O estado do Piauí guarda episódios que misturam literatura, memória e natureza viva. No programa Piauí de Riquezas deste sábado (15), duas histórias chamaram atenção por revelarem a força simbólica de árvores que, mais do que elementos da paisagem, tornaram-se testemunhas do tempo. Uma delas é o cajueiro centenário plantado pelo escritor Humberto de Campos. A outra é a gameleira que cresceu sobre o túmulo da poetisa Luíza Amélia de Queiroz. Juntas, as narrativas oferecem uma jornada profunda pelas raízes culturais do estado.
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O cajueiro que nasceu com a literatura
A história por trás da árvore
A primeira parada desta viagem afetiva fica na Rua Coronel José Narciso, em Parnaíba. Ali, um cajueiro majestoso mantém viva a memória de um dos maiores escritores brasileiros: Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras.
O cajueiro foi plantado em 1896, quando o autor tinha apenas seis anos, recém-chegado do Maranhão para viver em Parnaíba. A árvore, que hoje atravessa mais de um século de existência, foi eternizada na obra “Um amigo de infância”, na qual Humberto narra sua relação com o local e suas lembranças da infância piauiense.
Um patrimônio vivo
Mesmo após tantos anos, o cajueiro permanece forte, sendo visitado por moradores, turistas e admiradores da literatura nacional. Para a população, a árvore representa não apenas uma lembrança física do escritor, mas também um símbolo da passagem dele por terras piauienses, onde desenvolveu parte de sua sensibilidade literária.
Parnaíba e suas memórias literárias
A cidade, que influenciou diretamente a carreira de Humberto de Campos, também aparece em outras obras do escritor, como “Memórias”. Em suas páginas, Parnaíba ganha forma em relatos afetivos, personagens locais e lembranças que atravessaram décadas.
O encontro entre memória e natureza no Cemitério da Igualdade
A árvore que brotou de um desejo poético
Ainda na mesma rua do cajueiro centenário, outra história envolvente se revela no Cemitério da Igualdade. É ali que repousa Luíza Amélia de Queiroz, considerada a primeira poetisa do Piauí.
Segundo relatos, Luíza Amélia escreveu em vida um poema expressando o desejo de ser enterrada à sombra de uma gameleira. O que poucos imaginavam é que a natureza atenderia sua vontade de forma quase mística: uma gameleira nasceu e se desenvolveu exatamente sobre seu túmulo, tornando-se um ponto de memória e emoção para quem visita o local.
A poetisa que deu voz ao Piauí
Luíza Amélia de Queiroz deixou sua marca na literatura piauiense, abrindo caminhos para outras mulheres no cenário cultural. Sua influência permanece até hoje. Atualmente, ela é patrona da cadeira 28 da Academia Piauiense de Letras (APL) e da cadeira 24 da Academia Parnaibana de Letras (APAL), reconhecimento que eterniza seu legado literário.
Uma herança que atravessa gerações
As duas histórias exibidas no Piauí de Riquezas mostram como a arte e a natureza podem se entrelaçar de forma profunda. O cajueiro e a gameleira não são apenas árvores, mas monumentos vivos de memória, cultura e resistência.
Cada visitante que passa pela Rua Coronel José Narciso encontra, em poucos metros, dois pilares fundamentais da identidade piauiense: a literatura que cresce com o tempo e a poesia que floresce mesmo após a morte.
Conclusão
As árvores de Parnaíba não são apenas parte da paisagem — são guardiãs silenciosas de vidas que moldaram a cultura piauiense. O cajueiro de Humberto de Campos e a gameleira que brotou sobre o túmulo de Luíza Amélia de Queiroz mostram que, no Piauí, memória e natureza caminham juntas, entrelaçando passado e presente em raízes profundas. Essas histórias lembram que a identidade do estado não está apenas nos livros ou nos arquivos, mas também nas sombras que acolhem visitantes, nos troncos que resistem ao tempo e nos símbolos que continuam a inspirar. Preservá-las é manter vivo o elo entre gerações — um elo que transforma cada árvore em capítulo, e cada capítulo em herança.













