas em excesso, podem acelerar o declínio cognitivo, afetando funções como memória e fluência verbal.
Embora ainda sejam necessárias novas pesquisas para confirmar causalidade, a mensagem principal é clara: adoçantes não devem ser encarados como soluções neutras ou livres de risco. O melhor caminho é a moderação, aliada a uma dieta equilibrada e a escolhas alimentares mais naturais.
Em um cenário de população cada vez mais preocupada com saúde mental e envelhecimento saudável, os dados da ciência brasileira servem como alerta. Repensar o uso de adoçantes pode ser um passo importante para preservar o cérebro no longo prazo.













