A revolução dos clones digitais: IA já é capaz de replicar humanos com alta precisão
Na edição do Fantástico exibida no dia 7 de julho de 2025, uma reportagem demonstrou um avanço tecnológico inquietante: a criação de um clone digital de um ser humano por meio de inteligência artificial. O experimento foi conduzido pelo jornalista Álvaro Pereira Júnior, que aceitou o desafio de ter sua imagem e voz replicadas por uma plataforma alimentada por IA. O resultado impressionou tanto pela fidelidade visual quanto pelas lacunas que ainda revelam os limites da tecnologia.
A reportagem revelou não apenas os bastidores da criação do clone digital, mas também abriu espaço para questionamentos sérios sobre privacidade, identidade, consentimento e o papel das máquinas na representação de pessoas reais.
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Como funciona a criação de um clone digital?
Etapas do processo
A replicação digital começa com o envio de vídeos curtos e algumas informações pessoais básicas. A IA analisa padrões da fala, expressões faciais e movimentações corporais, usando modelos de aprendizado profundo para compor uma versão audiovisual artificial do indivíduo.
Tempo de produção
No caso do jornalista, o sistema levou cerca de cinco horas para produzir uma versão digital convincente. O áudio foi gerado quase instantaneamente, enquanto a modelagem da imagem exigiu mais tempo para alcançar um resultado satisfatório.
Os acertos da tecnologia
Fidelidade visual e expressiva
O rosto recriado digitalmente manteve traços bastante próximos do original. Expressões, movimentos labiais e até gestos comuns foram bem representados.
Rapidez no processamento
A velocidade com que a IA conseguiu gerar um clone funcional foi considerada surpreendente, especialmente se comparada à complexidade que um processo desses envolvia há apenas alguns anos.
Potencial de aplicação
A tecnologia pode ser usada para gravar vídeos em várias línguas, responder a perguntas de forma automatizada, ou até simular uma conversa com um “gêmeo digital”, como foi chamado o avatar do jornalista.
Onde a IA ainda falha

Ausência de sotaques e entonações naturais
Embora a voz tenha sido bem reproduzida, a inteligência artificial não conseguiu captar com precisão o sotaque paulistano do repórter, entregando uma sonoridade mais neutra e estrangeira.
Informações incorretas
O clone cometeu erros factuais simples, como afirmar que o jornalista era torcedor de um time errado, o que mostra limitações do modelo ao acessar ou interpretar dados pessoais corretamente.
Barreiras linguísticas
Mesmo sendo direcionada para o público brasileiro, a IA inicialmente utilizava o inglês como idioma principal, o que impõe limitações ao alcance de usuários que não dominam o idioma.
O impacto emocional de ver-se replicado
Uma experiência surreal
O próprio jornalista descreveu a experiência como perturbadora. Ao se deparar com um vídeo de si mesmo falando coisas que não disse, em um tom artificial, mas com aparência convincente, relatou a sensação de estranhamento.
Reflexos psicológicos
Psicólogos alertam que a interação com versões artificiais de si próprio ou de pessoas conhecidas pode afetar o senso de realidade e causar desconforto emocional. Isso é ainda mais delicado quando envolve imagens de entes queridos falecidos, como já é testado por algumas startups internacionais.
Questões éticas e legais emergentes
A quem pertence o clone?
Essa é uma das perguntas mais relevantes neste novo cenário: se um avatar digital é criado a partir de dados de alguém, quem tem os direitos sobre essa imagem? O próprio usuário, a empresa que desenvolveu o software, ou ambos?
Consentimento e uso indevido
Sem uma regulação clara, abre-se espaço para o uso de imagens e vozes sem autorização, seja para fins comerciais, políticos ou até criminosos, como fraudes por deepfake.
Identidade digital e herança
O que acontece com um clone digital quando a pessoa morre? Pode ser mantido ativo? Deveria ser apagado? Existem implicações legais e emocionais importantes ainda sem resposta.
Aplicações práticas dos clones digitais
Entretenimento e marketing
Marcas e artistas podem usar clones digitais para campanhas publicitárias, apresentações virtuais e até produções cinematográficas sem a presença física do ator original.
Atendimento automatizado personalizado
Avatares realistas podem substituir chatbots genéricos, oferecendo uma experiência mais humanizada ao cliente — inclusive com a voz e rosto do próprio usuário.
Educação e memória
Clones digitais de professores, escritores e especialistas podem manter seus ensinamentos disponíveis de forma interativa, mesmo após sua morte.
Riscos para a sociedade
Propagação de desinformação
Com a facilidade de clonar rostos e vozes, cresce o risco de vídeos falsos, discursos fabricados e manipulações de opinião pública, exigindo vigilância das autoridades e plataformas de mídia.
Efeitos sobre a privacidade
A disseminação desses clones torna ainda mais frágil a linha entre o público e o privado. Pequenos trechos de áudio ou vídeo disponíveis online podem ser suficientes para alimentar uma IA.
Dependência tecnológica
A tendência de automatizar interações sociais pode reduzir o contato humano genuíno e criar novos tipos de isolamento digital.
O que dizem os especialistas
Pesquisadores em inteligência artificial e ética digital destacam que a tecnologia está evoluindo mais rapidamente do que as legislações conseguem acompanhar. Isso exige não apenas atenção da sociedade civil, mas também uma atuação mais firme de órgãos reguladores.
Segundo especialistas, é essencial que o desenvolvimento desses sistemas venha acompanhado de mecanismos de controle, validação e rastreabilidade, para evitar abusos e preservar a confiança pública.
Como se proteger
Cuidado com os termos de uso
Muitas plataformas solicitam acesso irrestrito a imagens e gravações. Leia com atenção os contratos antes de aceitar a criação de um avatar digital.
Evite divulgar dados sensíveis
Fotos, áudios e vídeos pessoais podem ser usados para treinar sistemas de IA. Prefira compartilhar essas informações apenas em ambientes seguros e controlados.
Exija transparência
Empresas que oferecem serviços com uso de inteligência artificial devem ser claras quanto aos fins e à proteção dos dados utilizados.
Considerações finais
A criação de clones digitais por inteligência artificial representa um avanço impressionante e inevitável, que já começa a fazer parte do cotidiano de forma experimental. A reportagem do Fantástico demonstrou tanto o potencial transformador quanto os dilemas éticos e técnicos que ainda precisam ser enfrentados. Em um cenário onde a linha entre real e simulado se torna cada vez mais tênue, o debate sobre responsabilidade, privacidade e identidade ganha urgência.
É um momento de fascínio, mas também de cautela. A tecnologia tem o poder de transformar, mas também de confundir — e cabe à sociedade definir os limites do que é aceitável no mundo virtual.













