Como viajar com neurodivergência sem crises: estratégias para uma experiência tranquila
Viajar pode ser prazeroso mesmo com neurodivergência
Para muitas pessoas, arrumar as malas e conhecer novos destinos é sinônimo de aventura e diversão. No entanto, para quem tem alguma neurodivergência — como autismo, TDAH, dislexia ou outras condições que afetam o funcionamento neurológico — a experiência pode ser bastante desafiadora. Mudanças na rotina, excesso de estímulos, imprevistos e ambientes desconhecidos exigem um planejamento mais cuidadoso.
Felizmente, com a preparação certa, é possível transformar a viagem em um momento de bem-estar, sem crises. Este artigo traz dicas valiosas para tornar o processo mais confortável e seguro para pessoas neurodivergentes e seus acompanhantes.
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O que é ser neurodivergente?
O termo “neurodivergente” se refere a indivíduos cujo cérebro processa, aprende e reage de forma diferente do padrão considerado “neurotípico”. Isso pode incluir:
- Transtorno do Espectro Autista (TEA)
- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
- Dislexia
- Discalculia
- Síndrome de Tourette
- Altas habilidades/superdotação com traços sensoriais
Cada neurodivergência tem suas particularidades, mas muitas compartilham características como sensibilidade sensorial aumentada, dificuldade com mudanças de rotina, ansiedade e necessidade de controle ambiental.
Antes de embarcar: organização é tudo

Escolha do destino
Opte por lugares que ofereçam ambientes tranquilos e previsíveis. Cidades com infraestrutura calma, atrações naturais e menor fluxo turístico são boas opções. Evite destinos com excesso de ruído, multidões e iluminação intensa, a menos que a pessoa se sinta segura nesses contextos.
Monte um cronograma detalhado
Criar uma programação com horários definidos, mapas, fotos dos locais e possíveis rotas alternativas ajuda a reduzir a ansiedade causada pela imprevisibilidade. O uso de aplicativos de organização pessoal ou até mesmo um planner impresso pode ser um bom aliado.
Prepare uma mala sensorial
Leve objetos que tragam conforto e segurança:
- Fones com cancelamento de ruído
- Máscaras de dormir ou óculos escuros
- Itens táteis como bolinhas antiestresse, cobertas macias ou brinquedos sensoriais
- Alimentos conhecidos e garrafinha de água
- Remédios e documentos médicos, se necessário
Esse kit pode ser usado em momentos de sobrecarga sensorial ou simplesmente para ajudar na regulação emocional.
No transporte: avião, ônibus ou carro
Informe sobre a condição, se desejar
Algumas companhias aéreas, rodoviárias ou ferroviárias oferecem atendimento especial para pessoas com necessidades sensoriais. Ao comunicar previamente sua condição, você pode solicitar:
- Embarque antecipado
- Assentos mais afastados do fluxo de pessoas
- Ajuda com o check-in e o deslocamento no terminal
Isso pode tornar o trajeto menos estressante e mais organizado.
Prefira horários com menor movimento
Viajar em horários com menor fluxo de passageiros, como voos no meio da semana ou viagens fora do horário de pico, pode reduzir a exposição a estímulos e tornar a experiência mais tranquila.
Planeje atividades para o caminho
Tenha por perto livros, músicas, filmes ou jogos eletrônicos que ajudem a distrair e acalmar. O tempo de deslocamento costuma ser cansativo e ter recursos que proporcionem conforto emocional é fundamental.
Ao chegar ao destino
Mantenha alguma previsibilidade
Mesmo em um local novo, tente manter algumas rotinas familiares. Horários de sono e refeições, por exemplo, devem seguir um padrão próximo ao habitual. Isso contribui para o equilíbrio emocional e ajuda a evitar sobrecargas.
Explore com calma
Evite programar muitas atividades por dia. Dê tempo para descansar entre uma saída e outra e respeite os limites do corpo e da mente. Se necessário, tenha sempre à disposição um espaço silencioso para pausas.
Identifique pontos de apoio
Descubra onde estão os locais tranquilos do hotel, restaurantes com ambiente calmo e banheiros acessíveis. Ter esse mapeamento antecipado pode evitar situações de estresse em passeios.
Quando a viagem é feita de forma autônoma
Planejamento redobrado
Para neurodivergentes que viajam sozinhos, é essencial planejar com ainda mais cuidado. Tenha sempre um plano B, salve rotas e horários em aplicativos e avise alguém de confiança sobre sua localização. Evitar imprevistos é uma forma de aumentar a sensação de segurança.
Crie rotinas adaptadas
Mesmo fora de casa, busque manter hábitos que funcionem para você. Isso pode incluir momentos de silêncio, pausas para alimentação, horários para se desconectar ou até mesmo repetir uma refeição familiar para trazer conforto.
O papel da rede de apoio
Viajar em grupo ou com um acompanhante pode tornar a experiência mais leve. Ter alguém por perto que conheça suas necessidades e saiba como agir diante de uma crise é um suporte valioso.
Se você for o acompanhante de uma pessoa neurodivergente, esteja atento aos sinais de sobrecarga, respeite o tempo do outro e mantenha o diálogo aberto. A empatia é fundamental para que todos aproveitem a viagem.
O turismo e a inclusão sensorial
Felizmente, o setor de turismo começa a dar atenção às necessidades de viajantes neurodivergentes. Hotéis mais inclusivos, atrações com horários de visita adaptados e empresas que oferecem serviços sensoriais acessíveis já são realidade em alguns destinos.
A criação de espaços silenciosos, ambientes com menor estímulo visual e treinamentos para funcionários estão entre as iniciativas mais recentes para tornar o turismo mais acolhedor a todos.
Considerações finais
Viajar pode, sim, ser uma experiência positiva para pessoas neurodivergentes — desde que seja feita com planejamento, respeito aos limites e foco no bem-estar. Com pequenas adaptações, a jornada deixa de ser uma fonte de ansiedade e passa a ser uma oportunidade de prazer, conexão e crescimento.
Se você ou alguém da sua família convive com a neurodivergência, experimente as dicas deste artigo, prepare-se com carinho e redescubra o mundo sob uma nova perspectiva.


