Best Of Web

O botão mágico que leva as melhores historias a seu Facebook.

Best Of Web

O botão mágico que leva as melhores historias a seu Facebook.

desastres

Viver sob desastres ambientais recorrentes impacta gravemente a saúde mental, aponta pesquisa

Os desastres ambientais deixaram de ser episódios raros e se tornaram realidade constante em diversas regiões do mundo. Incêndios florestais, enchentes, deslizamentos e secas extremas estão ocorrendo com frequência cada vez maior. Embora o foco das atenções geralmente esteja nos danos materiais e perdas humanas imediatas, uma nova preocupação tem ganhado destaque entre os pesquisadores: os impactos profundos que essas situações causam na saúde mental da população.

Um estudo recente revela que viver sob a repetição desses eventos climáticos extremos pode gerar consequências duradouras para o bem-estar psicológico, especialmente em comunidades vulneráveis e com menos recursos para se recuperar emocionalmente.

Leia Mais:

11 acres de telhados verdes capturando água da chuva em Amsterdã, prevenindo inundações.

O elo entre o clima extremo e a mente humana

Efeitos imediatos e prolongados

A exposição a desastres ambientais costuma provocar uma série de respostas emocionais intensas. O medo pela própria vida, o luto por perdas familiares, o choque ao ver tudo destruído e o sentimento de impotência são experiências comuns para quem sobrevive a tragédias naturais.

Porém, os efeitos não desaparecem com o tempo. Pelo contrário, estudos apontam que muitas dessas pessoas desenvolvem quadros clínicos como:

  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
  • Transtornos de ansiedade generalizada
  • Depressão profunda
  • Fobias relacionadas ao clima
  • Dificuldade de sono e concentração

O trauma da recorrência

Quando um desastre acontece uma vez, ele já deixa marcas profundas. Mas o impacto se intensifica quando essas tragédias se tornam frequentes. A repetição leva a um estado de alerta constante e, com o tempo, pode gerar uma sensação permanente de insegurança. Muitas pessoas, especialmente em áreas de risco, passam a viver com medo do próximo episódio — o que fragiliza ainda mais sua saúde mental.

O que diz o estudo mais recente

Uma análise conduzida por pesquisadores em saúde pública e publicada recentemente mostra que o bem-estar psicológico de populações que convivem com desastres sucessivos é significativamente menor do que em regiões com menor frequência de eventos climáticos extremos. Os dados foram colhidos em regiões impactadas por enchentes, incêndios e outros fenômenos, revelando um padrão comum: o aumento dos sintomas de sofrimento emocional está diretamente ligado à repetição das tragédias.

Entre os destaques do estudo:

  • 63% dos entrevistados relataram ter dificuldades para dormir após desastres ambientais.
  • 47% afirmaram ter crises de ansiedade constantes nos meses seguintes.
  • 32% passaram a apresentar sintomas depressivos.
  • Quase metade dos jovens até 24 anos disseram ter perdido a esperança no futuro.

Ecoansiedade: quando o clima gera angústia

desatres
Edição – Bestofweb/Canva

O que é ecoansiedade?

Com o avanço das mudanças climáticas, surgiu um novo termo entre os profissionais de saúde mental: ecoansiedade. Trata-se de um estado de angústia constante relacionado ao futuro do planeta. Pessoas afetadas por essa condição demonstram preocupações excessivas com a destruição do meio ambiente, o aumento de tragédias naturais e a falta de ação por parte de governos e empresas.

Sintomas mais comuns

  • Sentimento de culpa por não conseguir “ajudar o planeta
  • Sensação de impotência frente à crise climática
  • Medo constante de eventos climáticos extremos
  • Prostração ou paralisia diante de notícias ambientais

A ecoansiedade pode afetar qualquer pessoa, mas estudos mostram que ela é mais comum entre jovens, ativistas e populações que já sofreram algum tipo de desastre natural.

Populações mais atingidas

Comunidades em situação de vulnerabilidade

Os impactos psicológicos não são distribuídos de forma igualitária. Moradores de regiões periféricas ou áreas rurais estão entre os mais prejudicados, por três razões principais:

  1. Maior exposição aos riscos ambientais
  2. Menor acesso a serviços de saúde mental
  3. Dificuldade de reconstrução após desastres

Essas populações geralmente não têm planos de seguro, poupança de emergência ou condições para se mudar de áreas de risco. Com isso, acabam expostas de forma contínua e prolongada a tragédias e, consequentemente, ao trauma.

Povos indígenas e comunidades tradicionais

Também estão entre os grupos mais afetados aqueles que dependem diretamente da natureza para sua subsistência e cultura. Povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos relatam aumento de sofrimento psicológico com a degradação de florestas, rios e terras. Para essas populações, o impacto não é apenas material, mas também espiritual e identitário.

Soluções possíveis e ações urgentes

Intervenção em saúde mental pós-desastre

Assim como se mobiliza atendimento médico e infraestrutura após uma tragédia, também é essencial implementar apoio psicológico emergencial. Isso inclui:

  • Atendimento com psicólogos e assistentes sociais
  • Atividades comunitárias de acolhimento
  • Grupos de escuta e orientação emocional
  • Apoio especializado para crianças e idosos

Programas como esses podem ajudar a minimizar os efeitos de longo prazo do trauma coletivo.

Políticas públicas integradas

É urgente que governos locais, estaduais e federais passem a integrar a saúde mental nos planos de resposta e prevenção a desastres. Algumas propostas incluem:

  • Incluir psicólogos em equipes da Defesa Civil
  • Criar protocolos de atendimento emocional em abrigos
  • Ampliar a rede de atenção psicossocial no SUS
  • Oferecer capacitação para agentes comunitários

Além disso, é necessário planejamento urbano inteligente que leve em conta a realidade climática e evite construir habitações em áreas de risco.

Educação emocional e ambiental

Iniciativas educacionais podem ter papel fundamental na preparação da população. Ensinar crianças e adolescentes a identificar e lidar com emoções, além de conscientizar sobre os impactos das mudanças climáticas, contribui para formar cidadãos mais resilientes.

Considerações finais

O impacto dos desastres ambientais não se limita aos prejuízos materiais ou às estatísticas de mortos e feridos. Há um componente silencioso, mas devastador, que precisa ser trazido ao centro do debate: o sofrimento psicológico das vítimas. A repetição constante de tragédias climáticas coloca milhares de pessoas em estado de alerta permanente, corroendo seu bem-estar emocional.

A sociedade precisa reconhecer que lidar com as consequências mentais dos desastres é tão importante quanto reconstruir pontes ou limpar ruas. Sem saúde mental, não há recuperação plena. É hora de agir — com empatia, planejamento e compromisso — para proteger não apenas o corpo, mas também a mente daqueles que enfrentam os extremos do clima todos os dias.

Rolar para o topo