No dia 27 de setembro, uma cena se repete em várias partes do Brasil: crianças percorrem ruas e praças em busca dos saquinhos de balas e chocolates distribuídos em homenagem a São Cosme e São Damião. A data, marcada pela fé e pela partilha, é um dos momentos mais populares do calendário religioso e cultural brasileiro.
Por trás dos doces, há uma curiosidade pouco explorada: o que acontece quando o nome dos santos deixa de ser apenas devoção e passa a estar registrado na identidade de alguém? Muitos brasileiros receberam de suas famílias o nome Cosme ou Damião, carregando diariamente uma tradição que mistura religiosidade, afeto e cultura popular.
Neste artigo, trazemos histórias reais de pessoas que receberam esses nomes, além de explicar a origem da devoção e o papel simbólico dos santos gêmeos no imaginário nacional.
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Quem foram São Cosme e São Damião?
Os médicos que não cobravam
Cosme e Damião nasceram na região da Síria, no século III, e se tornaram médicos conhecidos por atenderem a população sem cobrar pelos serviços. Essa prática lhes deu fama de caridosos, mas também os colocou sob perseguição durante o Império Romano, resultando em sua morte como mártires cristãos.
A devoção que cruzou oceanos
A veneração aos santos chegou ao Brasil com os portugueses e, aqui, ganhou novas camadas de significado ao ser incorporada por tradições africanas e indígenas. Na Umbanda e no Candomblé, eles são relacionados às crianças espirituais, os erês, reforçando a ligação com pureza e alegria.
A tradição dos doces
O sentido da partilha
Distribuir doces no dia de Cosme e Damião simboliza bondade, generosidade e cuidado com as crianças. O gesto reproduz o espírito dos santos, que praticavam a caridade de forma desinteressada.
Memória coletiva
De norte a sul do país, muitas pessoas guardam lembranças afetivas do dia 27 de setembro. Seja ao bater de porta em porta ou ao receber um saquinho preparado por vizinhos, a prática se tornou parte da identidade cultural brasileira.
Histórias de quem recebeu o nome dos santos

Cosme, o educador
Cosme Oliveira, professor baiano de 52 anos, lembra que, durante a infância, ouvia sempre a mesma brincadeira: “Cadê o Damião?”. Hoje, ele encara o nome como um privilégio:
“Descobri que meu nome carrega uma lição de solidariedade. Uso isso em sala de aula para mostrar aos alunos como a generosidade pode transformar vidas.”
Damião, o artista da zona norte carioca
Para Damião Ferreira, músico de 34 anos, o nome trouxe inspiração artística.
“Ser chamado de Damião é levar um pouco dessa leveza dos santos. Até compus uma música sobre isso. É como se o nome me lembrasse sempre de buscar doçura na vida.”
Os gêmeos Cosme e Damião
Na capital paulista, dois irmãos gêmeos de 19 anos receberam os nomes dos santos em homenagem direta à tradição.
“No início era motivo de piada, mas hoje entendemos como um símbolo da nossa união. É uma herança cultural que levamos com orgulho.”
O peso e o valor de um nome religioso
Identidade que ultrapassa a fé
Mesmo entre pessoas que não se declaram religiosas, os nomes Cosme e Damião carregam significados culturais profundos. Representam não apenas a ligação com os santos, mas também a herança familiar e a memória de uma devoção que atravessou séculos.
Reconhecimento e acolhimento
Muitos relatam que ter esses nomes desperta curiosidade e simpatia. É comum que desconhecidos compartilhem lembranças pessoais ou recordações de infância sempre que ouvem alguém se apresentar como Cosme ou Damião.
Cosme e Damião na cultura popular
Literatura, música e cinema
Os santos já foram representados em cordéis, sambas-enredo e produções audiovisuais. Nessas expressões artísticas, eles aparecem como figuras próximas do povo, associadas à bondade e à simplicidade.
Presença no cotidiano
Hospitais, escolas e bairros também receberam os nomes dos santos. Além disso, muitas comunidades brasileiras organizam festas abertas ao público no dia 27 de setembro, reforçando a força da tradição.
O legado dos santos para além da fé
A herança cultural
A devoção a Cosme e Damião se tornou parte integrante do patrimônio cultural brasileiro. A prática de distribuir doces e celebrar a infância vai muito além da religião, unindo pessoas de diferentes origens.
Do nome à prática
Para quem se chama Cosme ou Damião, a data tem ainda mais peso simbólico. Amigos e familiares costumam lembrar com carinho, o que reforça a sensação de pertencer a algo maior.
O futuro da devoção
A tradição em tempos modernos
Mesmo com mudanças na sociedade, a tradição resiste. Escolas, associações de bairro e até empresas promovem ações de solidariedade inspiradas no exemplo dos santos.
Nomes que resistem
Embora menos comuns nas certidões de nascimento atuais, os nomes Cosme e Damião permanecem vivos na cultura popular. Quem os carrega acaba se tornando guardião dessa memória coletiva.
Considerações finais
Cosme e Damião são mais do que figuras do calendário religioso. Representam generosidade, fé e memória cultural. Para aqueles que levam seus nomes, o significado é ainda maior: é identidade, tradição e lembrança de um legado que une fé e cultura em uma das celebrações mais marcantes do Brasil. Cada doce distribuído e cada história contada reforça que ser Cosme ou Damião é carregar consigo uma herança de bondade e união.













