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Como um professor e uma parlamentar negra transformaram o Dia do Professor em símbolo da educação brasileira

O nascimento de uma data que mudou a educação brasileira

Celebrado em 15 de outubro, o Dia do Professor é uma das datas mais importantes do calendário nacional. O que poucos sabem é que sua criação tem raízes em duas trajetórias distintas, mas complementares: a de Salomão Becker, um professor da rede pública paulista que propôs a primeira comemoração em 1947, e a de Antonieta de Barros, uma professora, jornalista e parlamentar negra que transformou essa homenagem em lei em Santa Catarina.

Quase oito décadas depois, o gesto desses dois personagens representa mais do que uma simples celebração — é um marco da valorização do magistério e da luta pela educação pública no Brasil.

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Uma data inspirada na história da educação

A origem em 1827: o decreto de Dom Pedro I

A escolha do 15 de outubro não foi aleatória. Nesse mesmo dia, em 1827, Dom Pedro I sancionou a primeira lei brasileira voltada à instrução primária, determinando a criação de escolas em todas as vilas e cidades do Império. A norma, embora pouco aplicada na prática, se tornou símbolo do ensino básico e referência histórica para as gerações seguintes de educadores.

Foi justamente esse decreto imperial que, mais de um século depois, inspirou a ideia de usar o 15 de outubro como data oficial para homenagear os professores.

Salomão Becker e a semente plantada em São Paulo

O professor que transformou um recomeço em celebração

Em 1947, o professor Salomão Becker, que lecionava no tradicional Ginásio Caetano de Campos, em São Paulo, percebeu o desgaste emocional e físico dos colegas e alunos após meses de aulas intensas. Para quebrar a rotina e promover um momento de reflexão, propôs um dia de descanso e confraternização — uma pausa pedagógica dedicada ao diálogo sobre o papel do professor.

Ele escolheu o 15 de outubro, evocando o antigo decreto de 1827, e o chamou de “Dia do Professor”. A ideia era simples, mas poderosa: reconhecer o trabalho de quem forma gerações e fortalecer o vínculo entre educadores, alunos e famílias.

A rápida difusão entre as escolas paulistas

O gesto de Becker rapidamente ganhou força. No ano seguinte, escolas públicas e particulares de São Paulo aderiram à celebração. O evento se espalhou espontaneamente, com homenagens, festas e discursos sobre a importância do magistério.

O que começou como uma iniciativa local logo se transformou em um movimento cultural. Professores de diferentes estados passaram a replicar a data, consolidando o 15 de outubro como o principal dia de homenagem à profissão.

Antonieta de Barros e a oficialização em Santa Catarina

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Imagem: Acervo do Museu da Escola Catarinense (Mesc/Udesc)

Quem foi Antonieta de Barros

Nascida em 1901, em Florianópolis, Antonieta de Barros foi uma mulher à frente de seu tempo. Filha de uma ex-escravizada, ela cresceu enfrentando o racismo estrutural e as barreiras impostas às mulheres negras. Tornou-se professora, jornalista e, em 1934, foi eleita deputada estadual — a primeira mulher negra a ocupar um cargo legislativo no Brasil.

Sua trajetória foi marcada pela defesa da educação como instrumento de emancipação social. Antonieta acreditava que ensinar era um ato político e que o reconhecimento dos professores era fundamental para transformar o país.

A lei que fez história

Em 1948, Antonieta apresentou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina o projeto que instituía oficialmente o Dia do Professor em 15 de outubro. A proposta foi aprovada por unanimidade, resultando na Lei Estadual nº 145/1948, que transformou a data em feriado escolar.

A escolha do mesmo dia proposto por Salomão Becker não foi coincidência. Antonieta conhecia o simbolismo histórico do 15 de outubro e via nele uma oportunidade de valorizar os educadores, sobretudo aqueles que, como ela, enfrentavam o preconceito e a invisibilidade social.

Um ato político e simbólico

Para Antonieta, oficializar o Dia do Professor era mais do que criar um feriado. Era uma declaração de respeito ao magistério e uma forma de pressionar o poder público por melhores condições de trabalho e reconhecimento salarial.

A lei catarinense se tornou um marco e inspirou outros estados a adotarem a mesma data. Seu gesto pioneiro abriu caminho para o reconhecimento nacional, que viria anos depois.

Do gesto individual ao reconhecimento nacional

A disseminação pelo Brasil

Com a repercussão das iniciativas de Becker e Antonieta, a celebração se espalhou rapidamente. Escolas em diversos estados começaram a adotar o 15 de outubro como dia de homenagens, palestras e eventos. Em pouco tempo, a data tornou-se um consenso entre educadores e secretarias de ensino.

A oficialização federal em 1963

O reconhecimento nacional veio em 14 de outubro de 1963, quando o então presidente João Goulart sancionou o Decreto Federal nº 52.682, tornando o 15 de outubro o Dia do Professor em todo o território brasileiro.

O decreto determinava que as escolas suspendessem as aulas e realizassem cerimônias para celebrar o papel do professor na formação da sociedade. Assim, a união entre um gesto espontâneo e uma iniciativa legislativa resultou em um símbolo duradouro da educação brasileira.

Dois caminhos, um mesmo propósito

Salomão Becker e Antonieta de Barros: trajetórias que se cruzam na história

Embora nunca tenham trabalhado juntos, Becker e Antonieta partilharam o mesmo ideal: o reconhecimento dos professores. Ele, através de um gesto pedagógico e comunitário; ela, por meio da atuação política e institucional.

O professor simbolizou a voz da base — os educadores da sala de aula —, enquanto a parlamentar levou essa pauta ao poder público, transformando-a em lei. Juntos, representam o encontro entre a prática docente e a política educacional.

A importância da representatividade negra e feminina

A presença de Antonieta de Barros nesse processo também carrega um peso histórico inestimável. Em uma época em que o racismo e o machismo eram ainda mais explícitos, sua atuação na política e na educação representou um ato de resistência.

Sua contribuição reforça que o Dia do Professor é também uma celebração da diversidade e da luta por igualdade. Valorizar essa memória é essencial para compreender a amplitude do legado educacional brasileiro.

Impactos e significados atuais

O valor simbólico da data

Mais do que uma pausa no calendário escolar, o Dia do Professor é um convite à reflexão sobre o papel dos educadores. É uma oportunidade de discutir salários, condições de trabalho, políticas públicas e, sobretudo, respeito social à profissão.

A data, nascida da união de um professor e de uma mulher negra parlamentar, sintetiza a ideia de que educar é um ato coletivo e político, que transcende gerações.

Reconhecer a história é valorizar o presente

Em um país onde o magistério ainda enfrenta baixos salários e falta de estrutura, conhecer a origem dessa data é também um ato de resistência. Relembrar os nomes de Salomão Becker e Antonieta de Barros é devolver visibilidade a personagens que ajudaram a moldar o futuro da educação brasileira.

Linha do tempo da criação do Dia do Professor

AnoAcontecimento
1827Dom Pedro I assina o decreto que cria as primeiras escolas de ensino primário.
1947Salomão Becker propõe a primeira comemoração do Dia do Professor em São Paulo.
1948Antonieta de Barros apresenta a Lei nº 145/48, instituindo oficialmente a data em Santa Catarina.
1963João Goulart sanciona o Decreto Federal nº 52.682, reconhecendo o Dia do Professor em todo o país.

Considerações finais: uma história de reconhecimento e luta

O Dia do Professor é mais do que uma homenagem — é o resultado da união entre o gesto de um educador e a coragem de uma mulher negra que acreditava no poder transformador da educação.

De Salomão Becker, veio o impulso simbólico e comunitário; de Antonieta de Barros, o respaldo político e legislativo. Juntos, seus legados formam a base de uma celebração que continua viva, inspirando novas gerações de docentes e estudantes.

Celebrar o 15 de outubro é, portanto, celebrar o direito de ensinar, aprender e transformar. É um lembrete de que o futuro da nação depende, acima de tudo, daqueles que se dedicam a formar cidadãos conscientes e críticos.

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