Em abril de 2025, a pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, trouxe à tona dados alarmantes sobre o racismo enfrentado por crianças brasileiras. O estudo revelou que 16% das crianças de até seis anos já experienciaram alguma forma de discriminação racial. Este artigo explora os resultados da pesquisa, seus impactos no desenvolvimento infantil e a urgência de medidas para combater o racismo desde os primeiros anos de vida.
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A pesquisa e seus resultados
Método e amostra
Com a participação de 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis por crianças de 0 a 6 anos, a pesquisa utilizou uma margem de erro de 2 pontos percentuais para o total da amostra. Este levantamento, que faz parte de um estudo mais amplo sobre a primeira infância, tem como objetivo aprofundar a compreensão sobre os desafios enfrentados por crianças em situações de vulnerabilidade social e racial.
Resultados destacados
Os dados mais relevantes são:
- 16% das crianças de até seis anos já foram vítimas de algum tipo de discriminação racial.
- 82% das crianças não vivenciaram discriminação racial.
- 2% dos entrevistados não souberam ou não responderam à pergunta.
Esses números destacam a prevalência do racismo em uma fase crucial do desenvolvimento infantil, onde a construção da identidade e autoestima começa a se formar.
Onde ocorre o racismo infantil?

Escolas e creches
A maior parte dos casos de discriminação (54%) aconteceu em ambientes educacionais, como escolas e creches. Isso evidencia que, mesmo em locais onde as crianças deveriam estar em um ambiente seguro e de aprendizado, o racismo ainda se faz presente.
Espaços públicos
Outro local significativo de ocorrência foi o espaço público, como ruas e praças, com 42% dos casos de discriminação ocorrendo nessas áreas. Isso reflete a natureza sistêmica do racismo, que ultrapassa os limites da escola e se estende para o cotidiano das crianças.
Comunidade e bairro
Além disso, 20% dos casos aconteceram no contexto comunitário, no bairro ou vizinhança, mostrando que as interações diárias nas comunidades também são marcadas por atitudes discriminatórias.
O perfil dos responsáveis
A pesquisa revela também que os relatos de discriminação racial são mais frequentes entre responsáveis de crianças negras ou pardas. De acordo com o estudo, 19% das crianças com responsáveis negros ou pardos já sofreram algum tipo de racismo, enquanto o número entre os responsáveis brancos é de 12%. Esse dado destaca a necessidade de políticas públicas focadas em combater o racismo estrutural, especialmente nas comunidades negras e periféricas.
Efeitos do racismo no desenvolvimento infantil
Impacto na formação da identidade e autoestima
O racismo vivido na infância tem efeitos profundos na formação da identidade e autoestima das crianças. Isso pode resultar em uma visão negativa de si mesmas, dificultando o processo de socialização e aprendizado. Crianças que vivenciam a discriminação desde cedo podem desenvolver inseguranças que afetarão seu desempenho acadêmico e suas interações sociais ao longo da vida.
Estresse tóxico e seus efeitos
O estresse causado por situações de racismo pode levar ao que é conhecido como “estresse tóxico”, que afeta o desenvolvimento cerebral das crianças. Este tipo de estresse, causado por exposições contínuas a experiências traumáticas, pode prejudicar as capacidades cognitivas e emocionais das crianças, gerando dificuldades de aprendizagem, comportamento agressivo e outros problemas de saúde mental.
A percepção social sobre o racismo infantil
Uma das conclusões mais importantes da pesquisa é que 74% da população concorda que o racismo é comum nas escolas e que crianças na primeira infância são vítimas desse tipo de discriminação. No entanto, a percepção desse problema varia conforme a escolaridade dos entrevistados. Entre os que têm ensino fundamental completo, apenas 53% reconhecem a discriminação racial na infância.
Desafios para combater o racismo infantil
Capacitação de educadores
Um dos principais desafios é garantir que os educadores estejam preparados para identificar e combater o racismo nas escolas. Isso exige a implementação de programas de formação contínua para professores e profissionais da educação, que precisam estar equipados para lidar com essa questão de maneira eficaz.
Políticas públicas para combater o racismo
Além disso, é essencial que o governo federal, estadual e municipal implementem políticas públicas que visem combater o racismo desde a primeira infância, como programas de conscientização, educação para a igualdade racial e apoio às famílias afetadas pela discriminação.
Apoio às famílias
Apoiar as famílias, especialmente as famílias negras, é crucial. Elas precisam de orientações sobre como lidar com situações de racismo e como reforçar a identidade racial positiva de seus filhos.
Considerações finais
Os dados apresentados pela pesquisa Datafolha reforçam a urgência de se implementar políticas públicas eficazes para combater o racismo desde a infância. O reconhecimento do problema é o primeiro passo para construir uma sociedade mais igualitária e justa para todas as crianças, independentemente de sua cor ou origem. Ao promover a educação inclusiva e garantir um ambiente seguro e acolhedor para todos, podemos garantir que as futuras gerações cresçam livres das amarras do racismo estrutural.













