Uma descoberta recente feita por pesquisadores oferece uma nova explicação para um dos maiores enigmas da neurociência: por que o cérebro precisa dormir. O estudo revelou que, além dos circuitos neurais e do relógio biológico, as mitocôndrias — responsáveis pela produção de energia nas células — exercem papel fundamental na criação do impulso para dormir. Essa revelação pode mudar a forma como entendemos a fisiologia do sono e abrir caminho para novas abordagens no tratamento de distúrbios e na prevenção de doenças neurodegenerativas.
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Como o estudo foi conduzido
Pesquisadores utilizaram moscas-das-frutas como modelo experimental, devido à semelhança de processos celulares com os humanos. Ao monitorar esses insetos, eles identificaram que, à medida que o tempo acordado aumentava, as mitocôndrias no cérebro acumulavam compostos químicos específicos. Esses compostos atuavam como sinais para o organismo, indicando que o descanso era necessário. A pressão para dormir, portanto, não depende apenas de sinais neurais, mas também de um gatilho celular relacionado à energia e ao metabolismo cerebral.
O papel das mitocôndrias na pressão do sono
As mitocôndrias são conhecidas como as “usinas de energia” das células, mas agora se sabe que elas também estão envolvidas na regulação do ciclo sono-vigília. Durante o período acordado, ocorre um aumento de moléculas que sinalizam desgaste celular. Esse acúmulo cria uma necessidade fisiológica de descanso, permitindo que o cérebro recupere o equilíbrio químico e funcional.
Funções essenciais do sono para o cérebro
Dormir vai muito além de um simples repouso. Durante o sono profundo, o sistema glinfático — uma rede de limpeza cerebral — remove resíduos metabólicos e toxinas acumuladas, como a proteína beta-amiloide, associada ao desenvolvimento de Alzheimer. Essa limpeza é essencial para a manutenção da saúde cerebral e para evitar danos a longo prazo. Outro ponto fundamental é a consolidação de memórias. No sono de ondas lentas, informações armazenadas no hipocampo são transferidas para o córtex, tornando as lembranças mais estáveis. Já no sono REM, o cérebro trabalha na reorganização de memórias e na integração de aspectos emocionais e criativos.
Consequências da privação de sono
A falta de sono afeta diretamente a cognição e o equilíbrio emocional. Estudos mostram que a privação prejudica a tomada de decisões, reduz a atenção, aumenta a impulsividade e intensifica a atividade de áreas cerebrais ligadas à percepção de ameaças. A longo prazo, noites mal dormidas contribuem para o acúmulo de proteínas tóxicas, comprometem o sistema imunológico e elevam o risco de desenvolver doenças crônicas e degenerativas.
Impactos no envelhecimento

Com o avanço da idade, a estrutura do sono sofre alterações naturais, resultando em menor duração e qualidade. Embora adultos necessitem, em média, entre sete e nove horas de sono por noite, há evidências de que algumas pessoas funcionam bem com menos tempo, desde que a qualidade seja alta. Dormir em excesso, por outro lado, também pode estar associado a problemas de saúde, especialmente quando há distúrbios subjacentes.
Implicações práticas da descoberta
O entendimento de que as mitocôndrias participam ativamente da regulação do sono pode revolucionar tratamentos para insônia, fadiga crônica e outros distúrbios. Além disso, essa compreensão pode auxiliar na criação de terapias preventivas contra doenças neurológicas, ao focar em manter a saúde mitocondrial e a eficiência da limpeza cerebral. Há ainda a possibilidade de desenvolvimento de medicamentos que atuem diretamente nesses mecanismos, modulando a pressão para dormir de forma controlada.
Considerações finais
O sono é um processo biológico essencial, fruto de uma complexa interação entre sinais neuronais, hormônios e, agora sabemos, também de mecanismos celulares envolvendo as mitocôndrias. Essa nova perspectiva não apenas amplia o conhecimento científico sobre por que dormimos, mas também aponta para um futuro em que a qualidade do descanso poderá ser preservada e otimizada com base em evidências moleculares.Saúde e bem-estar para jovens brasileiros: o que realmente importa para essa geração?












