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Como cada religião enxerga o início da vida e trata o tema do aborto

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O debate sobre o aborto ultrapassa questões legais e científicas, envolvendo também aspectos morais, culturais e espirituais. A forma como cada religião entende o momento em que a vida começa tem impacto direto na sua posição sobre a interrupção da gravidez. Enquanto algumas doutrinas afirmam que a vida se inicia na concepção, outras adotam marcos distintos, como a formação de determinados órgãos, o primeiro suspiro ou até o nascimento.

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A influência da religião nas discussões sobre o aborto

Moral religiosa e decisões públicas

Em muitos países, especialmente os que possuem forte tradição religiosa, as normas sociais e jurídicas sobre o aborto estão ligadas a crenças espirituais. Compreender como cada tradição religiosa interpreta o início da vida é essencial para analisar as diferentes opiniões sobre o tema e seus reflexos nas políticas públicas e decisões individuais.

Cristianismo

Igreja católica: a vida começa na fecundação

A Igreja Católica Romana sustenta que a vida humana deve ser protegida desde o instante em que o óvulo é fertilizado. Essa convicção se baseia na ideia de que cada ser concebido já possui alma e dignidade humana plena.

Princípios teológicos

  • A proteção da vida desde a concepção é considerada um mandamento moral.
  • O aborto é considerado moralmente inaceitável em qualquer fase gestacional.

Em casos extremos

Mesmo em situações de violência sexual, malformação fetal ou risco à saúde da mãe, a posição oficial da Igreja segue sendo contrária à prática do aborto.

Igrejas protestantes: visões diversas

O protestantismo é composto por diversas denominações, e por isso não possui uma visão única sobre o aborto. Igrejas evangélicas mais conservadoras tendem a seguir a mesma lógica da Igreja Católica, já outras, de orientação liberal, adotam abordagens mais flexíveis.

Denominações conservadoras

  • Rejeição do aborto em qualquer fase da gravidez.
  • Defesa da vida desde a concepção como valor absoluto.

Denominações progressistas

  • Admissão do aborto em casos específicos, como estupro, risco de vida ou inviabilidade fetal.
  • Algumas correntes apoiam o direito de escolha da mulher, desde que com base em orientação espiritual e acompanhamento pastoral.

Judaísmo

Início da vida e tradição rabínica

No judaísmo, a vida é sagrada, mas o feto não é considerado uma “vida plena” até o nascimento. A maioria das correntes judaicas aceita o aborto em determinadas circunstâncias, especialmente quando há risco à vida da gestante.

Talmude e interpretação

  • Até o 40º dia de gestação, o embrião é visto como “água”.
  • O aborto é permitido se a gravidez coloca a mãe em perigo.
  • Após o nascimento da cabeça (ou maioria do corpo), o bebê é considerado uma vida plena.

Diferenças entre correntes

  • Judaísmo ortodoxo: mais restritivo, mas permite o aborto por necessidade médica.
  • Judaísmo reformista e conservador: mais aberto à decisão da mulher.

Islamismo

O momento da alma: a partir do 120º dia

No Islã, a maioria das escolas jurídicas defende que a alma é soprada no feto no 120º dia da gestação (cerca de 17 semanas). Até esse ponto, há maior flexibilidade para o aborto, dependendo do motivo.

Sharia e posicionamentos

  • O aborto antes dos 120 dias pode ser permitido em casos de estupro, má-formação ou risco à mãe.
  • Após esse prazo, só é aceito se a vida da gestante estiver em risco.
  • Em geral, o aborto por conveniência é proibido.

Diferença entre escolas

  • As escolas Hanafi e Maliki oferecem visões ligeiramente distintas, mas todas reconhecem a gravidade do ato após a “insuflação da alma”.

Hinduísmo

Crença no carma e respeito à vida

O hinduísmo considera o aborto uma violação do dharma (ordem moral). Acredita-se que a alma entra no corpo no momento da concepção, o que torna o aborto um ato de violência contra um ser com carma próprio.

Princípios espirituais

  • A vida começa na fecundação.
  • O aborto é geralmente desencorajado, exceto em casos de risco à vida da mãe.

Prática social na Índia

Apesar da posição religiosa, o aborto é legalizado na Índia desde 1971, mostrando certa dissociação entre preceito espiritual e política pública.

Budismo

Princípio da não violência e consciência do renascimento

O budismo prega a não violência (ahimsa) como um dos pilares éticos. A maioria das tradições budistas considera que a consciência entra no embrião no momento da concepção, e, portanto, o aborto equivale à interrupção de uma vida em potencial.

Avaliação caso a caso

  • Embora seja desaconselhado, o aborto pode ser tolerado em contextos excepcionais.
  • A intenção e as circunstâncias são levadas em consideração no julgamento ético do ato.

Religiões afro-brasileiras

Flexibilidade e sabedoria ancestral

Religiões como o candomblé e a umbanda não têm doutrinas rígidas sobre o início da vida. Em geral, o aborto é tratado de forma individualizada, levando em conta os orixás, a ancestralidade e a orientação dos líderes espirituais.

Prática ritual

  • A decisão é espiritualizada e acompanhada de rituais para proteger a mulher e o espírito não nascido.
  • O acolhimento da mulher é priorizado, sem dogmas absolutos.

Espiritismo

Reencarnação e proteção à vida

O espiritismo, codificado por Allan Kardec, acredita que a vida começa na concepção, momento em que o espírito se liga ao corpo. O aborto, portanto, representa a interrupção de uma reencarnação planejada.

Consequências espirituais

  • O aborto é visto como uma infração à Lei Natural.
  • Pode acarretar consequências cármicas para os envolvidos.
  • Entretanto, o espiritismo também prega a compreensão e a evolução moral, e não condena sem acolher.

Considerações finais

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Edição – Bestofweb/Canva

O entendimento do início da vida e do aborto é profundamente moldado por aspectos religiosos e espirituais. Enquanto algumas religiões consideram a concepção como o ponto inicial da vida, outras adotam marcos variados, influenciando suas posturas sobre o aborto.

Embora a maioria das tradições valorize a vida, muitas reconhecem a complexidade do tema e a necessidade de analisar cada caso com empatia e sabedoria. Em sociedades plurais, compreender essas nuances pode contribuir para o respeito mútuo e a construção de políticas públicas mais justas e equilibradas.

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