Estudo revela que uso contínuo do ChatGPT pode afetar funções do cérebro
Uma pesquisa conduzida pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) gerou debates ao sugerir que o uso intensivo de inteligência artificial, como o ChatGPT, pode provocar efeitos negativos sobre o funcionamento do cérebro humano. De acordo com os dados divulgados, confiar frequentemente em assistentes de IA para escrever, pesquisar ou planejar tarefas pode levar à diminuição da memória, da criatividade e da capacidade de concentração.
O fenômeno, classificado pelos pesquisadores como “dívida cognitiva”, consiste na substituição de atividades mentais fundamentais por comandos automatizados. Essa mudança de comportamento, segundo os especialistas, está associada à perda gradual da autonomia intelectual, principalmente entre jovens e estudantes.
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O que é dívida cognitiva e por que ela preocupa os pesquisadores?
Entendendo o conceito
A chamada “dívida cognitiva” é um termo utilizado para descrever o enfraquecimento de habilidades mentais essenciais quando se delega constantemente tarefas à tecnologia. Assim como o uso contínuo de GPS pode reduzir a capacidade de orientação, confiar em ferramentas como o ChatGPT para pensar, escrever ou tomar decisões pode atrofiar partes do cérebro ligadas à análise e à memória.
Sintomas associados
Entre os principais impactos identificados estão:
- Redução na fixação de informações novas;
- Queda na criatividade na produção de conteúdo;
- Sensação de dependência para formular ideias;
- Falta de engajamento com tarefas intelectuais simples.
Metodologia do estudo

Como a pesquisa foi realizada
A investigação acompanhou três grupos distintos de participantes durante um período de quatro meses. O primeiro grupo realizava suas tarefas sem auxílio digital, o segundo utilizava mecanismos de busca tradicionais, como o Google, e o terceiro dependia de inteligência artificial generativa, como o ChatGPT.
Ao fim do experimento, testes neurológicos como eletroencefalograma (EEG) e avaliações de desempenho cognitivo revelaram que o grupo que usava IA apresentou:
- Menor atividade cerebral nas regiões ligadas à memória e raciocínio lógico;
- Baixa retenção de informações;
- Dificuldade em elaborar textos sem auxílio da ferramenta.
Queda na atividade cerebral
A análise das ondas cerebrais dos participantes que utilizaram o ChatGPT indicou níveis mais baixos nas faixas alfa e beta, responsáveis pelo foco e pela criatividade. Esse padrão reforça a tese de que o uso contínuo da IA pode suprimir áreas do cérebro relacionadas ao pensamento crítico.
O papel da inteligência artificial na rotina de estudos e trabalho
Vantagens e riscos do uso da IA
Não há dúvidas de que as ferramentas baseadas em IA trouxeram facilidade e agilidade para atividades intelectuais. Com o ChatGPT, é possível gerar conteúdos, resumir textos, criar listas, resolver problemas e obter informações em segundos.
Por outro lado, o estudo alerta que essas facilidades não devem substituir o esforço mental humano. Segundo os pesquisadores, a linha entre o uso saudável e o uso nocivo é tênue, principalmente quando a IA deixa de ser um recurso de apoio e se transforma na única fonte de processamento intelectual.
Quando a tecnologia substitui a reflexão
Muitos estudantes relatam não se lembrar de conteúdos produzidos com auxílio do ChatGPT. Isso ocorre porque o ato de delegar a escrita ou a pesquisa à IA elimina o processo de construção do conhecimento, prejudicando o aprendizado real. Nesse cenário, o usuário passa a reproduzir respostas sem compreendê-las, comprometendo seu desenvolvimento intelectual a médio e longo prazo.
Impactos observados na educação e na criatividade
A preocupação com o ambiente escolar
Educadores têm manifestado receio quanto ao uso indiscriminado de IA em salas de aula e atividades acadêmicas. A facilidade em obter textos prontos tem desestimulado a leitura, o pensamento crítico e a escrita autoral. Como resultado, há um risco real de formação de estudantes passivos, que dependem da tecnologia para pensar.
Criatividade em risco
Outro ponto destacado no estudo é a queda da originalidade. Participantes que produziram textos com ajuda da IA demonstraram menor envolvimento e criatividade. Além disso, muitos descreveram suas produções como “frias”, “genéricas” ou “sem identidade”, o que reforça a ideia de que a IA pode reduzir o engajamento pessoal com o conteúdo.
O que dizem os especialistas
Uso consciente é fundamental
Cientistas envolvidos na pesquisa recomendam que a inteligência artificial seja usada de forma complementar, e não como substituta da capacidade mental humana. Assim como usamos calculadoras para operações complexas, o ChatGPT deve servir como um facilitador, e não como o cérebro do usuário.
Equilíbrio entre mente e máquina
Segundo a neurocientista brasileira Mariana Lemos, “a mente precisa de exercícios, assim como o corpo. Se você sempre pede que a IA pense por você, está atrofiando sua própria capacidade de pensar”. Para ela, o segredo está no equilíbrio entre o uso da tecnologia e a prática de atividades cognitivas desafiadoras.
Estratégias para evitar os efeitos negativos do uso do ChatGPT
Dicas para manter a mente ativa
- Escreva à mão: anotações manuais ajudam a fixar informações e estimulam a memória de longo prazo.
- Faça resumos sem ajuda: após ler um texto, tente resumi-lo com suas próprias palavras.
- Pratique a leitura crítica: evite copiar respostas prontas. Leia, questione e elabore seus próprios argumentos.
- Utilize IA apenas como apoio: recorra à IA para revisar, expandir ideias ou tirar dúvidas, mas nunca como a principal fonte de conteúdo.
- Alterne momentos de uso e descanso digital: pratique atividades que envolvam foco, como leitura, escrita livre ou jogos de lógica.
A importância de refletir
Ao invés de aceitar prontamente as respostas oferecidas pela IA, reflita sobre elas. Pergunte-se: faz sentido? Eu teria chegado a essa conclusão? O processo de análise é crucial para manter o cérebro ativo e funcional.
Comparação com buscadores tradicionais
Google estimula mais raciocínio do que IA generativa
Durante o estudo, os participantes que utilizaram motores de busca comuns demonstraram maior envolvimento cognitivo. Isso acontece porque, ao buscar respostas no Google, é necessário ler, comparar fontes e interpretar dados — ações que exercitam o cérebro.
A diferença está na passividade
Com o ChatGPT, por outro lado, o risco é o da passividade: o conteúdo é entregue pronto, e o usuário apenas consome, sem necessidade de elaborar ou conectar informações. Essa diferença pode parecer pequena, mas é significativa no desenvolvimento de habilidades cognitivas.
O futuro da inteligência artificial e seus desafios
IA não é vilã, mas exige responsabilidade
A pesquisa não condena o uso da IA, mas propõe uma reflexão sobre como ela está sendo integrada à rotina de milhões de pessoas. Quando usada com consciência, a tecnologia pode ampliar conhecimentos e acelerar processos. No entanto, quando se torna muleta para qualquer ação intelectual, pode comprometer a saúde mental e a autonomia do pensamento.
Educação digital será essencial
Para o futuro, especialistas defendem a inclusão da educação digital nas escolas. É necessário ensinar desde cedo como usar a IA com responsabilidade, estimulando a reflexão crítica, o discernimento e o pensamento autoral.
Considerações finais
A inteligência artificial transformou a maneira como acessamos informações e executamos tarefas mentais. No entanto, seu uso excessivo, sem critérios, pode comprometer habilidades cognitivas essenciais como memória, raciocínio e criatividade. O estudo do MIT alerta para os riscos da chamada dívida cognitiva, reforçando a importância de manter o cérebro em constante atividade.
Portanto, o desafio contemporâneo é encontrar o equilíbrio entre a conveniência tecnológica e a preservação da capacidade de pensar por si mesmo. Usar o ChatGPT como ferramenta e não como substituto é o caminho mais seguro para garantir que a inteligência artificial sirva como aliada — e não como ameaça — à nossa própria mente.


