Cresce o cyberbullying no Brasil: entenda os impactos emocionais em adolescentes
O ambiente virtual, que há anos proporciona conexões instantâneas e compartilhamento de informações em tempo real, também tem se tornado palco para agressões silenciosas. O cyberbullying, forma de assédio que ocorre no meio digital, vem crescendo entre os jovens brasileiros e causando consequências sérias, como ansiedade, depressão e até transtornos traumáticos.
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A nova face do assédio entre jovens
Ao contrário do bullying presencial, o assédio digital ultrapassa muros escolares e invade a vida pessoal das vítimas 24 horas por dia. Com redes sociais, grupos de mensagens e plataformas de jogos online, o comportamento agressivo pode ganhar proporções virais, tornando a vítima alvo constante de zombarias, exclusões e humilhações públicas.
Como o cyberbullying acontece
Principais formas de agressão online
O cyberbullying pode se manifestar de diversas maneiras. As mais comuns incluem:
- Mensagens ofensivas ou ameaçadoras por redes sociais;
- Comentários pejorativos em publicações ou fotos;
- Divulgação de conteúdos íntimos sem consentimento;
- Criação de perfis falsos para disseminar boatos;
- Exclusão intencional de grupos digitais como forma de isolamento social.
Assédio contínuo e invisível
Diferente do bullying tradicional, as agressões virtuais não se encerram com o fim do dia. Elas se perpetuam por meio de prints, compartilhamentos e comentários que circulam por redes abertas ou fechadas. Esse ciclo constante prejudica a saúde emocional de adolescentes em formação, muitas vezes sem que pais ou responsáveis percebam os sinais.
Efeitos do cyberbullying na saúde mental

Risco de desenvolvimento de traumas
Estudos apontam que vítimas de cyberbullying podem desenvolver sintomas similares aos de transtornos traumáticos, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). As agressões constantes podem desencadear:
- Crises de ansiedade;
- Insônia ou pesadelos recorrentes;
- Sentimentos de humilhação persistente;
- Medo de se expor publicamente, mesmo em ambientes seguros.
Impactos na autoestima e no comportamento
Adolescentes afetados costumam apresentar queda brusca de rendimento escolar, retraimento social e insegurança diante de situações corriqueiras. Muitos relatam sensação de impotência, como se estivessem presos a um ciclo que não conseguem encerrar. O sofrimento emocional pode evoluir para depressão, automutilação e pensamentos suicidas, especialmente quando o assédio vem de pessoas próximas.
Grupos mais vulneráveis
Meninas, pessoas LGBTQIA+, jovens com deficiência ou de comunidades marginalizadas são, frequentemente, os mais expostos ao cyberbullying. A vulnerabilidade social e a pressão por aceitação aumentam a probabilidade de sofrer e internalizar os ataques virtuais.
Sinais de que um jovem está sendo vítima
Identificar os sinais precocemente pode ser a chave para impedir que o trauma se intensifique. Fique atento a:
- Mudanças de humor repentinas;
- Evitação de redes sociais ou tecnologia;
- Reclamações físicas recorrentes, como dor de cabeça e náusea;
- Irritabilidade sem causa aparente;
- Desinteresse por atividades que antes geravam prazer.
Se mais de um desses sinais estiver presente, é fundamental abrir um canal de diálogo e oferecer apoio emocional imediato.
O papel da escola e da família na prevenção
O ambiente escolar como espaço de proteção
Escolas são ambientes estratégicos para prevenir e combater o cyberbullying. Programas educativos sobre cidadania digital, empatia e uso responsável da internet devem ser incorporados ao currículo.
- Promover rodas de conversa sobre bullying e redes sociais;
- Criar canais anônimos para denúncia;
- Treinar professores para identificar e lidar com situações de assédio.
Além disso, projetos de convivência e cultura de paz ajudam a reduzir a rivalidade e a exclusão entre os alunos.
O que os pais podem fazer
Dentro de casa, o diálogo aberto e sem julgamentos é fundamental. Perguntar regularmente como foi o dia, o que acontece nas redes sociais e ouvir com atenção são atitudes poderosas.
- Estimule o jovem a compartilhar experiências online;
- Estabeleça limites saudáveis para o uso da internet;
- Observe comportamentos diferentes após o uso do celular ou do computador.
Nos casos em que o assédio for confirmado, é importante acionar a escola e, se necessário, buscar ajuda jurídica ou psicológica.
O papel da legislação brasileira
A legislação brasileira vem se adaptando para coibir crimes virtuais. A Lei 14.811/2024 inclui o cyberbullying como prática criminosa, com pena de até 4 anos de reclusão e multa, especialmente quando envolve menores de idade.
Além disso, o Marco Civil da Internet e o Estatuto da Criança e do Adolescente preveem responsabilidade para provedores de conteúdo que não removem publicações ofensivas após denúncia.
Como denunciar casos de cyberbullying
As vítimas ou responsáveis podem buscar apoio em:
- Delegacias especializadas em crimes cibernéticos;
- Ministério Público (Promotoria da Infância e Juventude);
- Plataformas como SaferNet Brasil, que oferecem suporte online e orientações jurídicas.
Nos aplicativos e redes sociais, também é possível denunciar perfis e publicações ofensivas por meio das ferramentas internas de moderação.
Tecnologia como ferramenta de combate
Inteligência artificial a favor da proteção
Com o avanço da tecnologia, novas ferramentas surgem para monitorar e bloquear conteúdos abusivos. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube já utilizam inteligência artificial para detectar discursos de ódio, mensagens ofensivas e imagens inapropriadas.
Essas soluções, quando aliadas à mediação humana, tornam o ambiente virtual mais seguro, especialmente para menores de idade.
Aplicativos de controle e denúncia
Existem também apps voltados para o combate ao cyberbullying, como o “ReThink”, que alerta o usuário sobre mensagens potencialmente ofensivas antes do envio, incentivando a reflexão.
Outros aplicativos ajudam pais a acompanhar o uso digital dos filhos sem invadir sua privacidade, respeitando o equilíbrio entre liberdade e proteção.
Quando procurar ajuda profissional
Se os sinais de sofrimento persistirem, é imprescindível buscar acompanhamento psicológico. Psicólogos especializados em adolescência e traumas digitais podem trabalhar:
- Reestruturação da autoestima;
- Técnicas de enfrentamento;
- Resiliência diante de situações traumáticas.
Terapias cognitivas comportamentais e sessões em grupo são opções efetivas para jovens que passaram por experiências de assédio online.
Considerações finais
O cyberbullying é um fenômeno crescente, silencioso e perigoso, que atinge milhares de jovens brasileiros todos os anos. Mais do que palavras ofensivas em uma tela, ele representa um ataque direto à saúde mental e ao desenvolvimento emocional de adolescentes.
A resposta deve ser coletiva: escolas, famílias, autoridades, plataformas digitais e a sociedade como um todo precisam agir juntos. Prevenir é educar, acolher e transformar o ambiente online em um espaço de respeito e empatia.


