A história de Débora Seabra de Moura, de 36 anos, é linda de ver. Ela tem Down, mas a síndrome não a limitou. Virou professora em Natal, no Rio Grande do Norte: considerada a primeira com Down no Brasil. Ficou mais conhecida nas redes sociais após a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ofendê-la publicamente e ser preconceituosa.
Na ocasião, a desembargadora soube da profissão de Débora e se posicionou: “(…) Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”. O comentário foi feito há três anos atrás, mas se tornou público em março desse ano, quando Marília também falou negativamente sobre Marielle Franco, após a morte dela.

A professora contou à BBC como isso a doeu: “Me senti machucada”, disse, “Doeu o preconceito de dizerem que sou incapaz de dar aula.” Ainda em março, ela tinha publicado uma carta-resposta, e contou ter sentido um alívio ao fazer aquilo.
Desdobramento do caso:
O caso chegou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) depois de uma denúncia realizada pela Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down. A desembargadora já contabiliza outras denúncias por comentários polêmicos e preconceituosos nas redes. Mas, o caso corre em segredo de justiça.

“Tentativa de reconciliação”:
Há alguns dias, Débora recebeu um pedido de desculpas da desembargadora. Isso poderia ser um fim para essa “página” negativa em sua vida. Mas, a mensagem não foi endereçada diretamente a ela, e sim compartilhada por Marília na internet horas antes. E segundo o assessor da desembargadora, o pedido de desculpas é esse e não será enviado para a professora ou sua família.
No texto de Marília, ela conta que parou para refletir depois da repercussão do caso: “E de tudo que li e ouvi ao meu próprio respeito, foi de você, de quem em um primeiro momento duvidei da capacidade de ensinar, que me veio a maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de pré-conceitos”., se referindo à professora. Finaliza pedindo perdão por ter duvidado da capacidade de Débora.

Formação:
Depois de cursar magistério, Débora foi convidada a ser auxiliar de desenvolvimento infantil onde tinha estudado, uma escola particular tradicional em Natal. Quando ela começou na nova função, alguns pais ficaram inseguros, segundo a diretora do local, Lucila Ramalho. Mas, como conta, isso foi se dissipando com o tempo.
A professora cuida das crianças e conta histórias para elas. “Eu ajudo a educar e a incluir todo mundo”, descreve ela. “Ensino que eles não podem brigar, que precisam dividir brinquedos, materiais de aula e aceitar todas as crianças como elas são.” Segundo ela, sua paixão é trabalhar com crianças e ela recebe esse carinho de volta dos pequenos. Além de tudo, Débora ainda escreve histórias, disseminando a mensagem de inclusão.
Desde pequena ela foi engajada na causa. Falou em seminários e palestras aqui e fora do Brasil. E virou um exemplo a se inspirar. Débora merece receber todo o amor que oferece ao mundo e esperamos que seu caso tenha acabado com muitos preconceitos por aí.
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal/ Frederico Seabra de Moura/ Rodolfo Seabra/ Complexo EDH
Fonte: BBC













