O mito e a realidade de “funcionar com poucas horas de sono”
É comum ouvir alguém dizer que consegue viver bem em dormir apenas quatro ou cinco horas por noite. Enquanto para a maioria das pessoas a privação de sono gera cansaço, queda de rendimento e problemas de saúde, há indivíduos que realmente parecem não sofrer consequências significativas. A ciência vem estudando esse fenômeno e já encontrou pistas que ajudam a explicar como algumas pessoas conseguem acordar bem mesmo dormindo pouco.
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A genética por trás do sono curto
Alterações em genes ligados ao sono
Pesquisadores identificaram mutações genéticas que fazem com que certas pessoas precisem de menos horas de descanso. Uma delas está associada ao gene SIK3, que regula processos do relógio biológico. Essa modificação acelera os mecanismos de restauração do organismo durante o sono, permitindo que, em menos tempo, o corpo realize funções essenciais como reparo celular e consolidação da memória.
Eficiência maior no ciclo do sono
Outro ponto relevante é a eficiência com que essas pessoas entram nas fases mais profundas do sono. Enquanto um indivíduo comum precisa de sete a oito horas para alcançar ciclos completos de descanso, quem possui tais mutações pode atingir rapidamente os estágios restauradores, reduzindo o tempo total de sono necessário.
Síndrome do sono curto: uma condição real
O que é a síndrome
A chamada síndrome do sono curto descreve pessoas que dormem entre quatro e seis horas por noite e, mesmo assim, apresentam plena disposição durante o dia. Ao contrário de quem sofre de insônia ou privação de sono, esses indivíduos não acumulam fadiga nem dependem de cochilos compensatórios.
Casos raros e estudados
Estima-se que apenas uma pequena parcela da população possua essa condição. Casos vêm sendo estudados em universidades dos Estados Unidos e da Europa, com acompanhamento de famílias em que a característica se repete entre gerações, reforçando o fator hereditário.
O papel do ritmo circadiano
Cronotipos diferentes
O ritmo circadiano — o “relógio interno” que regula nosso ciclo de sono e vigília — varia de pessoa para pessoa. Existem os chamados cronotipos, que explicam por que alguns funcionam melhor pela manhã, enquanto outros são mais produtivos à noite. Indivíduos com sono curto muitas vezes possuem um cronotipo diferenciado, que otimiza o descanso em menos horas.
Sono polifásico
Outra hipótese estudada é o sono polifásico, em que o descanso ocorre em pequenos blocos ao longo do dia, em vez de um único período noturno. Esse modelo foi adotado historicamente por figuras como Leonardo da Vinci e Nikola Tesla. Embora não seja uma prática recomendada para a população geral, mostra que o organismo humano tem certa flexibilidade quanto ao modo de dormir.
Os riscos para quem força o corpo a dormir pouco

Privação disfarçada
Apesar dos relatos de quem diz “se acostumar” a dormir menos, a ciência é clara: para a maioria das pessoas, a privação de sono é prejudicial. Funcionários que reduzem o descanso por rotina de trabalho ou estudos podem sentir no início uma falsa adaptação, mas os efeitos negativos aparecem com o tempo.
Consequências para a saúde
Dormir menos do que o necessário aumenta o risco de hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade e problemas cardíacos. Além disso, prejudica a memória, a concentração e eleva a chance de desenvolver transtornos de humor, como ansiedade e depressão.
Impactos no desempenho
Mesmo que alguém se sinta aparentemente bem após poucas horas de sono, testes cognitivos mostram queda de atenção e reflexos. No trânsito ou em tarefas de alta responsabilidade, isso pode gerar acidentes graves.
Distúrbios ligados ao sono curto
Síndrome do atraso das fases do sono
Algumas pessoas confundem sono curto com distúrbios como a síndrome do atraso das fases do sono, em que o indivíduo adormece tarde e acorda tarde. Diferente do sono curto, essa condição não significa dormir menos, mas sim ter horários desalinhados com a rotina social.
Insônia versus sono curto natural
Outro equívoco comum é associar a síndrome do sono curto à insônia. Enquanto quem sofre de insônia luta para dormir e acorda cansado, o sono curto genuíno se caracteriza por descanso eficiente em menos tempo, sem prejuízos à disposição.
Hábitos que ajudam a acordar bem
Higiene do sono
Independente de quantas horas você dorme, a qualidade do sono depende de práticas chamadas de higiene do sono: manter horários regulares, reduzir o uso de telas à noite, evitar cafeína no fim do dia e preparar um ambiente adequado para dormir.
Exposição à luz natural
A luz solar ajuda a regular a produção de melatonina, hormônio essencial para o sono. Pessoas que se expõem à luz natural durante o dia e evitam iluminação intensa à noite tendem a dormir melhor.
Exercícios físicos
Atividades físicas regulares favorecem o descanso profundo. Porém, treinos intensos próximos ao horário de dormir podem ter efeito contrário, aumentando a excitação do organismo.
A ciência do sono no futuro
Personalização do sono
Com os avanços em genética e neurociência, especialistas acreditam que, no futuro, será possível personalizar recomendações de sono. Em vez de uma regra geral de “8 horas por noite”, cada pessoa poderá seguir orientações específicas de acordo com seu perfil biológico.
Novas descobertas
Pesquisas em andamento buscam compreender quais genes e proteínas estão envolvidos no processo de reparo celular durante o sono. Isso pode abrir caminho para tratamentos que ajudem pessoas com distúrbios do sono e até para aumentar a produtividade sem comprometer a saúde.
Considerações finais
Dormir pouco e acordar bem é uma realidade apenas para um grupo muito restrito de pessoas, em sua maioria influenciadas por fatores genéticos. Para a maioria da população, cortar horas de descanso significa comprometer a saúde e o desempenho. A ciência mostra que o sono é um dos pilares da longevidade e do bem-estar, e respeitar as necessidades individuais é fundamental.













