A maneira como as pessoas trabalham está passando por uma transformação significativa. Entre os novos modelos de gestão de tempo e produtividade, surge o chronoworking, um conceito que propõe adaptar a jornada de trabalho ao relógio biológico de cada profissional. A ideia, criada pela jornalista britânica Ellen C. Scott em 2024, tem ganhado espaço entre empresas que buscam melhorar o desempenho e a qualidade de vida de seus colaboradores.
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O que é o chronoworking?
O termo chronoworking combina as palavras “chrono” (relógio biológico) e “working” (trabalho). O princípio central é simples: permitir que cada funcionário trabalhe nos períodos do dia em que naturalmente apresenta maior energia e concentração, respeitando o seu cronotipo.
Enquanto o modelo tradicional segue horários fixos, como das 9h às 18h, o chronoworking sugere uma jornada personalizada, alinhada aos picos de produtividade de cada um.
Entendendo os cronotipos
Os cronotipos são definidos por características biológicas que determinam os momentos do dia em que uma pessoa se sente mais disposta. De modo geral, são classificados em:
- Matutinos: Preferem começar o dia cedo e têm melhor desempenho pela manhã.
- Vespertinos: Sentem-se mais produtivos à tarde e à noite.
- Noturnos: Seu pico de energia costuma ocorrer no fim da noite.
- Intermediários: Não apresentam um horário de maior produtividade muito definido, adaptando-se com mais facilidade.
Ao reconhecer essas diferenças, o chronoworking busca otimizar a energia individual ao longo do expediente.
Como funciona o modelo na prática?
A implementação do chronoworking exige algumas etapas:
Mapeamento do cronotipo
Empresas que adotam esse sistema geralmente aplicam testes e questionários para identificar o perfil biológico de cada colaborador.
Definição da jornada
Com base nos resultados, é possível ajustar os horários de entrada, saída e intervalo. Em alguns casos, os profissionais têm liberdade para determinar totalmente seus períodos de trabalho, respeitando metas e prazos.
Criação de janelas de comunicação
Para evitar problemas de alinhamento entre equipes, muitas empresas estabelecem um período fixo diário em que todos os colaboradores devem estar disponíveis para reuniões e interações importantes.
Monitoramento de resultados
O desempenho dos funcionários é acompanhado para avaliar os impactos do novo modelo e fazer ajustes quando necessário.
Benefícios do chronoworking

Aumento da produtividade
Trabalhar nos horários em que o corpo está mais preparado para tarefas intelectuais reduz o número de erros, melhora a tomada de decisão e aumenta a eficiência.
Melhora da saúde mental
O respeito ao ritmo biológico diminui os níveis de estresse e cansaço, contribuindo para o bem-estar geral dos colaboradores.
Redução do absenteísmo
Com menos sobrecarga física e emocional, os profissionais tendem a faltar menos ao trabalho.
Maior engajamento
A autonomia para escolher os horários de trabalho pode aumentar o sentimento de confiança e responsabilidade, promovendo um ambiente mais motivador.
Inclusão e diversidade
Esse modelo é especialmente benéfico para profissionais com necessidades específicas, como cuidadores, pessoas com filhos pequenos ou com condições médicas que exigem rotinas diferenciadas.
Desafios para as empresas
Gestão de equipes com horários variados
Gerenciar colaboradores com diferentes horários pode ser um desafio logístico, exigindo novas práticas de liderança e comunicação.
Adaptação da cultura organizacional
Empresas acostumadas com o controle rígido de horários podem enfrentar resistência interna na implementação do chronoworking.
Questões legais
No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ainda não possui regulamentação específica para esse tipo de jornada personalizada. Por isso, é importante que as empresas estabeleçam acordos formais com os colaboradores para garantir segurança jurídica.
Setores com limitações
Empresas que atuam em segmentos que exigem atendimento ao público ou produção em turnos fixos podem ter dificuldades em adotar o chronoworking de forma ampla.
Exemplos de empresas que já adotaram
Algumas companhias no Brasil já estão testando o modelo:
- Everymind: A empresa de tecnologia permite que 90% dos seus funcionários escolham onde e quando trabalhar, com bons resultados em produtividade e clima organizacional.
- HomeDock: No setor de decoração, a companhia oferece flexibilidade de horários para áreas que não dependem diretamente do atendimento ao público.
Além disso, startups de tecnologia e empresas com estruturas híbridas ou remotas têm sido pioneiras na adoção do chronoworking.
Como começar a adotar o chronoworking na sua empresa
Para gestores interessados em implementar o modelo, algumas etapas são recomendadas:
Avaliação inicial
Analise se a cultura da empresa e o tipo de operação permitem a adoção do chronoworking.
Sensibilização da equipe
Promova encontros e treinamentos para explicar o conceito e os benefícios do modelo.
Projeto-piloto
Inicie a aplicação em um pequeno grupo de colaboradores para testar a viabilidade.
Revisão de políticas internas
Adapte contratos de trabalho, políticas de recursos humanos e sistemas de controle de ponto, se necessário.
Uso de tecnologia
Adote ferramentas de gestão de tarefas e comunicação assíncrona para facilitar a coordenação de equipes com diferentes horários.
Tendências para o futuro
Especialistas apontam que modelos flexíveis como o chronoworking devem ganhar ainda mais espaço nos próximos anos, impulsionados por fatores como:
- Crescente foco no bem-estar dos colaboradores
- Popularização do trabalho remoto
- Avanços em ferramentas de gestão digital
- Mudanças no perfil das novas gerações de profissionais
A expectativa é que, com a evolução da legislação trabalhista e a ampliação do debate sobre saúde mental no trabalho, o chronoworking deixe de ser uma tendência de nicho e se torne uma prática comum no ambiente corporativo.
Considerações finais
O chronoworking representa uma mudança profunda na relação entre empresas e colaboradores. Ao colocar o bem-estar biológico no centro da gestão do tempo, o modelo tem o potencial de transformar a produtividade e a qualidade de vida no trabalho. Embora ainda existam desafios práticos e jurídicos, a adoção dessa prática já mostra resultados positivos em várias organizações. Para profissionais e gestores, entender e explorar esse novo formato pode ser o primeiro passo rumo a um ambiente de trabalho mais saudável e eficiente.


