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Dose única que pode mudar o tratamento do diabetes tipo 1 surpreende especialistas

Estudo clínico mostra que pacientes tratados com nova terapia celular viveram um ano sem injeções de insulina

A medicina pode estar à beira de uma revolução no tratamento do diabetes tipo 1. Um novo tratamento experimental, baseado em terapia celular e desenvolvido pela farmacêutica americana Vertex, mostrou resultados promissores: 83% dos pacientes ficaram livres da necessidade de insulina após receberem uma única infusão da terapia. A pesquisa foi apresentada em uma conferência internacional de diabetes nos Estados Unidos e publicada em uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo.

A notícia acendeu esperanças entre os milhões de pacientes que lidam com a rotina exaustiva de aplicações de insulina e o constante monitoramento da glicose no sangue. Mas, apesar do entusiasmo, especialistas ressaltam que a terapia ainda está em fase experimental e levanta questões sobre segurança e acesso.

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Como funciona o novo tratamento

A base da inovação: células que produzem insulina

O tratamento, conhecido até agora pelo nome experimental Zimislecel (ou VX‑880), utiliza células derivadas de células-tronco humanas para formar estruturas semelhantes às ilhotas pancreáticas — responsáveis pela produção de insulina em pessoas saudáveis. Essas células são cultivadas em laboratório e, após atingirem o estágio desejado, são infundidas no fígado dos pacientes, onde passam a exercer a função do pâncreas.

Aplicação simples, mas efeito profundo

O procedimento é feito por via intravenosa, em ambiente hospitalar. Uma vez aplicadas, as células passam a monitorar os níveis de glicose no sangue e a produzir insulina automaticamente, conforme necessário. Ou seja, o organismo volta a regular a glicemia de forma autônoma, como acontecia antes da manifestação da doença autoimune.

O impacto nos pacientes

Resultados do estudo clínico

O ensaio clínico, ainda em fase inicial, acompanhou 12 pacientes com diabetes tipo 1 que receberam a dose completa do tratamento. Após 12 meses, 10 deles conseguiram manter os níveis de glicose sob controle sem necessidade de insulina externa. Os demais apresentaram melhorias, ainda que não completas, e continuam sendo monitorados.

Esses pacientes também registraram queda significativa nos episódios de hipoglicemia grave — um dos principais riscos para quem convive com a doença.

Qualidade de vida transformada

Além de deixar as seringas de lado, os pacientes relataram melhora no bem-estar emocional, mais liberdade para realizar atividades físicas e menos preocupação com possíveis picos de glicose durante o sono ou em situações de estresse.

Por que o diabetes tipo 1 é tão desafiador

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Imagem – Bestofweb/Freepik

Doença autoimune e sem cura

O diabetes tipo 1 ocorre quando o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Essa condição geralmente aparece na infância ou adolescência, mas pode surgir em adultos. Não há cura conhecida, e o tratamento envolve injeções diárias de insulina e controle rigoroso da alimentação e dos níveis de açúcar no sangue.

Riscos permanentes

Mesmo com tratamento adequado, o diabetes tipo 1 impõe riscos elevados de complicações como cegueira, insuficiência renal, doenças cardiovasculares e amputações. A nova terapia, portanto, não apenas promete conforto, mas pode reduzir o impacto dessas comorbidades a longo prazo.

Limitações e desafios

Imunossupressão obrigatória

Um dos obstáculos da nova terapia é a necessidade de uso contínuo de medicamentos imunossupressores. Isso é necessário para evitar que o corpo rejeite as células infundidas. No entanto, essa supressão do sistema imunológico aumenta a vulnerabilidade a infecções e, em casos raros, pode favorecer o desenvolvimento de certos tipos de câncer.

Dois participantes do estudo vieram a óbito durante o acompanhamento — um deles por infecção fúngica, e outro por um quadro de demência preexistente. Os pesquisadores afirmam que as mortes não foram causadas diretamente pela terapia, mas o fato acendeu alertas.

Custo e acesso

Outro desafio é o custo do tratamento. Como a produção das células em laboratório é complexa, estima-se que o valor final da terapia seja alto. Além disso, será necessário negociar com sistemas públicos e privados de saúde para garantir acesso equitativo, caso ela seja aprovada.

O que dizem os especialistas

Pesquisadores e endocrinologistas veem o tratamento com entusiasmo, mas recomendam cautela. Segundo eles, é preciso confirmar a durabilidade dos efeitos a longo prazo, especialmente após três, cinco ou dez anos. Também será necessário verificar como o organismo reage a esse tipo de terapia em pessoas com outras doenças crônicas ou com histórico de rejeição a tratamentos biológicos.

Além disso, estudiosos defendem o desenvolvimento de versões futuras da terapia que não exijam imunossupressão contínua. Isso poderia ocorrer, por exemplo, com células encapsuladas que não entram em contato direto com o sistema imunológico, mas ainda assim produzem insulina.

Próximos passos da pesquisa

Expansão para novos grupos de pacientes

A empresa responsável pelo estudo já iniciou uma nova fase de testes, com número maior de voluntários e critérios de seleção mais abrangentes. Entre os novos participantes estão pessoas com formas mais leves da doença, adultos mais velhos e pacientes que receberam transplantes renais, já acostumados ao uso de imunossupressores.

Submissão para aprovação regulatória

Caso os resultados positivos se mantenham, a Vertex deve submeter o tratamento às agências reguladoras dos Estados Unidos, Europa e demais países a partir de 2026. A expectativa é que, após a aprovação, o Zimislecel se torne a primeira terapia celular aprovada para o tratamento do diabetes tipo 1 no mundo.

Comparações com outros tratamentos

Transplante de pâncreas e ilhotas

Atualmente, o transplante de ilhotas pancreáticas humanas é uma opção em centros especializados, mas depende de doadores e apresenta taxa de sucesso variável. O tratamento experimental se destaca por usar células produzidas em laboratório, o que elimina a escassez de doadores e permite maior padronização.

Insulinas modernas e tecnologia de monitoramento

Embora as insulinas de ação ultralonga e as bombas de infusão tenham facilitado o manejo do diabetes, nenhuma solução atual oferece a autonomia completa proporcionada por uma produção natural de insulina pelo próprio organismo. Nesse sentido, o zimislecel representa um salto.

O futuro do tratamento do diabetes tipo 1

A descoberta abre caminho para uma mudança de paradigma no combate à doença, saindo da lógica de controle contínuo e entrando na era das terapias regenerativas e funcionais. Ainda há obstáculos no caminho, mas a possibilidade de oferecer uma única aplicação capaz de restaurar o equilíbrio glicêmico por tempo indeterminado coloca o zimislecel como um dos avanços médicos mais promissores da década.


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