Em uma recente apresentação na conferência ENDO 2025, realizada pela Sociedade de Endocrinologia, pesquisadores da Universidade de Michigan compartilharam resultados promissores sobre os efeitos da tirzepatida — medicamento conhecido comercialmente como Mounjaro — no tratamento do câncer de mama. O estudo pré-clínico com camundongos demonstrou uma redução de 20% nos tumores de mama, uma descoberta que associa a perda de peso induzida pela tirzepatida à diminuição tumoral. Este artigo explora os detalhes do estudo, seus resultados e as possíveis implicações para o tratamento do câncer de mama, especialmente em pacientes com obesidade.
Leia Mais:
Vacina universal contra o câncer: o que a ciência já descobriu e quando pode chegar ao público
O Estudo Pré-Clínico
Objetivo e metodologia
O estudo envolveu 16 camundongos que foram alimentados com uma dieta rica em gordura para induzir a obesidade, um fator de risco reconhecido para o câncer de mama. Os camundongos receberam injeções de tirzepatida ou placebo por um período de 16 semanas. Durante esse tempo, os pesquisadores monitoraram o crescimento tumoral e a perda de peso dos animais, buscando avaliar os efeitos da medicação no câncer de mama relacionado à obesidade. A tirzepatida foi administrada a cada dois dias, e as medições dos tumores foram feitas duas vezes por semana.
Resultados observados
Os resultados mostraram que os camundongos tratados com tirzepatida perderam cerca de 20% de seu peso corporal. Além disso, os tumores apresentaram uma redução proporcional, indicando que a perda de peso pode estar ligada à diminuição do tamanho dos tumores. Os animais que receberam o placebo não apresentaram mudanças significativas no peso ou nos tumores. Isso sugere que a tirzepatida pode ter um efeito direto na redução tumoral, possivelmente mediado pela redução de gordura corporal e pelo impacto na inflamação sistêmica.
Mecanismos de ação da tirzepatida
Como a tirzepatida age no corpo
A tirzepatida é um medicamento que combina duas classes de hormônios: o GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e o GIP (gastric inhibitory peptide). Ambos os hormônios estão envolvidos no controle do apetite, na regulação da liberação de insulina e no metabolismo da gordura. O GLP-1, por exemplo, reduz a ingestão de alimentos e promove a sensação de saciedade, enquanto o GIP está relacionado ao controle do metabolismo energético e à redução da gordura visceral.
Esses efeitos da tirzepatida são fundamentais para pacientes com obesidade, pois a perda de peso está associada à redução de fatores de risco para várias doenças, incluindo o câncer de mama. A obesidade é conhecida por aumentar a inflamação e alterar os níveis hormonais no corpo, favorecendo o crescimento de tumores. Ao reduzir a gordura corporal e controlar a inflamação, a tirzepatida pode ajudar a combater essas condições.
A Relação Entre Obesidade e Câncer de Mama

A obesidade é um fator de risco significativo para vários tipos de câncer, incluindo o câncer de mama. Em mulheres pós-menopáusicas, a gordura corporal excessiva pode aumentar os níveis de estrogênio, um hormônio que, em níveis elevados, pode estimular o crescimento de células cancerígenas na mama. Além disso, a obesidade está associada a um aumento da inflamação no corpo, o que pode contribuir para o desenvolvimento e progressão do câncer.
Estudos anteriores já mostraram que a redução da gordura corporal pode diminuir o risco de câncer de mama e melhorar os resultados clínicos em pacientes com a doença. O estudo da Universidade de Michigan fornece mais evidências de que medicamentos que induzem a perda de peso, como a tirzepatida, podem ser eficazes não apenas para tratar a obesidade, mas também para reduzir os tumores relacionados à obesidade.
Implicações para o Tratamento do Câncer de Mama
Potencial terapêutico
Os resultados do estudo com camundongos sugerem que a tirzepatida pode ser uma ferramenta adicional no tratamento do câncer de mama, especialmente em pacientes com obesidade. A combinação da perda de peso com a redução da inflamação e do crescimento tumoral pode trazer benefícios terapêuticos significativos, tornando a tirzepatida uma possível alternativa no tratamento adjuvante ao câncer de mama, especialmente em pacientes que lutam contra a obesidade.
Se esses resultados forem confirmados em ensaios clínicos em humanos, a tirzepatida poderia ser integrada a protocolos de tratamento para pacientes com câncer de mama, especialmente aqueles cujos tumores são alimentados por fatores hormonais relacionados à obesidade.
Necessidade de estudos clínicos em humanos
Embora os resultados preliminares sejam promissores, é essencial que mais estudos sejam realizados em humanos para validar a eficácia e segurança do uso de tirzepatida no tratamento do câncer de mama. Ensaios clínicos controlados serão necessários para determinar a dosagem apropriada, a duração do tratamento e os possíveis efeitos colaterais. Além disso, é importante investigar se os efeitos observados em camundongos se traduzem da mesma forma no tratamento humano.
Estudos Complementares e Avanços em Terapias de Câncer
Resultados de outros tratamentos
Pesquisas anteriores têm mostrado que medicamentos que controlam o peso e reduzem a gordura corporal, como os agonistas de GLP-1, podem melhorar os resultados de pacientes com câncer. Além disso, estudos com medicamentos como a metformina, que também afeta o metabolismo da glicose e da gordura, indicam que esses agentes podem ter um efeito protetor contra o câncer.
É importante ressaltar que o tratamento do câncer de mama deve ser multidisciplinar, envolvendo terapias combinadas e abordagens personalizadas que levem em conta o perfil de cada paciente.
O Potencial da Tirzepatida no Combate ao Câncer
O futuro da pesquisa
A tirzepatida, originalmente desenvolvida para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, agora está mostrando seu potencial em áreas além do controle glicêmico e da perda de peso. A sua aplicação no câncer de mama abre novas perspectivas para o uso de medicamentos metabólicos no tratamento de doenças complexas. Se esses resultados forem confirmados, a tirzepatida pode se tornar uma terapia de segunda linha para pacientes com câncer de mama, especialmente aqueles com obesidade.
Além disso, o estudo aumenta o entendimento de como o controle do peso e a modulação do metabolismo podem impactar a progressão do câncer, incentivando mais pesquisas sobre terapias metabólicas em oncologia.
Considerações finais
O estudo realizado pela Universidade de Michigan e apresentado na ENDO 2025 oferece uma visão promissora sobre o uso da tirzepatida no tratamento do câncer de mama. A redução de tumores em camundongos, aliada à perda de peso e à modulação do metabolismo, destaca o potencial terapêutico desse medicamento para pacientes com câncer de mama e obesidade. No entanto, mais estudos clínicos em humanos são necessários para confirmar esses resultados e estabelecer diretrizes claras para o uso da tirzepatida como parte do tratamento do câncer. As descobertas representam um avanço na pesquisa sobre a relação entre obesidade e câncer e podem abrir caminho para novas opções terapêuticas no futuro.













