A disposição da mobília dentro de um quarto pode carregar significados profundos em diversas culturas. Na Tailândia, há um costume amplamente respeitado que determina que a cama não deve ter os pés voltados diretamente para a porta do quarto. Embora para um visitante estrangeiro isso possa parecer apenas uma escolha estética, trata-se de uma prática com raízes históricas e espirituais que influenciam o dia a dia dos tailandeses.
O valor simbólico do quarto na cultura tailandesa
Mais do que um espaço para dormir, o quarto é visto na Tailândia como um ambiente íntimo e carregado de significado. Ele representa não apenas o descanso físico, mas também a proteção da energia vital. Nesse contexto, a forma como a cama é posicionada pode afetar a sensação de segurança e até a sorte de quem ocupa o espaço.
A influência da religião e da tradição espiritual
O budismo, predominante na Tailândia, molda muitos costumes locais. Dentro dessa filosofia, acredita-se que o equilíbrio e a harmonia devem estar presentes em todos os aspectos da vida, inclusive na organização do lar. A posição da cama, portanto, não é uma decisão aleatória, mas um reflexo dessa busca por equilíbrio.
As origens da superstição
Relação com rituais fúnebres
A crença tem forte ligação com práticas funerárias tradicionais. Em cerimônias mais antigas, e ainda em algumas regiões rurais, o corpo da pessoa falecida era colocado no quarto com os pés apontando para a porta, para que fosse retirado durante o cortejo. Por essa razão, dormir nessa mesma posição passou a ser associado a presságios negativos.
Influência do fluxo energético
Além da relação com a morte, há também a ideia de que essa disposição cria um canal direto para que a energia vital “escape” durante o sono. Embora não seja Feng Shui puro, o conceito dialoga com práticas semelhantes, adaptadas ao contexto tailandês.
O impacto do Feng Shui e práticas semelhantes
O Feng Shui, de origem chinesa, influencia diversos países do Sudeste Asiático, incluindo a Tailândia. Ainda que adaptado, um de seus princípios básicos — evitar o alinhamento direto entre cama e porta — permanece presente. Esse alinhamento é conhecido como posição do caixão, termo que reforça a conotação negativa da disposição.
Comparações com outras culturas asiáticas
- China: segue rigorosamente o Feng Shui e evita o alinhamento para preservar saúde e energia.
- Japão: a crença se conecta aos rituais de cremação, nos quais o corpo também é posicionado com os pés para a saída.
- Índia: no Vastu Shastra, recomenda-se evitar a posição por razões energéticas e espirituais.
Influência na arquitetura e no design de interiores

Estrutura dos imóveis
Projetos arquitetônicos na Tailândia frequentemente preveem a posição da cama já na planta, evitando que fique alinhada com a porta. Isso é visto como uma forma de prevenir desconfortos e respeitar tradições.
Estratégias de decoração
Profissionais de design de interiores costumam adotar três práticas principais:
- Evitar o alinhamento direto dos pés com a entrada.
- Garantir que a cabeceira esteja apoiada em uma parede sólida.
- Criar barreiras visuais ou físicas para quebrar o fluxo entre cama e porta.
O que fazer quando o reposicionamento não é possível
Nem sempre é viável mudar a cama de lugar, especialmente em quartos pequenos. Nesse caso, alternativas comuns incluem:
- Instalar um biombo ou divisória para bloquear a visão da porta.
- Usar um tapete ou móvel baixo para criar uma barreira simbólica.
- Pendurar cortinas leves no batente, separando o espaço de descanso da entrada.
Como a crença se mantém na vida moderna
Entre jovens tailandeses
Mesmo com a modernização e influência ocidental, muitos jovens ainda seguem essa tradição. Para alguns, é uma questão de respeito aos mais velhos; para outros, uma forma de evitar possíveis “energias ruins”.
No mercado imobiliário
Imóveis cujos quartos respeitam essa regra tendem a ser mais valorizados. Corretores chegam a destacar a posição da cama como diferencial na venda.
Superstição ou sabedoria prática?
Perspectiva psicológica
Alguns especialistas afirmam que, além da superstição, existe um fator psicológico: dormir de frente para a porta pode aumentar a sensação de vulnerabilidade, já que a entrada está sempre no campo de visão. Isso pode dificultar o sono e causar inquietação.
Uma prática que atravessa gerações
Independentemente da explicação, a tradição continua viva. Para muitos tailandeses, é melhor prevenir do que lidar com possíveis infortúnios — reais ou simbólicos.
Considerações finais
Evitar posicionar a cama com os pés voltados para a porta é muito mais do que um simples capricho cultural na Tailândia. Essa prática reúne elementos de respeito aos mortos, busca por harmonia energética e estratégias para promover o conforto e a segurança no lar.
Seja superstição, sabedoria prática ou uma combinação dos dois, o fato é que o costume permanece firme, influenciando desde a arquitetura até as escolhas pessoais de quem vive no país.













