Até parece que você nunca ouviu comentários como “bolsa família só serve para sustentar vagabundo”, que cotas só ajudam na desigualdade, entre muitas outras coisas do tipo. Todo mundo sabe que a meritocracia não é lá tão justa quanto muitos falam que é…
A ideia de Felipe Silva, publicitário, redator de uma das maiores agências de publicidade do mundo (tem até um leão em Cannes) era desmistificar tudo isso e mostrar como um cara como ele, pobre, favelado e negro, chegou onde chegou, passando por escolhas difíceis durante todo o processo.
A sua postagem foi criada por causa do nascimento de seu filho, Murilo. Felipe achou que antes de apresentá-lo a todos, deveria apresentar a si mesmo primeiro.

Ele escreve como era em 2001: “Segundo grau completo em escola pública com um ano de antecedência, mas claro, nunca passaria num vestibular pra faculdade pública. Sem dinheiro, sem emprego. Duas saídas: escolha fácil, o tráfico de drogas! Direto, rápido, poder batendo na porta. Dinheiro sobrando pra esbanjar. Tava ali, era só querer”.
E a escolha difícil: “Projeto social do Governo do Estado para jovens de comunidades carentes. Ser Aux. de Serviços Gerais. Literalmente: faxineiro de órgão público”. E acabou virando faxineiro do hospital da Polícia Militar.
Ele teve mais escolhas difíceis aparecendo continuamente em sua vida. A segunda delas era a possibilidade de entrar para o tráfico, se vingar após os tiros de fuzis em sua porta após invasão da polícia. E a escolha difícil foi a que ele tomou: juntou dinheiro para a faculdade.

“Mas pobre não tem nada a perder. “Se você não tem saída, vença!” Foi o que eu fiz”, encerra ele o primeiro ato. E então chega o ano de 2016:
“Eu, 33 anos. Preto, casa de dois andares, carro. Viagem pra NY. Redator de uma das maiores agências de publicidade do mundo. Leão em Cannes. Mais de 200 livros lidos. Tatuaram uma frase minha na pele. Projeto humano com mais de 1500 kits mensais para moradores de rua. Construí uma casa pra minha mãe”.
“E hoje, vejo nas timelines que só se entra no crime porque quer. Que a oportunidade está aí. Que é só querer. Que é só se esforçar. Que meritocracia funciona. Que bolsa família faz o pobre não trabalhar. Que ajuda do governo deixa pobre mal acostumado. Que a polícia tem que invadir a favela e dar tiro”, conta.

Felipe diz que as coisas só vão mudar quando perceberem: “Que eu sou gente. Que eu tenho sonhos. Que eu não quero ser parado na rua porque sou preto. Ser olhado feio porque sou pobre. Antes de falar de preto, de pobre, de favelado. Saibam: todos esses sou eu. E te digo: viver no morro é uma merda. Ser pobre é uma bosta”.
E finaliza: “Mas hoje vocês vão poder saber porque eu vou olhar nos olhos dele (seu filho) com a certeza de que não arredei o pé da honestidade. Não fiz concessões. Não dei um passo atrás. Não falsifiquei 1 porra de carteirinha de estudante sequer”.
E aí? O que você achou disso?
Beatriz Ponzio
Texto original? Só clicar aqui: https://goo.gl/E1he9I












