Geralmente o modo mais prático de conhecer alguém é olhando em seu rosto. Mas por mais que isso seja algo rotineiro e simples, para algumas pessoas não é o suficiente. O caso da britânica Evie Prichard, de 24 anos, é de longe muito curioso. Ela tem uma desordem chamada prosopagnosia, ou popularmente chamada de “cegueira para feições”. Ela deu uma entrevista e contou como descobriu esse peculiaridade em sua vida.

“Eu tinha 19 anos quando esbarrei com um desconhecido em uma festa e perguntei se ele conhecia um ex-namorado com quem havia rompido meses antes. Aquela camisa floral e o aroma do perfume CK One deveriam ter sido suficientes para me alertar sobre quem estava ali, mas por alguma razão esses sinais me fizeram pensar que aquele estranho era um amigo do meu ex, que talvez tivesse pegado emprestado sua camisa e seu perfume. Infelizmente, como em várias outras ocasiões, o instinto de detetive que me acompanha nas interações sociais tinha me deixado na mão – o sujeito era meu ex.

Tudo o que ele tinha feito era cortado o cabelo e raspado a barba rala, mas como eu estava de salto alto nossa diferença de altura também não aparecia. Minha cegueira para feições significa que aposto em sinais como estilo de cabelo e altura para diferenciar as pessoas, e sem essas coisas eu fico totalmente à deriva. Nesse sentido foi até um triunfo: certamente o ego dele deu uma desinflada. Mas também foi uma das várias ocasiões em que minha cegueira para feições me fez passar por idiota.

Para mim, um rosto é como um sonho. É incrivelmente vívido no momento, mas se esvai segundos depois, até restarem apenas características desconectadas e uma vaga memória de como aquela face me fez sentir na hora. Viver com um cérebro que não conta com essa função crucial pode ser muito desgastante, mas na maior parte do tempo é algo apenas inconveniente e – muito – constrangedor.”

Prosopagnosia é uma condição neurológica onde a parte do cérebro que reconhece rostos não se desenvolve como deveria. Ela pode impedir que as pessoas reconheçam seus parceiros, familiares, amigos e até mesmo a própria imagem. De começo pensava-se que isso era uma consequência de lesões no cérebro, mas foi descoberto um elo genético que liga a condição dos pacientes. “Até recentemente pensava-se que a prosopagnosia era uma condição muito rara que resultava de dano cerebral, mas ela é mais comum como desordem genética. E está na minha família – afetou minha mãe, minha avó e minha bisavó, embora minha irmã Rosa tenha aparentemente escapado da maldição”, explica Eve.

Não existe um tratamento específico, mas existem tratamentos que podem aprimorar a detecção de rostos. Segundo Evie, as situações são tão extremas que ela deixa de reconehcer pessoas do seu convívio diário. “Houve até uma vez em que me vi no espelho em um bar e realmente não me reconheci. Cheguei a ter alguns pensamentos bem críticos sobre minha própria cara suada antes de perceber que o alvo da minha crítica era eu mesma. Outro dia, minha mãe, que tem cabelos enrolados, fez uma escova e eu passei direto por ela na rua”, afirma.
Em alguns relatos de outras pessoas com a mesma desordem, já houve mulheres que pediram desculpa para um desconhecido por tê-lo beijado achando que era seu próprio marido. O caso de Eve pode ser considerado leve perto de outras situações, já que ela não reconhece as pessoas depois de algumas mudanças no corte do cabelo, barba, acessórios e afins. “A situação é pior para muitas pessoas. Ouvi histórias de gente que foi roubada por estranhos que se passaram por parentes e de crianças andando com homens desconhecidos”, conta Eve.

“Por sorte, nada disso aconteceu comigo quando era criança – sei do meu problema por toda a vida, então sempre fui cautelosa. Para mim era quase impossível reconhecer meus colegas na escola, o que fazia do ato de fazer e manter amigos uma luta. Ainda lembro de vagar chorando pelos corredores no primeiro dia do ginásio: tinha ido ao banheiro e não sabia para qual sala voltar porque não reconhecia a professora nem os alunos. As pessoas costumam ficar perplexas quando conto sobre minha prosopagnosia. Na verdade já vi todo tipo de reação, de descrença à fascinação e riso histérico. Um homem até me acusou – pelas minhas costas – de inventar a história para paquerá-lo”, afirma ela.












