O sarampo, uma das doenças mais contagiosas do mundo e que já havia sido declarado eliminado das Américas em 2016, voltou a preocupar autoridades internacionais. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os casos confirmados da doença aumentaram 34 vezes em 2025 em comparação ao ano anterior. A alta acende um sinal de alerta sobre a queda nas coberturas vacinais e expõe a fragilidade dos sistemas de vigilância em diversos países da região.
No Brasil, apesar de os números absolutos ainda serem menores que em outras nações, a doença já reapareceu em alguns estados, com destaque para o Tocantins. A situação reforça a necessidade urgente de campanhas de imunização e de cooperação internacional para evitar que o vírus volte a circular de forma endêmica.
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A escalada dos casos em 2025
Crescimento explosivo nas Américas
Segundo dados divulgados pela OPAS, mais de 10 mil casos de sarampo foram confirmados em dez países das Américas até agosto de 2025. O número representa um aumento de 34 vezes em relação a 2024, quando a região registrou pouco mais de 300 casos.
Além da alta nos diagnósticos, a doença também provocou mortes: 14 no México, três nos Estados Unidos e uma no Canadá. Esses países, apesar de possuírem sistemas de saúde robustos, enfrentam lacunas na cobertura vacinal e resistência de parte da população à imunização.
Situação no Brasil
No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou 24 casos de sarampo até o fim de agosto, sendo 19 no Tocantins. Embora o número seja menor do que em outros países, a concentração em estados específicos acende o alerta sobre possíveis surtos locais.
O governo brasileiro tem intensificado campanhas de vacinação e ampliado a vigilância em áreas de fronteira, já que a circulação do vírus em países vizinhos aumenta o risco de reintrodução.
Por que o sarampo voltou a crescer?

Queda na cobertura vacinal
A principal explicação para o ressurgimento do sarampo está na redução das taxas de vacinação. A meta mínima recomendada pela OPAS e pela OMS é de 95% de cobertura com duas doses da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola). Poucos países da região conseguem alcançar esse índice de forma consistente.
No Brasil, apesar de avanços recentes, a cobertura ainda está abaixo do ideal em diversas cidades, especialmente em áreas remotas e periferias urbanas.
Movimentos antivacina e desinformação
A circulação de notícias falsas sobre vacinas tem contribuído para a hesitação vacinal em diferentes camadas da população. Grupos contrários à imunização espalham informações incorretas sobre supostos efeitos colaterais, minando a confiança em campanhas de saúde pública.
Essa tendência, observada em países ricos e pobres, compromete o alcance da imunidade coletiva e facilita o reaparecimento de doenças já controladas.
Impactos da pandemia de covid-19
Durante a pandemia, muitos programas de vacinação de rotina foram interrompidos ou enfraquecidos. Postos de saúde reduziram atendimento, famílias deixaram de levar crianças para imunização e equipes de vigilância redirecionaram esforços para o combate ao coronavírus. Essa lacuna agora se reflete em maior vulnerabilidade a doenças como o sarampo.
Mobilidade internacional
Outro fator relevante é o trânsito intenso de pessoas entre países, especialmente em regiões de fronteira. Viajantes infectados podem introduzir o vírus em comunidades com baixa cobertura vacinal, gerando surtos rápidos e de difícil controle.
O que é o sarampo e por que preocupa?
Doença altamente contagiosa
O sarampo é causado por um vírus do gênero Morbillivirus e é transmitido pelo ar, através de gotículas respiratórias expelidas por tosse, espirro ou fala. Sua capacidade de contágio é tão alta que uma única pessoa infectada pode transmitir a doença para até 90% das pessoas suscetíveis ao seu redor.
Sintomas principais
- Febre alta
- Tosse persistente
- Irritação nos olhos (conjuntivite)
- Manchas vermelhas características na pele
- Coriza e mal-estar geral
Complicações possíveis
Embora em alguns casos o sarampo apresente evolução leve, ele pode causar complicações graves, como:
- Pneumonia
- Encefalite
- Diarreia intensa
- Desnutrição
- Cegueira
- Óbito em situações mais graves
Crianças pequenas, gestantes e pessoas com baixa imunidade são os grupos mais vulneráveis.
Resposta da saúde pública
Estratégias no Brasil
O Ministério da Saúde tem reforçado campanhas nacionais de vacinação e promovido o chamado “Dia D”, com postos de saúde abertos em horários estendidos para alcançar mais pessoas. Além disso, o governo ampliou ações em cidades de fronteira e em locais onde foram identificados surtos.
Recomendações da OPAS
A OPAS orienta os países a:
- Aumentar a cobertura vacinal com foco em atingir ao menos 95% da população com as duas doses.
- Intensificar a vigilância epidemiológica, garantindo rápida identificação e notificação de novos casos.
- Promover campanhas de conscientização para combater a desinformação e incentivar a vacinação.
- Fortalecer a cooperação internacional, especialmente em regiões de fronteira, para reduzir riscos de reintrodução.
Desafios para o controle do surto
Acesso desigual à saúde
Em muitas regiões das Américas, comunidades remotas enfrentam dificuldades para acessar postos de vacinação. A logística de distribuição, o armazenamento adequado das vacinas e a escassez de profissionais de saúde dificultam o alcance da cobertura necessária.
Estigma e resistência cultural
Em alguns grupos, principalmente comunidades isoladas, há resistência cultural à vacinação. Isso cria bolsões de suscetibilidade onde o vírus pode circular com maior facilidade.
Recursos financeiros e humanos
Apesar do alerta internacional, muitos países ainda destinam poucos recursos para campanhas de vacinação. A OPAS lembra que o sarampo é uma doença evitável e que cada dólar investido em vacinas retorna múltiplos em economia para os sistemas de saúde.
O risco de perder conquistas históricas
Em 2016, as Américas foram declaradas livres da circulação endêmica do sarampo, após anos de esforços coordenados entre os países. O atual aumento de casos ameaça colocar por terra essa conquista histórica.
Se o surto não for controlado, a região pode enfrentar surtos recorrentes, com impacto social, econômico e na credibilidade dos programas de imunização. Além disso, há risco de aumento na mortalidade infantil, já que o sarampo é uma das principais causas de morte prevenível em crianças menores de cinco anos.
Como a população pode colaborar
Manter a vacinação em dia
A forma mais eficaz de prevenir o sarampo é por meio da vacina tríplice viral. Crianças devem receber a primeira dose aos 12 meses e a segunda aos 15 meses de idade. Adultos que não foram vacinados também devem procurar os postos de saúde.
Procurar atendimento ao aparecer sintomas
Quem apresentar sintomas suspeitos deve buscar atendimento médico imediatamente e evitar contato com outras pessoas, reduzindo a chance de transmissão.
Compartilhar informações corretas
A população pode ajudar a combater a desinformação ao compartilhar apenas dados de fontes confiáveis, como Ministério da Saúde, OMS e OPAS.
Considerações finais
O aumento de 34 vezes nos casos de sarampo nas Américas em 2025 é um sinal de que a região precisa agir rapidamente para evitar uma nova crise de saúde pública. O vírus não desapareceu e continua encontrando espaço onde a vacinação é insuficiente.
No Brasil e em outros países, a prioridade deve ser ampliar a cobertura vacinal, combater a desinformação e garantir a vigilância ativa. O sarampo é uma doença prevenível, e permitir sua reintrodução em larga escala significa colocar em risco vidas que poderiam ser salvas com uma simples dose de vacina.
A mensagem da OPAS é clara: se o sarampo voltou a circular, a responsabilidade é coletiva, e a vacinação é a principal arma para deter a doença.
