Cidades do litoral paulista enfrentam risco iminente de desaparecimento com avanço do mar
Estudo aponta trechos críticos e expõe vulnerabilidade da costa de São Paulo
Um novo levantamento técnico revelou uma situação preocupante para o litoral paulista: diversas praias e regiões costeiras estão enfrentando nível elevado de risco de erosão e inundação marinha, e algumas localidades podem desaparecer nas próximas décadas. O estudo, atualizado por pesquisadores ligados ao governo do estado de São Paulo, traçou um panorama dos trechos mais vulneráveis à força do mar, indicando que a crise climática e a ação humana estão acelerando o processo de degradação das orlas.
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Ameaça crescente: o que diz o novo mapeamento costeiro
Avaliação de risco das praias paulistas
O relatório atualizado, fruto de uma parceria entre órgãos ambientais e universidades paulistas, utilizou imagens aéreas, sensores remotos e visitas técnicas para mapear os trechos mais expostos à erosão crônica e à elevação do nível do mar. A análise abrange desde Ubatuba, no extremo norte, até Peruíbe, no sul do estado.
As conclusões apontam para áreas em estado de alerta máximo, com trechos de areia desaparecendo ano após ano. A maioria das regiões críticas concentra-se em zonas urbanizadas, onde a ocupação desordenada e a ausência de vegetação nativa favorecem a ação destrutiva das ondas.
Quais são os critérios de risco
O estudo classificou os pontos litorâneos com base em três níveis de perigo:
- Alto risco: erosão acentuada e risco de inundação constante
- Médio risco: degradação moderada com tendência de piora
- Baixo risco: trechos estáveis ou com controle satisfatório
O relatório ainda destaca que, mesmo áreas classificadas como “médio risco”, podem rapidamente evoluir para situações críticas, caso as tendências atuais se mantenham.
Cidades com trechos mais afetados
Ubatuba: alerta em praias turísticas e residenciais
Ubatuba aparece entre os municípios com maior número de praias em risco elevado. Destacam-se:
- Praia da Fazenda
- Almada
- Ubatumirim
- Perequê-Açú
- Praia Grande
Muitas dessas localidades são pontos turísticos importantes e concentram investimentos imobiliários que podem estar sob ameaça.
Caraguatatuba e Ilhabela: fragilidade nas áreas de expansão urbana
Em Caraguatatuba, o problema se concentra na praia de Massaguaçu, que sofre desgaste acelerado. Já em Ilhabela, a Praia Grande e a região de Barreiros figuram entre as mais ameaçadas.
São Sebastião: vulnerabilidade nas praias centrais
O município de São Sebastião, conhecido por sua cadeia de praias urbanas e paradisíacas, também apresenta trechos frágeis. A praia de Barequeçaba, por exemplo, vem enfrentando perda de areia e risco de alagamentos em dias de maré alta.
Guarujá, Santos e São Vicente: pressão urbana agrava o problema
Essas cidades enfrentam o desafio de conciliar expansão urbana com proteção costeira. Em São Vicente, a Praia do Gonzaguinha já registra visível redução da faixa de areia, enquanto no Guarujá, bairros inteiros próximos da orla estão sendo monitorados por risco de colapso estrutural com o avanço das marés.
Por que o mar está avançando?
Causas naturais agravadas pela ação humana
A erosão costeira é um processo natural, mas foi potencializada por dois fatores principais:
- Mudanças climáticas: o aquecimento global está elevando o nível dos oceanos e aumentando a frequência de eventos extremos, como ressacas e tempestades intensas.
- Urbanização desordenada: construções muito próximas à linha da praia, desmatamento de restingas e canalizações de rios alteram o equilíbrio natural da costa, tornando-a mais frágil.
Falta de vegetação de proteção
A retirada de vegetação costeira, como as restingas, impede a retenção de sedimentos e deixa o solo vulnerável à força das ondas. Em diversos trechos do litoral paulista, áreas que antes tinham cobertura vegetal foram transformadas em loteamentos residenciais ou faixas de areia ampliadas artificialmente.
Impactos sociais e ambientais da erosão costeira

Riscos à moradia e à infraestrutura urbana
O avanço do mar coloca em risco:
- Habitações localizadas à beira-mar
- Sistemas de esgoto e drenagem urbana
- Vias de acesso e ciclovias costeiras
- Estabelecimentos turísticos e comerciais
Em bairros com alta densidade populacional, como ocorre em Praia Grande e Mongaguá, a ameaça não é apenas ambiental, mas também humanitária, afetando milhares de famílias de baixa renda.
Perda de patrimônio natural e cultural
A destruição de praias não afeta apenas a economia do turismo, mas também a memória cultural das cidades litorâneas. Locais históricos, como a região portuária de Santos e os antigos vilarejos caiçaras, enfrentam deterioração com o avanço do mar.
O que está sendo feito para conter o avanço do mar?
Obras de contenção e reposição de areia
Alguns municípios têm adotado soluções emergenciais, como a instalação de:
- Gabiões (estruturas de pedra para conter a erosão)
- Quebra-mares artificiais
- Reposição artificial de areia (dragagem)
No entanto, especialistas alertam que essas obras têm efeito temporário e, se não forem acompanhadas de políticas de ordenamento urbano, podem até agravar o problema em áreas vizinhas.
Projetos de reflorestamento e barreiras naturais
Iniciativas de recuperação da vegetação nativa e construção de barreiras verdes, como dunas e cordões vegetais, vêm sendo testadas com bons resultados em algumas praias do litoral norte, como Itamambuca e Camburi.
O que dizem os especialistas
Pesquisadores em geografia costeira, climatologia e urbanismo alertam que é necessário planejamento integrado e de longo prazo para lidar com a crise litorânea. Entre as recomendações estão:
- Revisar planos diretores municipais, restringindo novas construções na orla
- Criar zonas de amortecimento ambiental
- Integrar ações com Defesa Civil e órgãos ambientais
- Estabelecer mapas de risco atualizados e acessíveis ao público
O papel da população
Educação ambiental e participação cidadã
Campanhas educativas e o envolvimento da sociedade civil são fundamentais para a preservação do litoral. Iniciativas como mutirões de reflorestamento, denúncias de construções ilegais e participação em audiências públicas podem influenciar decisões políticas e proteger as praias.
Perspectivas para o futuro
Se nada for feito, o litoral paulista poderá enfrentar perdas irreversíveis em menos de 30 anos. A previsão de especialistas indica que, com o atual ritmo de degradação e aumento do nível do mar, algumas praias poderão desaparecer completamente até 2050.
Por outro lado, se houver vontade política, investimento técnico e engajamento da população, ainda há tempo para reverter parte dos danos e preservar os ecossistemas costeiros para as futuras gerações.
Considerações finais
A atualização do estudo sobre risco de erosão e inundação costeira em São Paulo funciona como um alerta definitivo: a costa paulista está em perigo real e imediato. Não se trata mais de uma projeção distante, mas de um fenômeno já em curso, com impactos visíveis e mensuráveis.
As ações precisam ser rápidas, coordenadas e baseadas em ciência. Sem isso, as belas praias que fazem parte do imaginário brasileiro podem se tornar apenas lembranças, soterradas por ondas que não param de avançar.


