Uma história que é realmente capaz de emocionar qualquer um que lê é a de uma idosa apelidada de ‘Cotinha’ ou ‘Cota’. Durante 50 anos, a mulher sem identidade viveu dentro de um hospital, em Araraquara.
Ninguém realmente sabe quem ela é, qual seu nome e quando chegou lá, na Beneficência Portuguesa. Tudo o que sabem é que Cota chegou junto do irmão, de quatro anos, que morreu após um atropelamento por um caminhão. O menino não resistiu, mas ela ficou totalmente enfaixada com apenas os olhos para fora.
“O pessoal fala que foi um acidente perto do [bairro] Quitandinha. Falam que quando ocorreu o acidente ali ainda não tinha o pontilhão que tem hoje. Como o pontilhão tem em torno de 50 anos, a gente acredita que ela tem entre 62 e 65 anos”, disse Glaucia, cuidadora que mais tarde mudou a vida de Cota, ao G1. “Dizem ainda que ela ficou seis anos enfaixada, internada no hospital, período que teria sofrido muitas dores.”

Para falar a verdade, a cuidadora chegou a conhecer Cota depois que o local foi privatizado. A mulher antes trabalhava em uma lavanderia, passando e dobrando roupas. Mas após sofrer alguns problemas respiratórios, decidiram transferi-la para a cozinha. Logo, ela e Glaucia se conheceram.
Mas o grande momento ainda estava por vir. A idosa viveria uma situação conturbada após o fechamento do hospital, que deixou mais de 300 pessoas desempregadas. Cota acabou sendo levada para uma casa que abriga mulheres vítimas de violência. Mas Glaucia não conseguiria deixá-la lá. Ela procurou pelos antigos chefes e autoridades para saber o paradeiro dela.
“Eu fui atrás para ver como ela estava. Pegaram ela na quinta-feira à tarde e eu fui na sexta-feira de tardezinha. Ela chorava sem parar e repetia que queria ir embora. Eu prometi que em três dias tirava ela de lá, mas eu falei da boca pra fora, só para confortar, não acreditava que ia conseguir. Aí, eu liguei para uma assistente social que era amiga da minha mãe, liguei para as pessoas certas e na segunda-feira eu peguei ela”, contou ao G1.

“Quando o hospital fechou, eu entrei em desespero e falei: ‘não posso abandonar a Cota. Se faço isso agora, ela vai ficar ao Deus dará. Não vai ter alguém para cuidar dela. Eu fui mais na emoção, não pensei no dia de amanhã. Eu pensei que ia pegar, ela ia ficar comigo um tempo e depois a gente ia voltar para Beneficência. Ela ia voltar para o cantinho dela, eu ia voltar a trabalhar”, contou a cuidadora.
Apesar do ”sonho”, o hospital não reabriu, mas ela acabou conseguindo um trabalho mais tarde em uma casa de repouso.

De qualquer forma, Glaucia não reclama e adora cuidar da idosa. A única coisa que é um pouco mais complicada é a alimentação que deve ser pastosa, já que ela não come sólidos.
Além disso, para se comunicar, a mulher está sempre tentando fazer gestos e voz de criança para que ela a compreenda com mais facilidade.
“Faltou a Cota crescer. Ao mesmo tempo em que ela sabe o que é errado, que cresceu trabalhando, ela brinca como a Emilly. Ela tem duas bonecas que ela ama de paixão e esconde porque tem ciúmes. Um dia eu entrei no quarto dela à noite e ela estava fazendo a boneca dormir”, disse.













