Chá sem açúcar pode reduzir risco de demência, aponta estudo científico internacional
Um novo estudo publicado recentemente em um dos principais periódicos de neurologia e saúde pública trouxe um dado animador para os amantes de chá: o consumo regular da bebida sem adição de açúcar pode reduzir significativamente o risco de desenvolver demência ao longo da vida. A pesquisa analisou os hábitos alimentares de milhares de pessoas ao longo de décadas e associou a ingestão de chá natural com menor incidência de declínio cognitivo.
O achado reforça o papel que a alimentação desempenha na saúde cerebral, especialmente em um contexto de envelhecimento populacional acelerado e aumento de doenças neurodegenerativas como Alzheimer. A seguir, entenda os detalhes do estudo, quais tipos de chá oferecem maior benefício, como e quando consumi-los e o que a ciência explica sobre essa associação.
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A pesquisa: o que diz o estudo sobre chá e demência
Metodologia do estudo
O estudo foi conduzido por pesquisadores de universidades britânicas, chinesas e australianas e envolveu dados de mais de 377 mil pessoas acompanhadas por um período médio de 10 anos. A base de dados utilizada foi a UK Biobank, uma das maiores fontes populacionais de saúde pública do mundo.
Durante o acompanhamento, foram registrados casos de demência diagnosticada clinicamente, incluindo Alzheimer e outras formas de declínio cognitivo. Os pesquisadores analisaram os hábitos alimentares dos participantes, especialmente o consumo de bebidas como refrigerantes, sucos adoçados, café e chá.
Resultados principais
Os dados revelaram que pessoas que consumiam chá regularmente, sem açúcar, apresentaram menor risco de desenvolver demência em comparação com aquelas que não tinham o hábito ou consumiam versões adoçadas. Os resultados foram ajustados para fatores como idade, histórico familiar, estilo de vida, atividade física e doenças crônicas.
O risco relativo foi cerca de 15% menor entre os consumidores diários de chá não adoçado. Já o chá adoçado artificialmente ou com açúcar refinado não apresentou o mesmo efeito protetor — em alguns casos, o risco de demência aumentava, principalmente quando associado a um estilo de vida sedentário.
Por que o chá protege o cérebro?
Composição química dos chás
Os chás — especialmente os das folhas da planta Camellia sinensis, como o verde, preto, oolong e branco — são ricos em antioxidantes, flavonoides e polifenóis, compostos bioativos que atuam na proteção celular contra o estresse oxidativo.
Esse estresse é um dos principais mecanismos envolvidos na degeneração dos neurônios, contribuindo para doenças como Alzheimer e Parkinson. O chá também tem efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores, além de favorecer a circulação sanguínea cerebral.
Redução da inflamação e melhora da função cognitiva
Os flavonoides presentes no chá ajudam a reduzir os níveis de proteínas inflamatórias no cérebro. Além disso, estimulam a formação de conexões neuronais e favorecem a plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e formar novas memórias.
Há também indícios de que substâncias como a L-teanina, presente no chá verde, promovem relaxamento sem sedação, melhorando o foco e o desempenho cognitivo.
Tipos de chá com maior potencial protetor
Chá verde
O chá verde é considerado o mais benéfico para o cérebro devido à alta concentração de catequinas e EGCG (galato de epigalocatequina). Esses compostos têm efeito antioxidante potente e já foram associados a melhora na memória e atenção.
Estudos prévios apontam que o consumo de 2 a 3 xícaras por dia de chá verde pode reduzir marcadores inflamatórios no sistema nervoso central.
Chá preto
O chá preto, embora tenha menor concentração de catequinas em comparação com o chá verde, ainda oferece benefícios significativos por conter teaflavinas e tearubiginas, antioxidantes que protegem as células cerebrais.
Além disso, a cafeína presente em pequenas quantidades pode ajudar a melhorar o estado de alerta e retardar o declínio cognitivo leve.
Chá branco
O chá branco, menos processado, mantém níveis mais altos de antioxidantes naturais. Ele é mais suave, tem menos cafeína e pode ser uma boa opção para quem busca os benefícios do chá sem estimular demais o sistema nervoso.
Chá de hibisco e infusões
Embora não sejam feitos da Camellia sinensis, infusões como chá de hibisco, camomila, erva-cidreira e rooibos também têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. No entanto, seus efeitos diretos sobre o risco de demência ainda são menos estudados.
Como e quando consumir chá para obter os benefícios

Frequência ideal
Para obter o efeito neuroprotetor, a recomendação dos especialistas envolvidos na pesquisa é o consumo regular, diário, de 2 a 4 xícaras de chá natural, sem adição de açúcar ou adoçantes artificiais.
A ingestão deve ser feita de preferência ao longo do dia, evitando horários muito próximos ao sono — especialmente no caso de chás com cafeína.
Evite açúcar e adoçantes
A adição de açúcar anula parcialmente os benefícios do chá, já que o excesso de glicose contribui para inflamação crônica e pode estar associado a maior risco de doenças neurológicas. O mesmo vale para adoçantes artificiais em excesso, que têm sido estudados por possíveis efeitos no microbioma intestinal, com repercussões no eixo intestino-cérebro.
Cuidados na preparação
Prefira preparar o chá com folhas soltas ou sachês de boa procedência, evitando bebidas industrializadas e chás de caixinha com conservantes. A infusão deve durar entre 3 e 5 minutos, dependendo do tipo de chá, em água quente (não fervente).
Outras estratégias alimentares para prevenir a demência
Dieta mediterrânea
Além do chá, outros elementos da dieta mediterrânea — como azeite de oliva, peixes, nozes, frutas vermelhas e vegetais verdes — também são associados à redução do risco de demência. A combinação desses alimentos forma um padrão alimentar anti-inflamatório, ideal para a saúde do cérebro.
Redução de ultraprocessados
Evitar alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras trans, corantes e aditivos, é essencial para manter a integridade das funções neurológicas ao longo da vida. Esses alimentos promovem inflamações e aceleram o envelhecimento cerebral.
Atividade física e sono
A alimentação é parte fundamental da prevenção, mas precisa estar acompanhada de atividade física regular, sono de qualidade e controle do estresse. Esses fatores afetam diretamente a saúde mental e a preservação cognitiva.
Especialistas comentam o estudo
O que dizem os neurologistas
Segundo a neurologista Dra. Helena Cardoso, que não participou do estudo mas analisou os resultados, “o trabalho reforça evidências de que pequenas mudanças no estilo de vida, como incluir chá na rotina, podem ter efeitos duradouros na prevenção de doenças como Alzheimer.”
Ela destaca, no entanto, que o chá não é um tratamento nem um escudo absoluto, mas parte de um conjunto de hábitos saudáveis.
Nutricionistas alertam para exageros
A nutricionista funcional Andréa Ribeiro lembra que chás com cafeína em excesso podem causar efeitos colaterais, como insônia, ansiedade e gastrite. “O ideal é diversificar os tipos de chá e evitar tomar tudo de uma vez só. O equilíbrio é sempre o melhor caminho.”
Considerações finais
O estudo que relaciona o consumo de chá sem açúcar com a redução do risco de demência reforça a ideia de que hábitos simples podem gerar impactos significativos na saúde cerebral a longo prazo. Incorporar o chá na rotina diária, desde que sem adição de açúcar, pode ser uma estratégia eficiente e natural para proteger o cérebro do envelhecimento e das doenças degenerativas.
Com respaldo científico crescente, essa prática se junta a outras medidas preventivas, como dieta equilibrada, exercícios físicos e sono reparador, formando um verdadeiro escudo contra o declínio cognitivo. Beber chá, portanto, pode ser mais do que um hábito prazeroso — pode ser um investimento diário no futuro da sua mente.


