A Boa do Dia

Escola de elite é tomada por ‘espetáculo de preconceito’: “Sua mãe é empregada da minha”

By Bruno Piai

November 08, 2017

Era para ser um dia de festa durante a final de um campeonato de basquete juvenil masculino no ginásio do IFRN Central, em Natal (RN). Com as arquibancadas lotadas, o time da casa, o IFRN, foi superado por 56 a 44 pela equipe do Colégio Marista. Contudo, o que era para ser apenas mais um jogo logo se transformou em um verdadeiro espetáculo de preconceito e intolerância durante a “comemoração” de parte da torcida da equipe campeã.

Durante a entrega das medalhas de ouro, torcedores e familiares dos jogadores entraram na quadra para comemorar a conquista dos alunos atletas. Até aí, não havia problema. Entretanto, sem qualquer senso de noção ou de limite, os adeptos do Marista começaram a gritar frases ofensivas e preconceituosas contra a torcida e os jogadores do time rival.

“O meu pai come a sua mãe” e “Sua mãe é minha empregada” (frase utilizada da maneira mais pejorativa possível) foram apenas alguns dos gritos entoados por parte da torcida, que completou o coro ao som de “1, 2, 3, 4, 5 mil. Queremos Bolsonaro presidente do Brasil”.

O show de misoginia e discriminação motivou o Grêmio Estudantil Djalma Maranhão, do IRFN, a se manifestar em nota:

“(…) Durante a final do basquete juvenil masculino dos JERNs entre IFRN-CNAT e Marista, tivemos o desprazer de vivenciar no ginásio de nossa escola um lamentável episódio de disseminação do discurso de ódio manifestado pela torcida da equipe visitante.

1, 2, 3, 4, 5 mil. Queremos Bolsonaro presidente do Brasil”, “O meu pai come a sua mãe” e “Sua mãe é minha empregada” (essa última sendo usada de forma pejorativa, ao nosso ver, com intuito de desmerecer a profissão de inúmeras mulheres brasileiras) foram alguns dos cânticos de cunho misógino e discriminatório entoados pela torcida do Marista – uma afronta ao que está posto em nossa Constituição e, sobretudo, aos Direitos Humanos.

Momentos como esse revelam um pouco das intenções políticas de, infelizmente, boa parcela da sociedade brasileira: de levar a presidência um deputado extremamente machista, LGBTfóbico, racista e defensor de um dos períodos mais sombrios da História do Brasil, os “Anos de Chumbo” da Ditadura Civil-Militar (1964-1985); de reverter direitos conquistados com muito empenho e suor pelas minorias e camadas desfavorecidas social e economicamente ao longo dos anos; e, em especial, de cercear as nossas liberdades individuais e coletivas.

Além disso, é bastante triste ver que, mesmo com toda a ascensão da luta dos movimentos sociais por um país livre de qualquer opressão, mais justo e digno para toda a população, ainda há uma juventude que não reconhece esse avanço e propaga ideais tão intolerantes e hostis.

Acreditamos que pensamentos, tais quais os manifestados na tarde de ontem, vão totalmente de encontro aos valores de tolerância, inclusão e cidadania fomentados pelas diversas práticas esportivas e não compactuam nem um pouco com os princípios pregados por uma Instituição de Ensino como o Marista.

Por fim, apesar desses insultos, que tem por fito discriminar e oprimir, não serem tão incomuns, cremos sim na possibilidade de um mundo melhor, pois já dizia Paulo Freire: mudar é difícil, mas é possível.”

Não é a primeira vez

Vale ressaltar que o ocorrido não é a primeira vez em 2017 que o Colégio Marista tem seu nome envolvido em polêmica. Em junho, uma unidade de Porto Alegre protagonizou a festa “Se nada der certo“.

De maneira pejorativa, os alunos se fantasiaram de faxineiras, atendentes do McDonalds, porteiros e outras profissões às quais julgam como “sinônimo de fracasso”.