O uso do celular faz parte da rotina de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Porém, a forma como interagimos com os dispositivos móveis tem gerado preocupação entre especialistas em saúde mental. Um estudo recente divulgado durante o Congresso Europeu de Psiquiatria apontou uma ligação direta entre o uso excessivo de celulares e o aumento dos níveis de ansiedade, especialmente entre mulheres jovens.
A pesquisa traz à tona um debate cada vez mais necessário: até que ponto a tecnologia tem contribuído para o bem-estar, e quando ela se torna um fator de risco silencioso?
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A pesquisa e seus achados
Quem realizou o estudo
O levantamento foi conduzido por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, com o objetivo de identificar o impacto psicológico do uso exagerado de smartphones em adultos jovens. A investigação se concentrou especialmente nas diferenças entre os efeitos causados em homens e mulheres.
Metodologia e população estudada
Participaram do estudo cerca de 600 jovens com idade entre 18 e 27 anos. Eles responderam a questionários sobre seus hábitos de uso do celular, saúde emocional e sintomas associados a ansiedade. Os dados revelaram que as mulheres que relataram maior tempo de uso diário do celular também apresentavam índices mais altos de ansiedade, sensação de esgotamento e dificuldade de concentração.
Um grupo mais sensível
A conclusão dos pesquisadores é que as mulheres jovens, por fatores socioculturais e biológicos, são mais vulneráveis aos efeitos nocivos da superexposição digital. A constante comparação nas redes sociais, a necessidade de aprovação externa e o volume de notificações recebidas diariamente contribuem para esse cenário.
Por que mulheres jovens são mais afetadas?
Pressão social e comparação constante
A vida nas redes sociais, muitas vezes baseada em imagens idealizadas e padrões inalcançáveis, pode gerar nas mulheres jovens um sentimento recorrente de inadequação. A comparação constante com influenciadoras, celebridades ou até mesmo amigas pode impactar diretamente na autoestima e intensificar quadros de ansiedade.
Maior engajamento emocional
Mulheres costumam utilizar os smartphones para manter conexões sociais mais profundas, o que aumenta o envolvimento emocional com os conteúdos consumidos. Comentários negativos, exclusões de grupos ou conflitos online geram impactos emocionais significativos, agravando estados de ansiedade.
Estímulos contínuos e esgotamento mental
A exposição prolongada a estímulos digitais — notificações, vídeos, mensagens e interações — pode sobrecarregar o sistema nervoso. Mulheres jovens, especialmente aquelas que acumulam estudos, trabalho e redes sociais, são mais propensas a manifestar sintomas de fadiga mental.
Sintomas comuns relacionados ao uso excessivo do celular

Os efeitos do uso abusivo do smartphone não se restringem à ansiedade. Entre os principais sintomas relatados por jovens mulheres estão:
- Insônia e dificuldades para dormir
- Cansaço excessivo durante o dia
- Alterações de humor e irritabilidade
- Redução da produtividade
- Sensação de vazio ao ficar longe do celular
- Dores de cabeça e tensão muscular
Relação com outras condições de saúde mental
Além da ansiedade, o uso compulsivo de celulares está sendo associado a outros transtornos psicológicos:
Depressão
A busca por validação nas redes sociais e o medo de exclusão digital (chamado de FOMO — fear of missing out) podem agravar quadros depressivos, sobretudo quando há baixa interação social presencial.
Transtornos de atenção
A constante troca de estímulos nos smartphones pode dificultar o foco e a capacidade de se concentrar em tarefas longas, elevando os níveis de distração.
Transtornos do sono
O uso de celular antes de dormir prejudica a produção de melatonina, hormônio responsável pela regulação do sono. A consequência direta é uma noite mal dormida e maior irritabilidade no dia seguinte.
Estratégias para prevenir os efeitos do uso excessivo
Estabelecer limites digitais
Uma das formas mais eficazes de evitar o impacto negativo é controlar o tempo de uso. Aplicativos como Digital Wellbeing (Android) e Tempo de Uso (iOS) permitem acompanhar e limitar o acesso diário a redes sociais e jogos.
Praticar o detox digital
Reservar momentos do dia ou da semana longe do celular — como as refeições, o período antes de dormir ou o fim de semana — ajuda a reequilibrar a mente e reduzir a dependência.
Priorizar o contato presencial
Valorizar encontros presenciais, atividades físicas em grupo ou hobbies offline (como leitura, pintura ou música) é fundamental para fortalecer conexões reais e reduzir o isolamento virtual.
Cuidar da saúde mental
Psicoterapia, meditação, exercícios respiratórios e mindfulness são ferramentas poderosas para lidar com os sintomas de ansiedade e cultivar o autocuidado.
A importância da educação digital
A formação emocional das mulheres jovens deve incluir, desde cedo, orientações sobre o uso saudável das tecnologias. Instituições de ensino, pais e profissionais da saúde mental têm papel central na construção de um ambiente mais equilibrado.
Incentivo à autorreflexão
Ensinar adolescentes e jovens a refletirem sobre seu comportamento online, os gatilhos emocionais envolvidos e a diferença entre o mundo real e o virtual ajuda a desenvolver uma relação mais consciente com a tecnologia.
Combate à cultura da comparação
É necessário reforçar que as redes sociais são recortes idealizados da realidade e que o valor pessoal não deve ser medido por curtidas ou seguidores.
Quando procurar ajuda profissional?
Se a ansiedade interfere nas atividades diárias, nos relacionamentos ou provoca sintomas físicos como insônia, taquicardia e dificuldade para respirar, é hora de procurar um psicólogo ou psiquiatra. O diagnóstico precoce e o acompanhamento terapêutico aumentam significativamente as chances de recuperação e bem-estar.
Considerações finais
A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas seu uso descontrolado pode trazer consequências sérias para a saúde emocional. O estudo europeu reforça a necessidade de uma abordagem mais equilibrada no uso dos smartphones, especialmente entre mulheres jovens, que se mostram mais suscetíveis ao desenvolvimento de ansiedade e outros transtornos relacionados ao mundo digital.
Promover o uso consciente da tecnologia, investir em educação emocional e buscar ajuda quando necessário são caminhos fundamentais para garantir uma relação mais saudável com os celulares e as redes sociais.













