Ha pouco tempo não estando mais sob o comando do Estado Islâmico (EI), a cidade de Mossul, segunda maior do Iraque, vive um cenário do mais puro e cruel drama.
Para começar a explicar a situação do município iraquiano, as palavras de Sally Becker, diretora da ONG britânica Road to Peace, à BBC dizem muito: “Trabalhei em áreas de conflito durante 25 anos, na Bósnia, Kosovo, Chechênia e nunca me deparei com algo tão devastador quanto aqui. Ou pior.”
Libertada do domínio de combatentes do EI, após mais de três anos sob o comando dos extremistas, Mossul apresenta uma devastadora crise humanitária. Após a expulsão do grupo religioso, o primeiro-ministro do país, Haider al Abadi, exaltou a vitória de suas tropas, mas para a população não há nada a ser comemorado.
“É a pior batalha que vi, a pior devastação e o pior estado humanitário, porque estão sozinhos e doentes”, comentou Sally. “[As crianças] estão traumatizadas. Estão sofrendo os efeitos de viver sem comida e água; estão vivendo como ratos”, completou.
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O cenário caótico que toma conta de Mossul teve início em junho de 2014, quando o grupo extremista “se apossou” da cidade. Na época, a população local era de 2 milhões de pessoas, mas os conflitos que se sucederam desde então vitimaram milhares de habitantes, além de desabrigar mais de 920 mil moradores. Para recuperar o controle da cidade, as forças iraquianas, aliadas a militantes curdos e a uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, realizaram uma intensa e grande ofensiva.
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No entanto, mesmo livres do Estado Islâmico, as marcas da guerra permeiam sobre os moradores (sobreviventes) do município: “Viveram três anos sob o controle do EI e isso se reflete em seus rostos, em seus olhos, em suas roupas, na maneira como andam, em tudo”, conta Sally. E mesmo a instalação de centros médicos por funcionários da ONG não foi o suficiente para aliviar toda a dor: “Eles têm sofrido tanto que nem sentem mais. Estão tão traumatizados que já não pensam, seguem adiante com o olhar perdido. É entristecedor. Já tive crianças em ambulâncias enquanto suas mães gritavam na parte de trás com suas pernas baleadas”, diz a diretora da ONG à BBC.
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Becker se recorda de enfrentar dias extremos ao tentar, ao lado de sua equipe, prestar auxílio a civis em meio aos conflitos armados. A voluntária de resgate conta que os dez dias anteriores à liberação da cidade foram marcados pelo medo de franco-atiradores, carros-bomba, suicidas e ataques químicos. E os feridos eram presos em zonas que nem os militares estavam dispostos a entrar. “Não podia acreditar no que via. O lugar inteiro estava destruído. E entre os escombros havia pessoas feridas”, relembrou Sally que decidiu encarar o medo e adentrar os locais de maior risco.
Mesmo sem o Estado Islâmico, ainda há muito a ser feito para que a cidade tenha um panorama mínimo de esperança. As ruas estão tomadas por escombros e cadáveres em decomposição. De acordo com a ONU, mais de 5 mil casas foram danificadas, enquanto 490 foram completamente destruídas.
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“Muitas pessoas que fugiram perderam tudo. Precisam de abrigo, comida, cuidados médicos, água e equipes de emergência. Os níveis de trauma que estamos vivendo são os mais altos. O que as pessoas vêm passando é quase inimaginável”, revelou Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU no Iraque. E apesar dela considerar um grande “alívio” o final da batalha e a saída do Estado Islâmico, será preciso muito trabalho para cessar a crise humanitária que assola Mossul.
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