Entendendo o que é a criptorquidia
A criptorquidia é uma anomalia do desenvolvimento masculino em que um ou ambos os testículos do bebê não se localizam no escroto ao nascimento. Durante a gestação, os testículos se formam no abdômen e, nas últimas semanas, deveriam descer para a bolsa escrotal. Quando esse processo não acontece corretamente, o testículo pode ficar preso em pontos como o canal inguinal ou mesmo permanecer dentro do abdômen.
Essa condição é uma das mais comuns entre as alterações genitais observadas ao nascimento em meninos e pode gerar preocupações entre os pais, especialmente devido às possíveis consequências a longo prazo.
Leia Mais:
Dor lombar: hábitos saudáveis são mais eficazes que corrigir a postura
Frequência e principais fatores de risco
Como a condição se manifesta na população
Estima-se que cerca de 3% dos meninos nascidos a termo apresentem testículos não descidos. Em bebês prematuros, a taxa pode ultrapassar os 30%. Apesar disso, em muitos casos a descida ocorre espontaneamente nos primeiros meses de vida.
Fatores que aumentam o risco da criptorquidia
Entre os fatores associados ao não descenso testicular estão:
- Prematuridade
- Baixo peso ao nascer
- Histórico familiar da condição
- Exposição da mãe a álcool, cigarro ou hormônios durante a gestação
- Alterações hormonais no feto
- Síndromes genéticas específicas
Essas variáveis podem interferir no funcionamento normal do eixo hormonal e no processo de descida testicular, que é sensível e precisa ocorrer em um momento específico do desenvolvimento fetal.
Diagnóstico da criptorquidia
Como a condição é identificada
Logo após o nascimento, o pediatra realiza uma avaliação física completa no bebê. A ausência de um testículo no escroto pode ser notada nesse primeiro exame. Em alguns casos, é possível palpar o testículo na região da virilha, o que facilita a identificação.
Se o testículo não for localizado manualmente, exames de imagem como ultrassonografia, ressonância magnética ou até laparoscopia podem ser solicitados para determinar onde ele está.
Diferença entre criptorquidia e testículo retrátil
É importante diferenciar a criptorquidia do testículo retrátil, que é aquele que sobe temporariamente para o canal inguinal por reflexo muscular. No caso retrátil, o testículo pode ser puxado para o escroto com facilidade durante o exame. Já na criptorquidia verdadeira, isso não é possível.
Tratamento para testículos não descidos

Esperar ou intervir?
Em até 6 meses de vida, é possível que o testículo desça naturalmente, especialmente se ele estiver no canal inguinal. Após esse período, a tendência de que a descida ocorra espontaneamente diminui consideravelmente. Por isso, especialistas recomendam que a intervenção ocorra preferencialmente entre 6 e 18 meses de idade.
Cirurgia corretiva: orquidopexia
O tratamento padrão para a criptorquidia é cirúrgico e recebe o nome de orquidopexia. A técnica consiste em localizar o testículo, reposicioná-lo dentro da bolsa escrotal e fixá-lo, evitando que ele volte a subir. O procedimento costuma ser seguro, rápido e com boa taxa de sucesso, sendo realizado com anestesia geral e geralmente com alta no mesmo dia.
Tratamento hormonal: quando é indicado?
Em alguns casos, principalmente quando o testículo está mais próximo do escroto, pode-se tentar a indução hormonal por meio da administração de gonadotrofina coriônica humana (hCG). Contudo, a resposta ao tratamento não é garantida e, muitas vezes, a cirurgia acaba sendo inevitável.
O que pode acontecer se a criptorquidia não for tratada?
Infertilidade futura
Um dos principais riscos da criptorquidia não tratada é a infertilidade. A temperatura mais elevada do interior do abdômen prejudica a formação dos espermatozoides, afetando diretamente a capacidade reprodutiva.
Aumento no risco de câncer testicular
Estudos mostram que homens com histórico de criptorquidia têm maior probabilidade de desenvolver câncer de testículo na vida adulta, especialmente se a condição não for corrigida precocemente. Mesmo após o tratamento, o risco é mais alto do que na população em geral, embora bem menor do que se a cirurgia não for feita.
Maior risco de torção testicular
O testículo fora da bolsa escrotal pode torcer com mais facilidade, interrompendo o fluxo de sangue e causando dor intensa. A torção testicular é uma emergência médica e pode levar à perda do testículo se não for tratada rapidamente.
Outras complicações
- Hérnia inguinal associada
- Impacto psicológico na adolescência, por diferenças visíveis
- Comprometimento do desenvolvimento hormonal, em casos bilaterais
Pós-operatório e cuidados após a cirurgia
Recuperação e rotina
A recuperação da orquidopexia costuma ser tranquila. Nos primeiros dias, recomenda-se evitar atividades que envolvam esforço ou impacto na região operada. O bebê pode retornar às atividades cotidianas rapidamente, e os pontos são reabsorvidos ou retirados em consulta posterior.
Acompanhamento com especialistas
Após a cirurgia, o acompanhamento com um urologista pediátrico ou cirurgião infantil é essencial para garantir que o testículo permaneça na posição correta e se desenvolva normalmente. Exames regulares serão feitos até que a criança atinja a puberdade.
Quando a cirurgia não resolve
Em raros casos, o testículo não é encontrado nem mesmo com laparoscopia. Isso pode indicar que ele foi perdido ainda na gestação (criptorquidia com testículo ausente), ou que sofreu uma torção intrauterina. Nestes casos, pode ser avaliada a colocação de uma prótese testicular no futuro, por razões estéticas ou psicológicas.
Impactos emocionais e sociais
Além dos aspectos físicos, a ausência de um testículo no escroto pode afetar a autoestima da criança, especialmente na adolescência. A cirurgia precoce não apenas previne complicações clínicas, como também reduz o risco de sofrimento emocional no futuro.
Considerações finais
A criptorquidia é uma condição relativamente comum entre recém-nascidos do sexo masculino, mas que exige atenção e acompanhamento médico. Com diagnóstico precoce e tratamento adequado — preferencialmente cirúrgico — é possível evitar complicações graves como infertilidade e câncer testicular.
Pais e responsáveis devem estar atentos aos exames físicos nos primeiros meses de vida e seguir as orientações médicas. Quando identificada e tratada no momento certo, a criptorquidia tem prognóstico altamente positivo.













